Nos próximos 30 dias, as comunidades que dependem da ERS-431, interditada desde a última sexta-feira, 22, após um grande deslizamento próximo ao quilômetro 14, saberão se foram iludidas por mais uma promessa do governo do Estado ou se, enfim, a recuperação definitiva da rodovia se tornará realidade. Nesta semana, o secretário de Infraestrutura e Logística, João Victor Domingues, em reunião na Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves, garantiu que o Estado utilizará o decreto de situação de emergência para agilizar obras na estrada que une o município a Guaporé – segundo o representante do Poder Executivo gaúcho, serão intervenções em pelo menos 12 quilômetros, além da conclusão de uma ponte que está sem cabeceiras, sobre o arroio Santa Bárbara, e a construção completa de outra, no Claudino.
Sem depender de licitação, o objetivo é iniciar os trabalhos, que devem custar mais de R$ 30 milhões, entre o final deste ano e o começo de 2014. Não há, contudo, estimativa para o tempo de duração das ações. Também será inserida no plano de melhorias a pavimentação em outros trechos que, somados, totalizam cerca de 2,8 quilômetros e há anos pautam reivindicações regionais. “Ou a gente faz uma solução por inteiro, ou não faz. Não adianta mais nenhuma medida paliativa, talvez seja até por isso que chegamos ao ponto em que está hoje. É uma situação da mais alta gravidade e não podemos mais esperar para resolvê-la de forma definitiva. Temos recursos para isso, mas precisamos de uma empresa de grande porte que tenha condições de executar”, ressalta Domingues, que assumiu a pasta há dois meses.
Segundo avaliação de técnicos do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), foram constatadas pelo menos oito áreas de instabilidade na rodovia. Os quilômetros mais críticos são o 13,5, onde houve deslizamentos de encosta, além do 6,5 e do 21,5, zonas em que se verificou afundamento da faixa de rolamento, com interdição parcial. A primeira atividade prometida pelo Estado é o reforço na sinalização no local, para evitar o acesso de veículos e indicar rotas alternativas. O trajeto de Bento a Guaporé pela ERS-431 totaliza pouco mais de 73 quilômetros. Pela RSC-470, passando por Veranópolis, por exemplo, o caminho beira 95 quilômetros, quase 22 a mais.
Durante a reunião no Legislativo bento-gonçalvense, uma das sugestões apresentadas por deputados foi a possível participação do Exército na construção de uma travessia temporária, já que as obras devem durar meses. O principal temor de lideranças da região é a proximidade da colheita da uva, que pode ter seu escoamento prejudicado pelas dificuldades de tráfego. “Precisamos salvar a próxima safra e esperamos que não seja apenas mais uma promessa do Estado. Não queremos que fique apenas na palavra, Bento e região não podem se tornar reféns de uma quebra logística como essa. Esse passivo histórico tem que ser sanado agora”, conclui o prefeito Guilherme Pasin.
Na terça-feira, 26, o deputado estadual Alexandre Postal (PMDB), que participou da reunião na Câmara de Bento na tarde anterior, usou a tribuna do parlamento gaúcho para expor a situação da ERS-431. “Em três anos, não foi colocado nenhum centavo naquela rodovia, nem as cabeceiras em um viaduto. Trata-se de uma estrada com seríssimos problemas geológicos. Estamos a menos de 60 dias da vindima, e não há trânsito entre as cidades”, destacou Postal.
Promessa antiga
A incredulidade de parte da população em relação às intervenções na ERS-431 é histórica. Reportagens recentes feitas pelo SERRANOSSA mostram que as promessas não se tornaram realidade. Foi assim em junho de 2012, quando o Daer garantiu que o trecho de 2,8km não pavimentado seria asfaltado até o final daquele ano – o trecho nas proximidades da linha Alcântara alterna pavimentação asfáltica e estrada de chão batido. Até hoje a obra não começou. Na época, a falta de cabeceiras sobre a ponte do arroio Santa Bárbara também foi abordada. O departamento informou que a finalização da obra já havia sido encaminhada para licitação, junto com a construção de uma ponte sobre o arroio Claudino, o que igualmente não ocorreu.
Reportagem: Jorge Bronzato Jr.
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