Esgoto: mapeamento da rede só ocorre após estragos
Sem um mapeamento preciso das redes de esgoto, a prefeitura tem dependido, ironicamente, de estragos causados na tubulação para conhecer a realidade do sistema subterrâneo que percorre as ruas de Bento Gonçalves. Dessa forma, os problemas verificados, como os recentes danos ocasionados pelos temporais que atingiram o município, têm sido as únicas oportunidades de entender e registrar o emaranhado de canos por onde correm as águas das chuvas e os dejetos domésticos gerados na cidade.
A promessa da administração municipal é começar, a partir de 2014, o levantamento da situação de cada ramificação, desde a sua dimensão e capacidade até as conexões que a integram. O que ainda não está definido, entretanto, é de que forma a ação será conduzida: sem equipes disponíveis, tanto na secretaria de Viação e Obras Públicas (SMVOP) quanto no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ipurb), o caminho mais provável será a contratação de uma empresa para desenvolver o trabalho. Os dados coletados farão parte, no futuro, dos arquivos digitais de georreferenciamento.
Até lá, a falta de informações também seguirá sendo suprida, de forma parcial, por relatos de funcionários mais antigos. “Nós sempre temos uma situação em mente, que é o colapso do sistema de drenagem. Por enquanto, só estamos ‘apagando incêndio’, porque não temos dados para poder trabalhar. Temos que pensar em um planejamento macro, acho que é a grande demanda do momento”, avalia o secretário Valdir Possamai.
É o mapeamento que poderá apontar a necessidade de eventuais intervenções mais amplas, como a substituição de tubulações velhas, para as quais não há, atualmente, uma previsão de troca de forma massiva. A estimativa de Possamai, que iniciou trabalho semelhante quando foi diretor do Ipurb, há alguns anos, é de que pelo menos 70% do total da rede de Bento seja de décadas atrás, ainda sem ferro na composição. “Nós tínhamos começado a identificar isso. Faltava muita coisa, mas era um passo importante. Só que não encontrei mais esse material, então teremos que retomar”, completa o secretário.
Sujeira
Para o atual diretor do Ipurb, João Marcelo Bertani, um dos principais agravantes para as condições do sistema de esgoto na cidade é o acúmulo de lixo e de resíduos, como terra ou brita, nos canos. Em alguns casos, de acordo com ele, a obstrução da vazão chegava a 50%. “Essas tubulações ficaram um bom tempo sem a manutenção adequada e a decantação no fundo diminui muito a capacidade de escoamento. Com a impermeabilização cada vez maior da cidade, em função do asfalto, a água acaba tendo mais velocidade e um impacto maior”, afirma.
O mapeamento global exigiria que todos os chamados poços de visita, onde estão as tampas metálicas que cobrem a entrada para o sistema subterrâneo, fossem vistoriados e identificados. “É um trabalho de campo, por isso é difícil prever quanto tempo poderia demorar. Isso vai depender, principalmente, do tamanho da equipe”, conclui Bertani.
Lago podre
Enquanto a prefeitura luta para resolver vários danos estruturais simultâneos, dificultados pelo desconhecimento sobre a rede de esgoto, moradores do bairro Cidade Alta convivem com um problema bem visível aos olhos. Um terreno na esquina das ruas Olavo Bilac e República virou o que os vizinhos chamam de “lago podre”, em função do grande acúmulo de água no local. Após denúncias e reclamações sem retorno, o caminho encontrado para expor o caso foi a internet.
Nesta semana, no Facebook, a postagem de uma moradora do prédio vizinho ao lote em que o lago se formou tratou a situação como “um cenário de orgia para os mosquitos”. “Com este calor não podemos abrir uma janela sequer, o cheiro é horrível e os mosquitos fazem aquela festa dentro de nossas casas. Pois, acreditem, nenhum órgão competente está preocupado”, reclama a residente. Segundo relatos, o problema já persiste há dois anos, desde que começou a escavação para a obra, hoje parada, mas se agravou nos últimos 15 dias. “Dizem que já autuaram o proprietário, mas para nós o problema continua”, reclama.
Reportagem: Jorge Bronzato Jr.
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