Em Bento, Leite conversa com prefeitos e debate caso de trabalho análogo à escravidão
Encontro dos prefeitos da Amesne com o governador Eduardo Leite ocorreu na manhã desta sexta-feira, 17/03, no Salão Nobre da Prefeitura de Bento Gonçalves
Na manhã desta sexta-feira, 17/03, o governador Eduardo Leite esteve em Bento Gonçalves para participar de uma reunião com os prefeitos da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne) para debater o caso de trabalho análogo à escravidão que ocorreu no município.
Durante uma coletiva de imprensa no Salão Nobre da Prefeitura, realizada logo após a reunião, o governador destacou que o encontro junto com as demais lideranças ocorreu justamente para ser feito um alinhamento de comunicação e de posicionamento para defender a região.
“Povo forjado no suor, no esforço, que sabe o valor do trabalho e justamente por isso fica indignado quando alguém não dá valor ao trabalho e tratam de forma indignada quem trata trabalhadores de forma indevida”, reiterou.
Eduardo Leite reforçou que este é um momento em que tanto a comunicação quanto o posicionamento precisam ser bem trabalhados, aliados em conjunto com as ações já estão sempre colocadas em prática.
“As empresas (vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi) fizeram a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público, estão pagando, financeiramente tendo consequências, as investigações estão acontecendo e vão se apurar responsabilidades e dar consequência a quem tenha participado desse episódio lamentável e reprovável”, afirmou.
O governador acrescentou que o Estado também realizou a assinatura de um acordo de cooperação técnica com o Ministério Público do Trabalho (MPT), na manhã desta sexta-feira, 17/03, para estabelecer mútua cooperação para erradicar o trabalho em condições análogas à escravidão e o tráfico de pessoas, além de proteger os direitos da população mais vulnerável.
“Então, o Rio Grande do Sul dá a sua resposta, não aceita o que aconteceu, dará a devida consequência, por isso dá o conforto aos consumidores, aos turistas que aqui vem, de que a Serra Gaúcha e nossa produção vitivinícola não aceitam, não toleram e garante, portanto, condições de trabalho dignas para que todos se sintam seguros em consumir nossos produtos e vir desfrutar dos bons momentos que a Serra Gaúcha proporciona”, salientou.
Questionado se o Estado já sentiu algum impacto negativo após a ampla repercussão do caso, Leite respondeu que não foi identificado e que está sendo trabalhado para que não haja este tipo de consequência. Além disso, ele ressalta que seria injusto se ocorresse algum tipo de movimento de boicote.
“A consequência no consumo aconteceria justamente se o Poder Público demonstrasse pouca atuação, aí os consumidores seriam levados a ter algum tipo de ação como comunidade, como sociedade em relação às marcas, as vinícolas e aos produtores, o que seria injusto, porque milhares de produtores são envolvidos com essas empresas, fazendo o certo, do jeito certo, produzindo corretamente, respeitando a legislação trabalhista, respeitando as condições dignas de trabalho”, afirmou.
Acordo de cooperação entre Estado e MPT
O governo do Estado assinou, na manhã desta sexta-feira, um acordo de cooperação técnica com o Ministério Público do Trabalho (MPT). O documento foi assinado pelo governador Eduardo Leite, pelo procurador-geral do Trabalho, José de Lima Ramos, e por secretários de Estado, em solenidade realizada no Palácio Piratini.
Sobre o acordo, o governador explicou que foi assinado para, em primeiro lugar dar apoio à fiscalização.
“O Estado entra com sua estrutura, com tudo aquilo que nós podemos ajudar o Ministério Público do Trabalho a cumprir seu papel”, pontuou.
Ainda de acordo com Leite, em segundo lugar, o acordo prevê trabalhar de forma cooperada em orientação.
“Temos que trabalhar também na orientação aos produtores, às empresas, às cooperativas, para que possamos garantir condições adequadas para que este caso nunca se repita. Vamos fazer esforços conjugados para se desenvolver um plano de trabalho com o Ministério Público do trabalho para que tenhamos as condições de trabalhar conjuntamente”, finalizou.
Já o prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, afirmou que esta era uma reunião muito aguardada por todos os prefeitos da região, mas particularmente, por Bento.
Siqueira também ressaltou que existe uma cobrança, de prefeitos, para que se tenha uma participação mais efetiva por parte do governo estadual na defesa dos agricultores e das vinícolas, além da história de toda região. “Então, a gente precisa demonstrar para o governo isso”, garantiu.
“A gente precisa ter essa defesa do Estado. A Serra Gaúcha faz parte do Rio Grande do Sul e essa força da Serra a gente precisa demonstrar para o governador e fazer com que governo do Estado participe junto dessa luta para a gente reconquistar a nossa imagem e mostrar o valor da nossa população”, destacou.
Além disso, Siqueira também acrescentou que as ações de fiscalizações foram ampliadas no município, com uma força-tarefa para verificar alojamentos e tentar regularizar a situação dos trabalhadores.
“Todos os dias a gente vai em algum alojamento, em algum aluguel de casa e verifica situações, mas isso não pode acontecer só em Bento Gonçalves, isso é um problema da região, a gente tem que ter todos os municípios trabalhando junto. Por isso que não adianta a gente trabalhar isoladamente, a gente precisa ter uma força do governo do Estado para unificar ações”, ressaltou.
Por fim, Siqueira destacou que a empresa terceirizada que contratou os 207 trabalhadores, causou um grande problema para toda a cadeia de vitivinicultura.
“Primeiro para essas pessoas que vieram trabalhar aqui, mas todos os agricultores também são vítimas, porque estão preocupados com sua produção, com seus cem anos de história que está aqui em Bento Gonçalves, isso é um grande problema para todas as cantinas e vinícolas. Todos são vítimas desse processo, cada um sofre de alguma maneira”, finalizou.
Estiveram presentes no encontro, entre os 28 prefeitos que integram a Amesne, o prefeito de Garibaldi, Sérgio Chesini, o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, a prefeita de Santa Tereza, Gisele Caumo e o prefeito de Carlos Barbosa, Everson Kirch.