Estudante, mulher e LGBT, conheça a candidata à vereadora mais votada em Bento

A renovação política é uma bandeira que foi adotada por uma série de partidos e candidatos durante as últimas eleições no Brasil. Na região da Serra Gaúcha, o discurso parece ter surtido efeito. Mulheres e candidatos jovens passaram a ganhar mais notoriedade no pleito deste ano, mesmo aqueles que não venceram as eleições. Como é o exemplo da estudante de Licenciatura em Pedagogia pelo IFRS Beatriz Lima, que fez história em sua primeira eleição. Candidata à vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Beatriz conquistou o voto de 582 bento-gonçalvenses, tornando-se a candidata mais votada no município. 

Aos 25 anos, a estudante veio de Belém do Pará com sua família para buscar uma nova vida. Sempre engajada com questões feministas e LGBT, Beatriz conta que começou a tomar a frente de movimentos estudantis no IFRS Campus Bento, o qual considera sua segunda casa. Por lá, ela fez parte do grupo que fundou o Diretório Central dos Estudantes (DCE), onde passou a se envolver diretamente com pautas voltadas à educação. “O campus tem mais de 2 mil alunos e acabava tendo muitas ramificações dos seus representantes. No final, não tinha um resultado coletivo para entender as demandas dos alunos. Por isso criamos o DCE”, comenta. “Também participo da União dos Estudantes do Estado do RS (UERS), sendo uma das representantes do IF”, complementa. 


Foto: Eduarda Bucco
 

Entre suas principais propostas como candidata, estava a criação de um cursinho pré-vestibular gratuito, a fim de tornar o Ensino Superior mais acessível para todos. “Tem outras cidades que implantaram esse curso e deu muito certo. A ideia é que a universidade seja um espaço para todos, não apenas para quem tem poder aquisitivo, e um cursinho pode proporcionar e garantir esse acesso ao Ensino Superior”, analisa. 

Em Belém, Beatriz sempre esteve envolvida com manifestações sociais, principalmente aquelas ligadas às classes mais vulneráveis. “Aqui [em Bento] participei de manifestações junto aos professores do Estado e também da primeira mobilização do DCE no ano passado, contra o corte do orçamento das instituições federais”, recorda. “A gente se mobilizou aqui para não ficar apenas na Capital. Porque a ideia do IF é justamente que exista uma formação de Superior, Médio e Técnico também nas cidades menores, até mesmo para atingir as comunidades mais vulneráveis”, comenta. 
Além da educação, Beatriz levanta a bandeira da representatividade feminina e LGBT e do antirracismo. “Acredito muito que precisamos dessa representatividade em espaços de poder, por isso é tão necessário ter um coletivo ou representações que atuem nessa frente”, afirma. “A gente sabe que uma Câmara de Vereadores que não tem mulheres acaba não refletindo a necessidade das mulheres na sociedade. E isso acontece não apenas aqui em Bento, mas em diversas cidades do país”, analisa. 


Imagem: Reprodução/Instagram
 

Convite para o Legislativo

Beatriz conta que optou por concorrer ao pleito a convite da presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sindiserp-BG), Neilene Lunelli. “Então decidi que iria concorrer pela necessidade da expressão de mulheres que levantem essas pautas”, recorda. 

Durante sua campanha, Beatriz conta que passou por diversas ruas da cidade e conversou com inúmeras pessoas que se mostraram receptivas em relação às suas propostas. Para tanto, participou de jornadas de preparação oferecidas pelo partido, a fim de se tornar mais capacitada para concorrer ao cargo. “Nós aprendemos a fazer a campanha de forma coletiva, trazendo as pessoas que se identificam com as nossas bandeiras para perto da gente. E eu acredito que os meus principais aliados são meus amigos, minha família e os militantes do PT, que acreditam na nossa bandeira”, comenta. 

A estudante complementa que, mesmo com uma boa receptividade, a maioria das pessoas ainda se mostrava impressionada quando ela se apresentava como candidata.  “As pessoas falavam muito que acreditam na renovação política, mesmo que isso não tenha acontecido nessas eleições. E eu pretendo me candidatar novamente e também incentivar outras candidaturas femininas, LGBTs e antirracistas na sociedade, para que as pessoas possam se ver na Câmara de Vereadores”, diz. 

Agora, a estudante pretende criar um coletivo para abordar todas as pautas que ela acredita, a fim de pensar nas próximas eleições e promover iniciativas voltadas a essas questões sociais em Bento Gonçalves. “Ainda é um tabu em nossa cidade. Não posso generalizar, mas a maioria ainda precisa abrir a cabeça para essas questões. E a gente sabe que não é batendo de frente ou atacando, mas sim dialogando. Eu acredito no diálogo e na educação como peça chave de transformação”, afirma. 

Beatriz finaliza afirmando que ficou contente não apenas com o seu resultado nas eleições deste ano, como também com o resultado das demais candidatas mulheres. A estudante também agradece os seus 582 eleitores e eleitoras que deram um voto de confiança em seu trabalho. “Eu sei que muitas mulheres se viram na minha campanha e se identificaram. Hoje estou quase me formando e pretendo fazer um mestrado na área da educação, porque eu quero me tornar uma pessoa mais qualificada para exercer o cargo que eu almejo. É preciso que se tenha argumentação e base para defender as pautas que acreditamos”, conclui.