Em busca de ajuda para sobreviver
O preconceito, problemas de saúde e a falta de recursos financeiros têm afetado a qualidade de vida da família Santos, moradora do bairro Municipal, considerado um dos mais pobres de Bento Gonçalves Na casa de dois pisos, a fiação elétrica é precária, as janelas estão quebradas e sem os vidros, o teto não possui forro e a porta principal é improvisada. Os três moradores, entre os quais uma criança de cinco anos, passam por dificuldades para sobreviver. Com a ajuda dos vizinhos e doações da comunidade, Maikeli dos Santos, de 26 anos e Salete Maria Marques, de 54 anos, conseguem levar a vida sorrindo e manter a esperança de que conseguirão superar a pobreza.
A jovem Maikeli sofre de obesidade mórbida e já procurou emprego em diversos locais, mas em função do problema de saúde é tachada como incapaz, sem ao menos ter uma oportunidade de provar o contrário. Ela também fica dividida ao ter que sair de casa para trabalhar pois para isso teria que deixar a mãe, que é cega, sozinha em casa. A matriarca da família sofre com complicações decorrentes do diabetes, problemas cardíacos, embolia pulmonar, depressão e, como se não bastasse, teve dois derrames que prejudicaram sua mobilidade. “Hoje nossa renda é de R$ 540 por mês. Eu faço alguns trabalhos de manicure em casa, meu namorado tem nos apoiado, quando precisamos, e contamos muito com a ajuda da comunidade”, conta Maikeli. Para sobreviver, elas recebem cestas básicas de voluntários que atuam no bairro e também contam com apoio do outro filho de Salete que, apesar de não morar mais com elas, contribui com o pagamento de algumas despesas da família, como água e luz. Salete ainda necessitaria tomar medicação constante para a embolia pulmonar. O tratamento foi interrompido porque a família não tem condições de adquirir o medicamento, que custa R$ 170 a caixa.
Apesar de todos os problemas de saúde, Salete não conseguiu se aposentar. Maikeli aguarda há seis anos para realizar uma cirurgia bariátrica através do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ela, tanto a obesidade quanto o diabetes são condições hereditárias. Vários irmãos da sua mãe tiveram o mesmo problema. Ela conta que, apesar de fazer esforço para perder peso, não consegue atingir o objetivo. “Uma vez a médica não acreditou que eu estivesse me esforçando e me internou durante 15 dias no hospital. Mesmo com controle na alimentação e exercícios, não consegui perder peso. Aí indicaram que eu fizesse a cirurgia”, relata. Ela acredita que ainda está na fila de espera da cirurgia por não possuir nenhuma outra doença associada à obesidade. “Os médicos afirmam que meu caso não é urgente”, conta, visivelmente indignada com a situação.
Casa precária
A casa da família é própria, mas não foi finalizada. As moradoras contam que em função da instalação elétrica precária, o local já pegou fogo duas vezes. As chamas foram controladas e não houve feridos, mas a preocupação com que algo mais grave aconteça é constante. “Nosso maior desejo é poder terminar a construção, fechar os buracos, colocar janelas novas e uma porta com fechadura na frente de casa. Quando chove, entra água e no inverno é muito frio aqui dentro, o que acaba piorando o estado de saúde da minha mãe”, conta Maikeli. A família necessita a doação de três janelas simples e uma basculante, uma porta para entrada da casa, forro para colocar na cozinha e alguém que possa refazer a instalação elétrica.
Doações
O Centro Espírita Nossa Casa centraliza as doações entregues a famílias de três bairros de Bento Gonçalves, entre os quais o Municipal. A parceria com a Associação de Moradores, através do voluntário e vice-presidente José da Silva (conhecido como Zé Paraná) já dura mais de cinco anos. Itens como roupas, calçados, alimentos, cobertores, colchões, travesseiros, móveis e eletrodomésticos são recebidos na sede da entidade (rua Salgado Filho, 907, bairro São Bento) aos sábados pela manhã. A coleta das doações de maior porte pode ser agendada pelo e-mail nossacasa907@gmail.com. Voluntários realizam a triagem do material e a distribuição para as famílias monitoradas pelo programa – elas recebem ajuda durante períodos mais críticos, como logo após a perda do emprego, e são visitadas periodicamente para que, assim que tiverem condições, voltem a se sustentar, repassando o auxílio para outros também necessitados. “Isso evita acomodação e incentiva as pessoas a ajudarem a si mesmas, não vivendo exclusivamente de assistencialismo. Ao mesmo tempo, esse procedimento reduz as chances de injustiça. Isso porque se não houver uma divisão rígida e equilibrada, uma família que gera comoção por algum motivo pode receber uma grande quantidade de donativos em um mês, mas ficar desassistida no próximo. Sem contar que existem centenas de outras pessoas que também precisam e merecem ser igualmente ajudadas”, conta Jaime Milan, um dos voluntários da equipe do Nossa Casa.
Reportagem: Katiane Cardoso
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