“Estamos iniciando o segundo trimestre com 13 homicídios, já foge um pouco da normalidade”, afirma delegado Bias

Em 2023, Bento Gonçalves já soma 13 homicídios, sendo que os três casos mais recentes ocorreram em menos dez dias

Foto: Suellen Krieger

Bento Gonçalves, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021 já tem uma população que ultrapassa os 123 mil habitantes. Junto com o crescimento populacional, a cidade também apresenta altos índices de criminalidade.

Neste ano, por exemplo, nos quatro primeiros meses, o município já soma 13 homicídios consumados, sendo que os três últimos ocorreram em um curto período: menos de dez dias. Diante deste cenário, o delegado da 1ª Delegacia de Polícia Civil (DP), Renato Nobre Bias, afirma que o número gera certa preocupação.

“Estamos com um número que gera um pouco de preocupação, que não é comum para o mês, para o nosso período. Estamos iniciando o segundo trimestre com treze homicídios consumados, já foge um pouco da normalidade”, analisa.

Na área da segurança, Bento Gonçalves é dividida territorialmente por duas delegacias, a 1ª Delegacia de Polícia e a 2º Delegacia de Polícia. Dos 13 homicídios, oito estão a cargo da 1ª DP, enquanto os outros cinco estão sob responsabilidade da 2ª DP.

Segundo o delegado Bias, na 1ª DP, a maioria das investigações de homicídios já estão bem encaminhadas, embora, muitas vezes, a polícia dependa de outros órgãos para dar prosseguimento na elucidação total dos casos.

“A gente depende de vários outros elementos, como perícia de outro órgão, como o Instituto Geral de Perícias (IGP), tem questões judiciais, quando a gente pede para juiz autorização para cumprir alguns mandatos. Isso tudo acaba demandando um certo tempo, então, os homicídios variam”, explica.

Casos mais recentes

O 13º homicídio, o mais recente, ocorreu na última segunda-feira, 10/04, quando Marcelo Luiz Dalla Vecchia, de 41 anos, foi morto por disparos de arma de fogo, por volta das 22h15, na rua Bramante Mion, próximo ao condomínio residencial Novo Futuro, no bairro Ouro Verde.

Sobre este caso, o delegado afirma que ainda é muito recente para desdobrar uma linha de investigação. Entretanto, a vítima era conhecida da Polícia Civil e possuía antecedentes criminais.

“Ainda não temos uma linha clara de qual seria o envolvimento dele, mas ele já era um investigado da Polícia Civil, participava de alguma forma do mundo do crime”, afirma.

O 12º homicídio do ano foi registrado no final da tarde do dia 06 de abril, quando um homem, identificado como Davi Pereira da Silva, na faixa dos 50 anos, foi encontrado morto em uma casa localizada na rua Luís Tomedi, no bairro Conceição. A vítima apresentava marcas de facadas na região das costas.

Em relação a esta morte, Bias adianta que há poucas informações, principalmente porque, ao que tudo indica, o corpo da vítima foi encontrado já em estado rígido.

“A gente ainda espera o laudo do IGP, mas ao que tudo indica, já tinha um certo tempo que ele [o corpo] estava no local”, afirma.

Ainda segundo o delegado, a vítima apresentava um grande número de perfurações nas costas, indicando que levou cerca de 40 facadas.

O 10º homicídio ocorreu no dia 04 de abril, quando Alessandro Luiz de Lima, de 34 anos, foi morto a tiros na rua Bramante Mion, no residencial Novo Futuro, localizado no bairro Ouro Verde, por volta das 21h.

“Os três últimos homicídios são bem recentes, não temos autoria, não temos motivação, estão sendo investigados pela nossa DP, mas é preocupante, porque foram três homicídios em menos de uma semana, mas a Polícia Civil já está acompanhando os fatos”, garante.

Relação com o tráfico

Embora não possa revelar detalhes para não atrapalhar as investigações que ainda estão em andamento, o delegado afirma que a maioria dos homicídios têm ligação com o crime de tráfico de drogas.

“O que se sabe é que esses homicídios, não especificamente o de ontem [segunda-feira, 10/04], mas a maioria, tem relação com o tráfico de drogas. São pessoas que já possuem algum tipo de antecedente policial, que já tem algum envolvimento com o mundo do crime”, afirma.

Sobre os recentes homicídios, Bias afirma que pode haver, também, o envolvimento de facções criminosas.

“Alguns dos homicídios, sobretudo os recentes, [podem ter] envolvimento de facções criminosas provavelmente. Não entrando na linha de investigação, mas podem indicar guerra entre facções. Ainda estamos apurando”, adianta.

Combate ao tráfico

De acordo com Bias, a maioria dos crimes envolvendo homicídios ocorrem em decorrência de pontos de tráfico de drogas ou de facções, cientes disso, a Polícia Civil realiza diversas operações para impedir o aumento da violência;

Segundo dados divulgados pela Polícia Civil, neste ano, a DP já realizou dez prisões, além da apreensão de 86 porções de cocaína, 312 pedras de crack e 21 medidas de busca e apreensão foram cumpridos até agora.

“Tirando as drogas, a gente consegue reduzir, automaticamente, outros números criminosos na cidade: roubo de pedestre, furtos de veículos, furtos em estabelecimentos comerciais, porque tudo isso é para o consumo de drogas. O tráfico de drogas é o foco principal para tentar diminuir os outros delitos”, salienta.

Baixo efetivo

Atualmente, o efetivo da Polícia Civil de Bento Gonçalves está defasado, principalmente porque nos últimos anos, segundo Bias, ocorreram diversas aposentadorias, tanto na 1ª DP quanto na 2ª DP, somando, ao todo, menos seis agentes.

“O ideal, hoje, precisamos de um efetivo de no mínimo dez policiais a mais para atender a demanda da região em um nível satisfatório, então, estamos com um déficit muito alto de policiais”, salienta.

Entretanto, o delegado adianta que o Estado vai enviar para Bento Gonçalves mais dois policiais ainda neste mês de abril. Um deles vai ser lotado na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento e outro na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM).

“Então, já auxilia um pouco, não é o ideal, mas vai auxiliar no serviço da Polícia Civil de Bento Gonçalves”, finaliza.