Especial Dia dos Pais: a distância como prova de amor

A pandemia do novo Coronavírus completou 7 meses no mês de julho. Mesmo após a adoção de medidas mais brandas para controle da disseminação, ainda é possível ouvir relatos de familiares que estão há meses sem se encontrar. O objetivo é garantir a segurança do ente querido, uma verdadeira prova de amor. Esse é o caso dos filhos do seu Severino Bellaver, que estão desde março sem visitar o pai no Lar do Ancião. Por lá, as visitas foram suspensas para garantir a segurança dos idosos. “Normalmente quando eu vou lá visitar ele [antes da pandemia] nós ficamos conversando por um bom tempo. Ele desabafa, conta as coisas dele, pergunta como estão todos da família. Agora a gente está tentando conversar por telefone, mas é complicado porque ele tem problema de audição. Então percebemos que está mais estressado e que está sentindo bastante falta das nossas visitas e das visitas dos voluntários que costumavam ir lá para jogar ou mesmo para conversar”, relata Janete. 

Severino reside há 10 anos no Lar do Ancião, desde quando sua companheira partiu. Maria Poletto Bellaver morreu aos 75 anos, curiosamente durante a pandemia da gripe H1N1. Apesar da morte da mãe não ter sido enquadrada como H1N1, Janete afirma que Maria tinha todos os sintomas da doença, ficando dias internada com dreno no pulmão. “Ela tinha plano de saúde, mas não havia leitos de UTI disponíveis para ela, em nenhum hospital da região. Então ela sofreu muito no tempo que ficou internada em leito normal”, recorda. “Depois que minha mãe faleceu, o Lar foi a melhor escolha para ele. Todos nós trabalhamos e não queríamos que ele ficasse sozinho. Fizemos uma experiência de 30 dias, para ver se ele se adaptaria e ele acabou gostando bastante. As enfermeiras dizem que ele passa todos os dias no posto delas para dizer bom dia. Quando a gente saía com ele antes da pandemia, ele ficava de olho no relógio para voltar e não perder o lanche”, conta a filha. 

Apesar do carinho que seu Severino adquiriu pelo Lar, a falta do contato físico com seus filhos tem deixado os dias mais tristes para a família Bellaver. “Eu fico preocupada porque não consigo saber como ele está. Se eu estou lá, ele acaba me falando coisas que não falaria para as enfermeiras. Apesar de ele ter uma saúde física e mental muito boa, sempre fico preocupada quando toca o telefone, achando que algo aconteceu”, desabafa. 


Janete costuma passar as datas especiais ao lado de seu pai Severino, mas neste ano terá que inventar uma nova forma de demonstrar sua gratidão e amor

No Dia dos Pais, Janete e seus irmãos (Cláudio, Beatriz, Gilmar e Eliene) costumam buscar Severino para saborear um almoço gostoso e curtir um momento especial em família (junto aos 14 netos e dois bisnetos). Além de celebrar essa data, os filhos aproveitam para comemorar mais um ano de vida de Severino, que faz aniversário no dia 12 de agosto. Entretanto, com a pandemia do novo Coronavírus, a celebração de Dia dos Pais e dos 91 anos terão que ser diferentes neste ano. “A gente vai ter que fazer alguns vídeos para enviar para ele, já que ligar é difícil. Vamos fazer o possível para ele não se sentir tão sozinho e para que ele receba o nosso carinho”, comenta. 


Seu Severino comemorando o Dia dos Pais e o aniversário no ano passado, acompanhado do bisneto Pedro e dos filhos Janete e Cláudio Bellaver

Nessa data especial à distância, Janete recorda o carinho e os aprendizados repassados pelo pai. Durante 10 anos, Severino trabalhou como motorista de caminhão, o que inspirou a filha para que também se tonasse motorista. “Hoje eu dirijo van e micro-ônibus e gosto muito dessa profissão, acho que está no sangue”, diz. “Mas mais que isso, meu pai me ensinou a ter coragem e disposição para irmos atrás das coisas. Em toda sua vida ele sempre procurou ajudar o próximo. Então eu tenho muita gratidão por tudo que me ensinou e por tudo que fez por mim… por nós”, agradece. 

Para o Dia dos Pais, Janete faz um único pedido: “Eu espero que ele esteja bem e que a gente possa se ver logo… que não demore muito. Nem que seja para escutar as rabugices dele”, brinca. 

Fotos: Arquivo pessoal