Em discurso após decisão de Facchin, Lula se diz ‘livre da Lava Jato’

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez seu primeiro pronunciamento nesta quarta, 10/03, após o voto do Ministro Relator Edson Facchin favorável à anulação de todas as suas condenações na Operação Lava Jato e que o deixaria elegível para 2022. Lula se disse "livre" da Lava Jato. "Não tenham medo de mim", disse o ex-presidente, que adotou um tom de candidato apesar de afirmar que "seria pequeno" se estivesse pensando na eleição presidencial neste momento.

A fala aconteceu na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Na segunda, 08/03, o ministro Edson Facchin, relator da Lava Jato no STF, declarou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar quatro ações relativas ao ex-presidente, anulando todas as decisões de Moro nos respectivos processos, devolvendo a Lula seus direitos políticos e o tornando apto a disputar eleições. A decisão atende, quatro anos depois, as alegações da defesa do ex-presidente, que sempre argumentou não ser de competência da 13ª Vara Federal julgar os casos, já que os mesmos não têm relação direta com a Petrobrás – alvo inicial da Lava Jato.

O plenário do STF ainda deve analisar a decisão de Fachin. A Justiça do Distrito Federal decidirá se aceita ou não as denúncias. Lula ainda é réu em outras seis ações penais, que tiveram origem em outras operações. 

Lula agradeceu Fachin pela decisão, mas lamentou que tenha sido tomada só agora. "Não sei por que a Corte só decidiu agora, entramos com recurso em 2016. Mas passou por todas as instâncias do Poder Judiciário, que tem sua morosidade. O meu tempo não era o tempo deles", afirmou. 

O petista disse que não vai descansar enquanto Moro não for considerado suspeito. "Nós vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito porque ele não tem o direito de ser o maior mentiroso da história do Brasil e ainda ser considerado herói. Deus de barro não dura muito tempo". O julgamento da suspeição de Moro está empatado em 2 a 2 na Segunda Turma do STF. O ministro Kassio Nunes Marques pediu mais tempo para declarar seu voto. 

Questionado se será candidato nas próximas eleições, Lula afirmou: “Eu seria pequeno se estivesse pensando em 2022 nesse instante”. Ele deixou em aberto, ainda, a possibilidade de uma candidatura própria do PT ou uma frente ampla com outras legendas de esquerda, e disse que o partido deve, agora, “percorrer o País” e ouvir a população, o que o ex-prefeito Fernando Haddad já estaria fazendo. Ele disse estar convencido da possibilidade de alianças. 

O ex-presidente afirmou que a Lava Jato "desapareceu" de sua vida. "Mas não espero que as pessoas que me acusavam parem de me acusar. Estou satisfeito que tenha sido reconhecido aquilo que meus advogados vem dizendo há tanto tempo. Tivemos 100% de êxito na decisão do Fachin. Por que ele não fez isso antes? Eu sei que é constrangedor muita gente que me acusou parar de me acusar. Quando você envereda no caminho da mentira é difícil voltar atrás. Mas a verdade venceu e vai continuar vencendo. Eu agora quero dedicar o resto de vida que me sobra para voltar a andar por esse País para conversar com esse povo."

As três ações da Lava Jato contra Lula – os casos do tríplex, do Sítio de Atibaia e da venda de imóveis e terreno para o Instituto Lula – ainda estão em andamento, apesar das condenações terem sido anuladas. Os processos serão enviados para a Justiça do Distrito Federal. Especialistas citam o risco de prescrição das acusações, o que ainda não ocorreu.

 

Informações: Estadão Conteúdo