Ensaio sobre a representatividade do herói na sociedade moderna
Surgem fatos incontestáveis que reafirmam a marginalidade de um governo. Logo, percebemos um debate sobre qual partido roubou mais. “Roubar mais” se torna, então, a justificativa dos que defendem a permanência do atual governo. Uma falha grotesca então derruba a máscara dos que usam tal argumento, pois alguém que justifique suas escolhas através do “menos pior” somente reafirma sua própria falha de caráter. Essa é uma verdade indubitável.
Assassina-se o mito do herói. E qual o princípio que dita este herói? Talvez a qualidade de colocar o outro acima dele próprio. O herói dá a vida pela sua causa, ele prefere morrer na verdade a viver na mentira. O herói, através do sacrifício, perpetua seu nome na história e ajuda a moldar os valores da sociedade. Joseph Campbell demonstra claramente isso em “O Poder do Mito” e “O Herói de Mil Faces”.
Aprofundo-me então na questão e faço um comparativo entre os antigos heróis e os atuais. As histórias passadas de pai para filho. Os contos gregos. Os corredores de Alexandria que deviam, em grande parte, vangloriar a jornada desses heróis. E as histórias em base seguem as mesmas: basta você ir ao cinema e verá lá aquele que parte, cresce durante a aventura e retorna disposto a morrer pela honra, pois só a honra traz a real glória.
A sociedade não percebe o poder deste mito. Você bem provavelmente não perceba o poder desse mito que constantemente lhe influencia. O herói é portador do sacrifício. O herói ensina o homem a amar sua mulher e não a trocá-la por outras, mais jovens e belas. O herói ensina o poder de um pai presente, um pai que dá os exemplos através de suas atitudes. Para ser um herói, não é necessário pular em frente a uma bala, entrar em um prédio em chamas ou se vestir de Batman para combater o crime durante a noite. Ser um herói consiste em ser íntegro, resistir às tentações por saber que implicam em magoar outros. A atitude heroica consiste principalmente na abdicação de um extinto animalesco em prol da consciência de que aquele ato prazeroso para mim pode causar extrema dor em outros.
Não é à toa que vivemos em uma geração de gente brocha. Não é difícil prever a covardia das próximas gerações. Não há mais exemplos de heróis. Você liga a teve e vê um apresentador de Big Brother chamar qualquer estúpido participante de herói. Você ouve um debate político e vê pessoas justificando as falhas dos seus através das falhas de outros. O caráter do herói se tornou um amontoado de covardia que se vale de varrer a sujeira sempre para o outro lado.
Surge essa fundamental questão: quem são nossos heróis atuais? Na política, Lula surgiu como sendo o pobre, a vítima, o lutador vencendo até mesmo a deficiência física. Lula foi o ícone da mudança pelo simples fato de agir como pobre e humilde. Não demorou a arrecadar fãs. Esses que defendem o bandido Lula são seus filhos. E como podem filhos ter caráter quando criados por um pai sem dignidade?
O herói se personifica na sociedade, ele lapida os pilares da dignidade. Quando carecemos de exemplos, fracassaremos nas atitudes. Quando aqueles que deveriam ser o exemplo se tornam os bandidos, a sociedade desaba, o marido deixa de ser um bom marido, o pai falta para seu filho.
Faltam heróis nos dias atuais? Não. O que nos falta é aprender a reconhecer esses verdadeiros heróis. Enquanto nos curvarmos para uma pessoa pelo simples fato dela não ter um dedo, falar errado e se declarar pobre; enquanto ligarmos a TV vangloriando jogadores de futebol; enquanto não nos enojar alguém chamar de heróis participantes de um mero programa de TV não haverá chance para uma real mudança. Nós somos aquilo que admiramos.