Escritora gaúcha Lya Luft morre aos 83 anos

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Nesta quinta-feira, 30/12, o Rio Grande do Sul perdeu uma de suas maiores escritoras contemporâneas. Lya Luft, gaúcha de Santa Cruz do Sul, morreu aos 83 anos, em casa, em Porto Alegre. Há sete meses ela havia sido diagnosticada com um câncer de pele. A escritora passou por tratamento e chegou a ser internada algumas vezes no Hospital Moinhos de Vento, sendo submetida a imunoterapia, cirurgias e radioterapia. Ela havia recebido alta no dia 21 de dezembro.

Colunista de GZH e dona de uma obra premiada que conta com 31 títulos, Lya Luft transitou por vários gêneros: romances, poemas, contos, crônicas, ensaios, infantil, livro de memórias. Ela deixa o marido, o engenheiro e escritor Vicente de Britto Pereira, os filhos Susana e Eduardo, professor de Filosofia, além de sete netos e netas. Também foi mãe de André, engenheiro agrônomo, falecido em 2017. Lya será velada em uma cerimônia íntima, restrita a poucas pessoas, e, depois, cremada, ainda sem confirmação de data e horário. 

A escritora  Lya Luft

Lya começou a trabalhar com o mundo literário no começo dos anos 1960, como tradutora de obras em alemão e inglês — foi responsável pela versão em português de mais de cem livros de autores internacionais como Virginia Woolf, Rainer Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing, Günter Grass, Botho Strauss e Thomas Mann.  

Nesta mesma época, começou a escrever poemas e, em 1964, os reuniu no livro Canções do Limiar. Oito anos depois, seu segundo livro com poesias, Fruta Doce, chegava às livrarias. Em 1978, lançou sua primeira coletânea de contos Matéria do Cotidiano

Mesmo já tendo três publicações, Lya só passou a se considerar escritora a partir de 1980, quando, com mais de 40 anos, escreveu o seu primeiro romance, As Parceiras, que teve repercussão nacional. Logo em seguida, vieram A Asa Esquerda do Anjo (1981), Reunião de Família (1982) e, com ritmo intenso de produção, O Quarto Fechado — lançado nos Estados Unidos sob o título The Island of the Dead — e Mulher no Palco, ambos de 1984.

Seguiu publicando obras que chamavam a atenção, como Exílio (1987), O Lado Fatal (1989) e A Sentinela (1994), até que, em 1996, aos 58 anos, decidiu dar um passo na direção de um gênero que ainda não havia explorado: o ensaio. Assim, lançou o livro O Rio do Meio, obra considerada a melhor de ficção daquele ano, recebendo o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Também em 1996, foi eleita patrona da Feira do Livro de Porto Alegre. Em 2001, recebeu o Prêmio União Latina de Melhor Tradução Técnica e Científica, pela obra Lete: Arte e Crítica do Esquecimento, de Harald Weinrich.   

Apesar de uma carreira premiada, Lya Luft se tornou famosa entre o grande público após o lançamento de Perdas & Ganhos, em 2003. Considerada um best-seller, a obra chegou em sua 40ª edição, com mais de 600 mil exemplares vendidos, de acordo com a Editora Record. No livro, a escritora apresentou reflexões sobre temas do cotidiano, como relações familiares e amorosas, solidão, velhice e luto. Perdas & Ganhos ganhou edições em inglês, alemão, espanhol, francês e italiano, entre outros idiomas.  

Em 2013, recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo livro O Tigre na Sombra (2012), eleita a melhor obra de ficção do ano na categoria romance. Nos anos seguintes, a autora ainda lançou O Tempo é um Rio que Corre (2013), Paisagem Brasileira (2015) e A Casa Inventada (2017).  

Em 2020, chegou às livrarias As Coisas Humanas, lançado em homenagem ao filho André. Na obra, Lya se propôs a uma conversa “ao pé do ouvido” com o leitor, em que ela contempla o lado belo e o feio da existência, abordando infância e velhice, alegria e terrores, família, solidão e amor, trabalhos e luta, beleza, mistério e morte.  

No último dia 16, ela conquistou seu último prêmio em vida: foi agraciada pela Academia Rio-grandense de Letras com o Troféu Escritora do Ano. Na ocasião, Lya, que foi representada por José Alberto Wenzel, enviou a seguinte mensagem para agradecer a distinção durante o evento: “De um leito do hospital é difícil acreditar em uma homenagem como essa”. 

A Academia Rio-Grandense de Letras, nesta quinta-feira, lamentou o falecimento de Lya e, em comunicado, destacou a entrega do prêmio: “Nossa homenagem chegou em tempo e alegrou seus últimos dias, servindo como singela lembrança de uma estupenda contribuição para a literatura brasileira, firmada ao longo de seis décadas da mais pura devoção à palavra escrita, nos mais diversos gêneros. Sua poesia e a agudeza com que soube capturar a essência humana jamais serão esquecidas”. Susana, filha de Lya, também ressaltou que a mãe ficou muito feliz com a homenagem. 

Informações: GZH.