ENTREVISTA: “Não adianta ter ginásio e não ter uma equipe de alto rendimento”
Depois de não conseguir alcançar o objetivo principal da temporada, que era se classificar entre os oito melhores na Superliga nacional, o Bento Vôlei começa a planejar seu futuro. Em entrevista ao SERRANOSSA, o diretor-executivo do Bento Vôlei, Rafael Fantin, o Dentinho, aponta os problemas burocráticos enfrentados no início da temporada – como a não liberação dos recursos do Pró-esporte em tempo hábil e, por consequência, o início tardio da montagem da equipe e dos treinamentos – como principais motivos para a não classificação. O dirigente também falou sobre as tratativas e condições de uma possível concessão do Ginásio Municipal de Esportes ao Bento Vôlei. Confira os principais trechos:
SERRANOSSA – O grande objetivo do Bento Vôlei para a temporada era a classificação entre os oito melhores na Superliga Nacional. A que motivos a diretoria atribui a não conquista deste objetivo?
Dentinho – Na verdade, a classificação entre os oito era o grande objetivo do Bento Vôlei, mas da forma como tudo aconteceu, esse objetivo seria praticamente um título, se fosse alcançado. Tivemos inúmeros desafios na questão de recursos, começamos a temporada de forma tardia, entre outros motivos. Na minha avaliação, ficamos no patamar que podíamos. Poderíamos ter ido melhor sim, mas diante de todos os problemas que enfrentamos, também poderia ter sido pior. Terminamos em 9º lugar, três pontos atrás do oitavo, e sabemos que alguns detalhes poderiam ter ditado nossa classificação. Acreditamos que a próxima temporada não pode ser assim, porque é muito desgastante trabalhar dessa forma.
SERRANOSSA – Vocês iniciaram a temporada sem os importantes recursos do Projeto Pró-Esporte e arriscaram diante da promessa de que, na segunda fase da competição, eles estariam disponíveis para o Bento Vôlei. Afinal, como ficou essa situação?
Dentinho – O projeto foi aprovado semana passada. Então, passamos a temporada inteira sem esses recursos, sendo que já tínhamos todo o projeto captado. Ou seja, o Bento Vôlei tinha os patrocínios, só faltava a parte legal do governo do Estado o que não aconteceu no tempo que gostaríamos e isso acabou nos prejudicando.
SERRANOSSA – Com o fim da temporada, quais são os planos do Bento Vôlei?
Dentinho – O Bento Vôlei não para. Vamos liberar os atletas e, logo em seguida, já começam as tratativas de manutenção da equipe e da comissão técnica. Vamos fazer toda a prestação de contas aos patrocinadores e parceiros, relatórios de mídia e uma aproximação em busca de parceria para a próxima temporada. Falar sobre quem fica ou quem sai é muito precoce, pois ainda precisamos fazer uma avaliação completa e minuciosa de toda a temporada. Além disso, tem toda a questão do planejamento. Vamos buscar datas e prazos para a vinda de recursos, porque não pode acontecer a mesma coisa que neste ano, ter que ficar correndo atrás de tudo, aguardando repostas – é patrocinador que dá ok e não assina contrato ou o Pró-esporte que diz que vem e não vem – e acabamos não dando atenção àquilo que é nosso foco: o trabalho dentro de quadra. Acho que foi um período de aprendizado e, a partir de agora, precisa ser diferente. O que me deixa com sentimento de frustração é que, se não tivessem acontecido tantos problemas burocráticos, tantos empecilhos financeiros, quem sabe a gente teria um time treinando muito antes do início da temporada, e talvez não deixássemos de nos classificar por apenas três pontos. Somos a elite do voleibol brasileiro e merecemos mais respeito.
SERRANOSSA – Em recente palestra no Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento (CIC-BG), o prefeito Guilherme Pasin manifestou o interesse da prefeitura em realizar concessões e Parcerias Público-privadas. Um dos locais seria o Ginásio Municipal de Esportes. Há o interesse do Bento Vôlei em assumir esse espaço?
Dentinho – Francamente, esse era um desejo meu desde que a gente montou essa diretoria, há quatro anos. Acho que qualquer equipe desse patamar necessita de sua casa, demanda de uma estrutura. E isso a gente não tem. A gente sofre muito com isso, na questão da divisão de espaço, de horários, e tudo mais. E o Bento Vôlei, nos últimos anos, foi inchando demais, especialmente com as categorias de base e projetos sociais. Então, precisamos de uma estrutura nossa. Dentro de Bento, penso que o ginásio seja o espaço ideal. A sequência disso é a parte mais complicada. Precisamos de um estudo de viabilidade e saber como serão os trâmites burocráticos de concessão. Outra questão é saber qual o apoio que o Bento Vôlei vai ter da comunidade em longo prazo. Não sabemos o que vai acontecer no próximo ano. Vamos continuar tendo apoio do Poder Público como vem ocorrendo? Porque não adianta ter um gigante na mão e não ter uma equipe de alto rendimento jogando. Isso é uma coisa que alerta um pouco a nossa diretoria. Também precisamos de outras informações: como que está a estrutura arquitetônica do ginásio? É muito grande, existem espaços nos quais a gente nem faz ideia do que tem, como embaixo das arquibancadas ou no telhado. Então, precisamos ter acesso e certezas. No meu entendimento, não vemos como um ginásio exclusivo para o vôlei, entendemos que o ginásio tem que ser sustentável e se pagar. Mas vamos avaliar bem tudo isso.
SERRANOSSA – Vocês chegaram a ter uma conversa com o Poder Público e possíveis empresas parceiras sobre isso?
Dentinho – Fizemos isso há alguns anos. Temos conversado com empresas que gostariam de expor sua marca nas paredes do ginásio, mas temos impedimento legal. É espaço público. Não temos como colocar o nome de um patrocinador na parede do ginásio. Se for concedido ao Bento Vôlei, isso muda e passa a existir uma nova forma de entrada de recursos para o clube. Mas precisamos colocar no papel e ver se, de fato, é possível deixar o ginásio sustentável e, em longo prazo, pensar em melhorias. Já tivemos, há algumas semanas, uma conversa com a secretaria da Juventude, Esporte e Lazer, já estamos com a planta baixa do ginásio. Estamos conversando bastante sobre isso e, a partir de então, teremos uma conversa com patrocinador para ver o que pode ser feito.