Esportivo/95 anos: as lembranças do roupeiro
Em 2000, quando se preparava para ir ao jantar que marcaria a sua despedida do São José de Cachoeira do Sul, Reni José Teixeira de Souza foi surpreendido com a visita, na sua casa, do presidente do clube, do diretor de futebol e do então prefeito da cidade, Pipa Germano. Eles queriam convencer o zeloso roupeiro a permanecer no São José. Reni, no entanto, foi resistente. “Eu já tinha dado a minha palavra para o Jorge Anadon, não podia voltar atrás”, lembra.
O ex-técnico Anadon, falecido em 2012, treinava o time de Cachoeira do Sul quando recebeu proposta do Esportivo e convidou Reni para ir a Bento com ele. Hoje, aos 62 anos, Reni é um dos funcionários mais antigos do clube e não se arrepende de ter deixado a terra natal. Mais do que um roupeiro de desvelo, se transformou em uma das figuras mais queridas do Esportivo, integrado a todos os setores do clube e por vezes chamado a tarefas que transcendem a sua incumbência fora das quatro linhas. No grupo campeão da divisão de acesso, comandado por Luis Carlos Winck, divertia o grupo ao trajar-se de árbitro nos “rachões” antes das partidas.
Gorjeta do treinador
Reni lembra com carinho o comprometido e alegre time de Winck, mas recorda de outros profissionais que deixaram de ser colegas, porém, continuaram amigos. “Fiz muitos amigos aqui, pessoas que gostavam muito de mim, e até me ajudavam quando podiam. O Anadon foi uma grande pessoa. Ele pedia para eu trocar cheques de R$ 3 ou R$ 4 mil, e quando voltava, me dava R$ 60, R$ 70. Ele respeitava muito os funcionários, sempre dizia para o Édson Klauck (ex-gerente de futebol): primeiramente, tu acerta com os funcionários, porque esse é o grande valor do clube. O clube tem que valorizar os funcionários. Depois, se o jogador quiser cobrar, manda cobrar lá na lua”, conta, relatando, orgulhoso, o elogio do amigo em entrevista na Rádio Bandeirantes, de Porto Alegre. “Ele disse que os dois melhores roupeiros do Rio Grande do Sul eram eu e o Zico, do Juventude!”, exclama.
Presentes de jogador
Outro nome que Reni lembra com saudades é o ex-meia Rivelino Pinho. Ele ressalta que foi um dos maiores jogadores que viu passar pelo clube – ao lado do também ex-meia Wolnei Caio -, além de um colega muito generoso. “O Rivelino ganhava prêmios de melhor em campo, vinho, bolacha, e dava para mim. Ele ganhava quase em todos os jogos, e eu levava para casa. Tinha uma fartura!”, recorda.
O goleiro caprichoso
Dedicado, Reni chega a trabalhar 17 horas em dias de jogo. Mesmo em partidas fora de casa, quando retorna na madrugada, não descansa até deixar os uniformes novamente prontos para o dia seguinte. O roupeiro enfatiza não recordar de queixas sobre o seu trabalho, mas “entrega” o goleiro Nivaldo – atualmente na Chapecoense. “Uma vez ele reclamou do uniforme todo branco, camisa, meia e calção. Eu disse a ele: tu nunca vai precisar usar, porque a maioria dos times usa branco. Dito e feito, nunca usou mesmo. Mas além de um grande goleiro que passou pelo Esportivo, assim como o Donizetti – atualmente preparador de goleiros -, ele é uma pessoa muito bacana, e caprichoso. Cuidava muito do material, nos três ou quatro anos que jogou aqui, nunca rasgou uma calça de treino. Tem goleiros que vêm aqui e rasgam três em um mês”, conta.
Nos quase 15 anos de alviazul, Reni recebeu vários convites de jogadores e técnicos que se transferiram para outros clubes e o indicaram. Foram propostas do Santa Cruz, Brasil de Pelotas, São José, Inter de Lages, Ulbra e Grêmio. “Não saí por uma série de motivos, me sinto bem aqui. Não só com relação ao clube, gosto muito da cidade e das pessoas. Quando vou a Cachoeira, eu digo para os meus amigos: vocês têm que cuidar melhor da cidade, precisam seguir o exemplo de Bento. Aqui conheci muita gente bacana, pessoas que me ajudaram, me dão conselhos. Todos os dirigentes sempre me trataram muito bem. Falta pouco mais de dois anos para eu me aposentar, mas hoje não penso em deixar de trabalhar depois de aposentado”, afirma o simpático roupeiro, um dos personagens dos 95 anos do clube, completados nesta quinta-feira, dia 28, e que tudo indica ainda deve continuar testemunhando a história do Esportivo, in loco, mais do que qualquer dirigente. “Algumas pessoas já disseram, o último deles foi o Edu Casagranda (atual diretor de futebol): entra presidente e sai presidente, mas o Reni continua no Esportivo”, conclui, sorridente e brioso pelo reconhecimento.
Festa comemorativa
O Esportivo promoveu no último sábado, dia 23, no clube Susfa, a festa comemorativa à passagem dos seus 95 anos. A principal atração foi a presença do ex-técnico Valdir Espinosa, comandante da campanha do vice-campeonato gaúcho, em 1979. Na ocasião, o clube também realizou homenagens aos torcedores China e Kévin Sganzerla.
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