“Estamos à beira do fechamento”: o drama de empresários com as restrições de funcionamento

As restrições impostas pelo decreto do governo do Estado para o controle do avanço da pandemia têm causado prejuízos incalculáveis para empresários e funcionários de diversos setores da economia. Com as portas fechadas, sem as medidas emergenciais do governo e com restrições de atendimento, empreendedores projetam difícil retomada e até mesmo fechamento de seus negócios caso restrições permaneçam por mais tempo. De acordo com a determinação do Estado, serviços não essenciais só devem funcionar com atendimento de pegue-leve e tele-entrega até o dia 21 de março. Além disso, as atividades após as 20h estão suspensas até o dia 31.

As determinações preocupam a empresária do ramo gastronômico Simara Rosalem. No ano passado, o restaurante que ela comanda ficou quatro meses atuando com restrições e, segundo ela, só conseguiu se manter aberto porque recebeu ajuda do governo federal no programa de manutenção de emprego e renda. “Agora que estávamos começando a engrenar, nos recuperando, com uma equipe completa, tivemos que fechar novamente. Já fizemos duas demissões e prevemos ainda mais ao longo do mês, caso não saia o auxílio do governo. Mesmo negociando aluguel e outras contas, a situação está insustentável. Nosso faturamento cai 70% nesse formato delivery, mesmo com ações e promoções”, explica a empresária. 


 

Com um estoque de alimentos de mais de R$ 20 mil e com as contas chegando, Simara confessa que o negócio pode não sobreviver. “Estamos à beira do fechamento. Não queremos pegar empréstimo em banco. Afinal, não temos garantia se vamos poder abrir, quando e se vai ser possível manter”, conclui.

Famílias sem renda
Outro segmento que sofre com as restrições é o de beleza. Lidiane Berlatto, proprietária de um salão no bairro Cidade Alta, comenta que no ano passado, durante as restrições, conseguiu o auxílio emergencial, que contribuiu com algumas contas. Agora, sem o benefício e com um tempo maior de fechamento, ela e suas três funcionárias estão sem renda. “É muito triste o que estamos passando. Tenho um filho para sustentar e de repente minha renda vai a zero. Minha colega tem três filhos e ainda um pai com câncer e está impedida de trabalhar. Estamos desesperadas”, comenta ela, que só de aluguel, condomínio e água tem despesas de R$ 3 mil, além dos boletos dos produtos do mês, “que não param de chegar”. “Às vezes a gente se liga e começa a chorar”, confessa.


 

Para ela, fechar o salão de beleza não é solução para o controle da pandemia. “A gente vê filas nos bancos, fruteira e mercado. No meu salão a gente trabalha com horário marcado. Jamais terá aglomeração”, argumenta.
É o que também pensa Gabriela Paludo Balestro, proprietária de duas lojas de roupas e calçados. Para ela, o volume de pessoas circulando no centro da cidade, enquanto seus negócios estão fechados, acaba não tendo resultado na redução da contaminação do vírus. “O cenário atual é de injustiça. Entendemos a situação de calamidade em que a saúde se encontra, mas se é para fechar, que seja tudo. A rua está cheia!”, lamenta. 

Gabriela conta que, com toda a crise financeira que o país enfrenta, antes mesmo das restrições, dificilmente a loja recebeu mais do que duas pessoas ao mesmo tempo. “Tudo está muito injusto para o comércio. Dói muito, pois existe a demanda, os clientes estão mandando mensagem, ligando, eles querem consumir. Estamos tentando atender, mas nos sentimos como traficante de drogas. Já reduzimos nosso quadro de funcionários pela metade e com certeza levaremos um ou dois anos para recuperar a situação financeira”, lamenta.


 

Perda de renda e praticantes
Outro segmento que vem acumulando prejuízos é o esporte. Sócia-proprietária de um clube de pádel, Deise Brancher comenta que, além de ter uma grande estrutura para sustentar – são 11 quadras, aluguéis, bar, academia, professores e funcionários –, outro grande prejuízo é a perda de muitos praticantes do esporte com a impossibilidade de abrir. “Ano passado tínhamos planos de crescimento, mas, como muitas empresas, tivemos que parar tudo, apenas tentando nos manter. O prejuízo só aumenta e em vários sentidos. Imediatamente o financeiro, bem como a enorme desistência de jogadores que nos gera perdas em curto e longo prazo, pois muitos não voltam mais”, relata. 


 

Projeção de 400 empresas fechadas
De acordo com Daniel Amadio, presidente do Sindilojas, no país a pandemia já fechou mais de 75 mil empresas. Em Bento, a estimativa é que pelo menos 400 fechem as portas com estas novas restrições. “Claro que temos que considerar a situação e o fôlego financeiro de cada CNPJ. Os com mais reservas econômicas terão mais facilidade de sobrevivência em detrimento aos que já utilizaram de todos os meios para baixar despesas e ainda buscaram recursos em bancos”, explica.

Para tentar auxiliar os comerciantes neste momento, o Sindilojas vem atuando em várias frentes. Além de acompanhar e orientar os associados quanto às mudanças de decreto e protocolos, a entidade também vem trabalhando ao lado da Fecomércio-RS na busca do convencimento do comitê de crise para tentar mostrar que é possível a flexibilização sem agravar o problema da pandemia. “Estamos estudando medidas judiciais com esse mesmo objetivo”, complementa Amadio.

 

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