Especial Dependência: “Cheguei a beber acetona”

Com 35 anos de idade, duas internações e uma extensa lista de vícios em sua história de vida, J.B. é hoje um lutador que tem na amizade sua principal arma de batalha. Ele experimentou uma dose de cachaça pela primeira vez quando tinha dez anos de idade. Esteve duas vezes internado em clínicas para tratamento de dependentes químicos, sem efeito, até que seu pai ficou sabendo que um amigo de infância dele estava internado na Comunidade Terapêutica Rural e sugeriu que ele também tentasse o tratamento. Junto ao antigo amigo, ele não apenas está buscando a recuperação, mas também descobriu o significado da verdadeira amizade.

O que começou como uma curiosidade se tornou o principal problema na vida de J. B.. “Eu bebia todos os dias, começava às 5h30 e não parava mais. Estava sempre caído pelos cantos e ainda bebia na frente do meu filho pequeno. Teve épocas que, devido à bebedeira, cheguei a tomar acetona, álcool de cozinha e até de automóvel. Só não tomei solvente porque haviam me falado que fazia mal. Na minha casa, não podia ter nada que contivesse álcool, que eu tomava”, relata. Como muitos outros, ele acreditava que não precisava de ajuda, apesar dos alertas constantes da família.

J.B. conta que por duas vezes aceitou procurar tratamento em clínicas de recuperação, mas que não deram certo. “Nessa época eu não me via como uma pessoa alcoólatra e não entendia que estava doente. Achava que isso era normal e que, quando eu quisesse, poderia parar. Fui fazer os tratamentos mais para contentar a família”, conta. Apesar de beber e fumar, ele nunca experimentou nenhum outro tipo de droga. “Eu fui convidado a experimentar várias vezes, mas nunca quis. Eu gostava era de álcool. Gastava, em média, uns R$ 400 a R$ 500 por mês com a bebida e trocava a família por ela”, relembra. 

Tratamento

J.B. relata que só passou a entender que realmente estava doente e que necessitava de ajuda, quando foi internado na Comunidade Terapêutica. “Nas outras internações que tive, nunca haviam explicado sobre a doença, eles apenas faziam o tratamento, com remédio e trabalho”, descreve. A internação aconteceu no momento em que nem ele nem a família aguentavam mais a situação. “No início, eu não queria me internar, mas sabia que precisava”, conta. 

A amizade é tudo

Na Comunidade, os velhos amigos se encontraram e estranharam quando um ficou sabendo do problema do outro. “Havíamos sido colegas na pré-escola, mas com o tempo fomos perdendo o contato. Quando nos encontrávamos era um mero encontro, porém quando a amizade é verdadeira, ela nunca se perde. Nem desconfiávamos que estávamos passando por um problema mais ou menos parecido. Dentro da Comunidade, isso foi muito importante para o nosso tratamento. Um dava apoio ao outro e, assim, incentivava a recuperação”, pontua. 

Futuro

Após receber alta da Comunidade, o que deve acontecer dentro de dois meses, J.B. pretende dar continuidade ao seu tratamento e se livrar definitivamente da dependência do álcool. “Minha família e meu filho estão muito felizes com a minha recuperação. É um tratamento maravilhoso que se recebe na Comunidade, que te possibilita entender o que é, o que causa e as ferramentas que devem ser usadas para tratar a dependência. Agora quero só planejar o meu futuro e aproveitar mais a minha família”, finaliza

Reinserção social

J. B. ainda permanece internado na Comunidade Terapêutica Rural. A entrevista foi realizada durante uma visita que ele realizou a C.C, outro personagem desta reportagem, durante uma de suas saídas para visitar a família, iniciativa que integra a etapa de reinserção social.

Confira os outros depoimentos da reportagem:

“Do álcool ao crack”
“A virada, 53 anos depois”

 

Reportagem: Katiane Cardoso

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