Vindas de diferentes partes do estado em busca de melhores condições de vida, as 23 famílias da etnia kaingangue de Bento Gonçalves tiveram sua situação de vulnerabilidade prévia acentuada pela pandemia. Os indígenas sobrevivem principalmente da confecção e venda do artesanato, atividade fortemente impactada pela baixa movimentação nas estradas e ruas do município.
Os decretos municipais de fechamento de comércio também afetam a oferta de empregos temporários, como no setor de construção, colheita de uva e outros postos em geral ocupados pelo grupo. Diante da situação, um grupo da sociedade civil organizou uma campanha de arrecadação de alimentos, cobertores, suprimentos e recursos financeiros para as famílias kaingangue. As doações estão sendo organizadas e recebidas pela campanha Sopão Solidário, iniciativa da sociedade civil criada para apoiar pessoas em situação de risco na pandemia.
O material arrecadado vai ser destinado a 125 pessoas que ocupam um terreno do bairro São Roque desde 2013, às margens da BR-170, em local denominado como aldeia indígena Sõrmag. “Tem gente que consegue outros empregos, mas aí estão parando com a bandeira preta. Por enquanto, estamos em casa, mas precisamos de muita coisa”, afirma o cacique da aldeia, Isaías da Silva. “Não estamos recebendo mais ninguém, só quem traz doação”, complementa.
Vacinação de indígenas
Apesar das dificuldades econômicas intensificadas pela disseminação do vírus, os efeitos da crise sanitária foram aliviados para o grupo no último mês. Junto de profissionais de saúde, idosos, pessoas com comorbidade e outras populações vulneráveis, as populações indígenas estão entre os grupos prioritários da campanha nacional de vacinação.
A inclusão dos povos como prioritários atende decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, em resposta a uma ação protocolada por entidades indígenas pela situação de risco dos povos, determinou que o governo federal adotasse medidas de proteção dos povos originários contra a COVID-19.
Sobre a campanha Sopão Solidário
O Sopão Solidário surgiu da união de amigos que sentiram a necessidade de amparar as famílias mais vulneráveis do município diante dos efeitos da pandemia. Em 2020, a campanha contabilizou a elaboração de mil sopas e a distribuição de mais de 150 cestas básicas, mais de 130 brinquedos, R$ 3,5 mil, roupas, cobertas, itens de higiene e de proteção contra a COVID-19.
Neste ano, o Sopão então montou a campanha para o Dia do Índio, data celebrada no dia 19 de abril, para angarir materiais de construção, alimentos, cobertas e outros suprimentos para a aldeia indígena do município. Procurando arrecadar materiais de construção, alimentos, cobertas, roupas e aparelhos domésticos para a aldeia instalada no município. O grupo receberá doações até o dia 10 de maio por meio do Instagram @sopao.solidario_bg ou pelo WhatsApp (SOMENTE MENSAGEM) (54) 9 9992-7333 com Débora ou (54) 9 9184-3568 com Ely Gabriel.
Para conhecer mais sobre a comunidade kaingangue em Bento Gonçalves e as dificuldades dos indígenas durante a pandemia, é possível assistir o documentário “Sõrmag: ser índio em Bento Gonçalves (RS) durante uma pandemia”, produzido em 2020 na aldeia pela jornalista Júlia Beatriz de Freitas e pela cientista social Solana Irene Loch Zandonai: https://youtu.be/CHGjFktMQeU.
Matéria: Júlia Beatriz de Freitas
Fotos: Renata Pasini