Especial Dia do Motorista: “Que horas passa a linha do Josmar?”

Há 28 anos, Josmar Pereira Lima saiu do pequeno município de André da Rocha para tentar uma carreira promissora em Bento Gonçalves. Seu sonho? Ser motorista. “Eu sempre fiquei admirando os motoristas quando andava de ônibus. Dirigir um veículo grande desses me chamava a atenção”, conta o profissional. 

Após trabalhar por três anos em uma empresa de móveis, Josmar conseguiu uma vaga na Transporte Santo Antônio. Ele tinha 21 anos de idade. “Trabalhei dois anos como cobrador, sempre pensando em me tornar motorista. Aí quando se extinguiu a função de cobrador me perguntaram se eu aceitaria trabalhar na garagem, para aprender a dirigir. Eu aceitei na hora”, recorda, com carinho.


 

Foram mais dois anos de preparo para assumir sua primeira rota no ano de 2000, indo do bairro Fátima até o Colégio Landell de Moura. “Fiquei uma semana aprendendo com o seu [Neri] Faccin, fiscal da empresa. No começo tinha pouca experiência e acabei batendo o ônibus duas vezes. Eu me desanimei, mas nunca pensei em desistir. Comecei a praticar mais ainda no pátio da empresa”, recorda Josmar. 

Após uma série de cursos de qualificação, o profissional passou a se tornar referência, se destacando entre os mais de 50 motoristas da empresa, além de conquistar o carinho da comunidade. “Eu vim de uma cidade pequena, então era bastante tímido. Não conseguia olhar nos olhos das pessoas para conversar. Mas com os cursos e com a experiência eu aprendi a me relacionar. Vai além de dirigir, tem várias coisas envolvidas, como cobrar, atender bem as pessoas, ter cuidado com os passageiros, prestar atenção na higienização, exigir o uso de máscaras. O tempo me fez aprender a ter paciência diante das situações complicadas que aparecem”, conta. “Eu não fico nervoso no trânsito”, garante o motorista.


 

Desde então, Josmar tem feito uma série de amizades especiais entre os passageiros. Muitos se referem à rota conduzida pelo profissional no transporte seletivo como a “Linha do Josmar”. “Eu faço a mesma rota [Centro, Botafogo, Santa Helena, São Rafael e Santo Antão] há 18 anos  então eu já fiz muitas amizades. Muitos passageiros gostam de desabafar comigo. Teve uma mulher, por exemplo, que tinha perdido o marido recentemente. Ficamos conversando durante todo o trajeto e ela chorou e desabafou, como se eu fosse da família. E esse também é meu trabalho, ser atencioso com todos. Muitos só precisam de alguém que os escute”, afirma. Outra passageira também surpreendeu Josmar. “Eu cumprimento as pessoas e tem gente que não cumprimenta de volta, mas eu continuo mesmo assim. Uma passageira, que tinha esse hábito um dia me cumprimentou e pediu desculpas, dizendo que estava com alguns problemas pessoais. Desde então começamos a conversar”, relembra. 

Aos 46 anos, Josmar avalia que a profissão lhe trouxe muito mais do que sucesso profissional. “Foi a empresa que me incentivou a continuar os estudos e hoje tenho o Ensino Médio completo. No começo não foi fácil voltar a estudar, mas eu consegui. Venci várias barreiras e consegui alcançar meu sonho. Hoje vejo minha profissão como algo muito importante e gratificante. Sou feliz fazendo o que faço”, finaliza. 

Fotos: Eduarda Bucco