Empresários de Bento investem em medidas de economia para driblar conta de luz salgada

Desde junho, brasileiros estão precisando pagar tarifas mais caras devido ao acionamento do patamar 2 da bandeira vermelha pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A medida é adotada quando o custo de produção de energia aumenta e vem refletindo a mais grave crise hídrica já registrada no país nos últimos 91 anos, devido aos baixos níveis de chuva em todo o país. Os baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas faz o governo acionar as usinas termelétricas, que são mais caras e, também, mais poluentes.

Mas além do acionamento do patamar mais alto da cobrança de tarifas extras, os consumidores brasileiros estão precisando lidar com reajustes e mudanças desse patamar. Na terça-feira, 31/08, foi anunciada a criação de uma nova bandeira tarifária na conta de luz, chamada de bandeira de escassez hídrica. A taxa extra passou a ser de R$ 14,20 para cada 100 kilowatt-hora (KWh) consumidos e já entrou em vigor a partir do dia 01/09, permanecendo vigente até abril do ano que vem.   O novo patamar representa um aumento de R$ 4,71, cerca de 50%, em relação à bandeira vermelha patamar 2, cujo valor era de R$ 9,49 a cada 100kWh.

Por conta disso, os consumidores estão precisando adotar medidas de racionamento de energia, tanto em residências quanto em empresas. Em setores como hotéis, salões de beleza, escritórios e instituições de saúde, os empresários estão precisando pensar cautelosamente o consumo de energia, implantando técnicas e estratégias para evitar que a conta de luz se torne um problema mais sério nos próximos meses.

Em Bento Gonçalves, o Hotel Somensi decidiu investir na microgeração de energia, com a implantação de painéis solares em dezembro do ano passado. “Já percebemos uma redução de 60% (nos meses de inverno, que são chuvosos, a geração é menor). Se não tivéssemos investido na microgeração de energia, estimamos que nosso custo mensal teria um aumento de 17%. Mas ainda estamos fazendo alguns ajustes no sistema, pois desejamos ter uma redução de até 95%. É um investimento de longo prazo”, relata a gerente do hotel, Karen Filippi Somensi. 


Sistema de aquecimento solar e painéis solares no Hotel Somensi. Foto: Divulgação
 

Antes da pandemia, o hotel costumava ter um custo mensal de R$ 2.500 na conta de luz. Durante a pandemia, mesmo com o fechamento e as restrições impostas em decreto estadual e municipal, fazendo o fluxo de clientes despencar para 90% de abril a novembro de 2020, a conta ficou em R$ 1.500. “Desde então já procuramos alternativas para reduzir esse valor”, conta. Além dos painéis solares, a equipe do hotel passou a utilizar iluminação 100% LED e optou pela utilização de eletrodomésticos mais econômicos. 

No Grupo Tomasi, empresa que engloba serviços de contabilidade, relações humanas, advocacia, administração de condomínios e venda de imóveis, a instalação de painéis solares também foi uma das medidas adotadas para reduzir gastos. “No período de verão praticamente zeramos as contas”, relata o proprietário, Vicente Tomasi. A medida foi posta em prática em julho do ano passado, a partir de um investimento de R$ 90 mil. “Neste um ano, tenho um cálculo estimado de que economizamos R$ 30 mil. Mas o cálculo de retorno de investimentos estou prevendo entre 36 e 48 meses”, explica. 

Outra vantagem dos painéis solares destacada por Tomasi é a geração de energia benéfica ao meio-ambiente. “É uma alternativa limpa, que não agride a natureza”, comenta. 


Painéis solares no Grupo Tomasi. Foto: Divulgação
 

Na academia New Time Personal, o proprietário, Gian Marcos Corbelini Bissani, relata que foi realizada uma reunião com a equipe assim que os jornais passaram a noticiar o aumento na conta de luz. “Ficou acordado que sempre que os espaços não estiverem sendo utilizados, os professores devem desligar as luzes. Quando os professores saem da academia, também são desligadas todas as luzes e equipamentos, com exceção do freezer”, conta Bissani. 

Mesmo com as medidas de economia e com a adoção da iluminação de LED, o proprietário revela que houve aumentos significativos nas contas dos últimos meses. No estabelecimento, os equipamentos que mais consomem energia, conforme Bissani, são as esteiras e os televisores. “A gente estava gastando em média R$ 800. Com o aumento, mesmo com as estratégias adotadas, subiu para R$ 1.000. E no verão vínhamos gastando em média R$ 1.600, então já estou me preparando para esse valor praticamente dobrar”, lamenta. “Mas eu nem culpo esse aumento, porque é consequência das ações humanas”, comenta, em relação à crise hídrica vivenciada no país. 


Na academia, os aparelhos que mais consomem energia são as esteiras e os televisores. Foto: arquivo pessoal
 

Analisando a situação do Brasil e das empresas do município, a gerente do Hotel Somensi, Karen Somensi, acredita que a microgeração de energia realmente seja tendência para auxiliar o empresário a contornar esse momento difícil. “Mas é preciso ter em mente que é um investimento de longo prazo”, ressalta. Apesar da relevância dessa medida, Karen ainda acredita que a melhor forma de reduzir gastos seja a mudança de hábitos. “Apagar as luzes dos cômodos quando sair; desligar os aparelhos quando não estiver utilizando (TV, computador); desconectar os aparelhos da tomada quando não estiverem em uso, a exemplo do carregador de celular e observar a potência dos eletrodomésticos no momento da compra, por exemplo”, cita. 


Recepção do hotel com iluminação 100% LED. Foto: Divulgação