Entidades e prefeitura de Bento se reúnem na semana que vem para discutir decreto de situação de emergência

Os produtores gaúchos têm enfrentado dois grandes problemas em 2020: a estiagem e a pandemia do novo Coronavírus. Por um lado, os altos índices de demissão, a redução de salários e as restrições de circulação têm impulsionado uma redução nas vendas de diversos alimentos. Com menos restaurantes e supermercados comprando os produtos locais, os agricultores estão registrando dificuldade de escoamento de seus produtos. “A demanda por hortaliças está menor, porque os restaurantes ficaram muito tempo fechados e estão recebendo menos clientes, assim como os mercados. Quem entregou uva nas vinícolas está recebendo os pagamentos atrasados. E também teve a feira do produtor, que ficou praticamente um mês parada”, analisa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Cedenir Postal. 

Aliada à realidade da pandemia, a estiagem tem sido outro sinônimo de prejuízo a alguns agricultores. Mesmo sendo considerada uma das regiões com menos registros de perdas, a Serra Gaúcha concentra uma parcela significativa de profissionais precisando de auxílio financeiro para dar sequência ao seu trabalho. “Nessa semana deu uma chuva boa, mas que ainda não resolveu todo o problema”, afirma Postal. Em algumas comunidades do interior, como na Linha Zenith, em São Pedro, Faria Lemos e na Eulália, a prefeitura de Bento Gonçalves está tendo que levar água, devido à seca em poços artesianos. Em outras localidades como no Vale Aurora e nas linhas Alcântara e Colussi, a Secretaria de Agricultura alerta para o consumo consciente de água, a fim de evitar o desabastecimento. 


 

Ainda segundo Postal, as frutas cítricas são as mais afetadas até o momento, como a laranja e a bergamota. “Não se sabe se a fruta irá se recuperar. Pode ser que ela dê uma qualidade inferior, aí os produtores terão que vender por um preço inferior. Certamente vai ter uma perda considerável”, lamenta.

Por conta desse cenário, Cedenir avalia que o decreto de situação de emergência seria ideal para ajudar os agricultores. “A gente está auxiliando os produtores com a prorrogação de seus financiamentos, por meio de uma instrução normativa do estado. Entretanto, para isso, nós precisamos que um técnico vá até a localidade e constate os prejuízos do agricultor. Se o município decretar situação de emergência, essas parcelas são prorrogadas automaticamente”, explica Cedenir. 

De acordo com o coordenador da Emater, Thompson Didoné, para que seja decretada situação de emergência, é necessário um consenso entre as 16 entidades que fazem parte do Conselho Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (COMAPA). “Nós entendemos que teve perdas, mas a quantificação a gente ainda vai conversar. O laudo técnico de perdas é a Emater que faz, mas nunca de maneira monocrática. Já fizemos uma pré-avaliação no mês passado, mas [as entidades] acharam prematura. Agora vamos fazer de novo. O decreto mesmo é a prefeitura que avalia”, explica. 

De acordo com o secretário do Desenvolvimento da Agricultura, Dorval Brandelli, a próxima reunião do Conselho será na quarta-feira, 13/05. “Estaremos reunidos com todas as entidades pedindo que elas nos tragam suas emendas em termos de perdas, de resultados e análises sobre a seca”, comenta. Ainda segundo o secretário, a prefeitura não está se manifestando a favor ou contra o decreto, e que vai levar em consideração as demandas das 16 entidades – o que inclui sindicatos, bancos, cooperativas, o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), a Embrapa e a Emater. 

De acordo com os últimos dados disponibilizados pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul, 346 cidades gaúchas já registraram danos humanos em consequência da estiagem. Desse total, 332 possuem decreto de situação de emergência, sendo que 235 já foram homologados pelo governo estadual e 212 pelo governo federal. 

Foto: Eduarda Bucco
 

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