Exemplos de altruísmo e generosidade
Em meio à pobreza e à falta de dignidade de uma região cujos moradores passam necessidades extremas, surgem exemplos de solidariedade. No bairro Municipal, dois voluntários dedicam tempo e até mesmo recursos próprios para ajudar os vizinhos.
Na segunda reportagem da série “Uma Bento Gonçalves que poucos conhecem”, você acompanha a história de Edes Castilho, de 52, e José da Silva, 48. A iniciativa e a dedicação deles garante que cerca de 30 famílias recebam semanalmente sopão. Em áreas distintas do mesmo bairro, eles exercem um trabalho de liderança comunitária, organizam donativos e são responsáveis pelo controle do que cada família recebe.
Dona Edes é evangélica. Zé Paraná, católico. Para desenvolver o trabalho, ambos deixam as diferenças religiosas de lado e contam com ajuda quase que exclusiva de voluntários do Centro Espírita Nossa Casa. Conheça as histórias deles.
“Sempre cabe mais um”
Um dos ícones da rua Lajeadense é uma simpática senhora conhecida na região pela sua generosidade. Aos 52 anos, Edes Castilho é exemplo de altruísmo por ajudar vizinhos a sobreviverem, apesar dos próprios problemas. Semanalmente ela abre a própria moradia – uma casa simples, de madeira, com espaço restrito e problema de infraestrutura – para servir sopão a famílias vizinhas e distribuir ranchos e donativos entregues a ela pelos voluntários do Nossa Casa e por pessoas da comunidade, que levam doações esporádicas.
Para a Dona Edes, como é carinhosamente chamada, não basta ser caridoso, é preciso selecionar os beneficiados e controlar a distribuição para evitar o assistencialismo, uma das lições que ela, evangélica, aprendeu com os voluntários do centro espírita. “Acabou sendo mais fácil de controlar depois que começamos a trabalhar na minha casa, mas é preciso firmeza porque muitas pessoas mal-intencionadas e que não precisam insistem em buscar ajuda não só aqui, mas em outros lugares”, conta.
Antes de ceder a própria casa, Dona Edes chegou a utilizar o porão de duas igrejas. Segundo ela, não houve continuidade na iniciativa porque as doações feitas por pessoas de outra crença não eram bem-vindas aos olhos dos responsáveis. Outro problema foi a segmentação do público. “Queriam que a assistência ficasse restrita aos fiéis, mas havia outras pessoas que precisavam e tinham outras crenças”, detalha.
Desde que assumiu o controle da distribuição dos donativos, Edes conta com a ajuda da filha Gisele, que coordena detalhadamente a lista de beneficiados e encaminhando a relação de necessidades para o Nossa Casa. Semanalmente são distribuídos cinco ranchos, o que faz com que cada família receba uma sacola de alimentos a cada 15 dias.
“De tudo um pouco”
Na casa de José da Silva, de 48 anos, a solidariedade tem prioridade absoluta. Conhecido no bairro como “Zé Paraná”, apelido que deixa claro onde ele nasceu, o voluntário se divide entre o trabalho de eletricista e a administração comunitária, acumulando cargos como vice-presidente da Associação de Moradores do bairro e tesoureiro da igreja, além das ações voluntárias nas horas de folga. Zé Paraná mora há 23 no Municipal e conta que começou a ajudar há cerca de quatro anos, quando uma família perdeu tudo o que tinha em um incêndio, caso gerou grande comoção e mobilização na comunidade. Desde então, nunca mais parou.
Hoje ele recebe alimentos perecíveis e não perecíveis, móveis, roupas, eletrodomésticos e todos os tipos de objetos que possam ajudar quem precisa. A maioria das doações vem do Centro Espírita Nossa Casa. A cada mês, são distribuídos 32 ranchos, além do sopão, servido semanalmente desde 2009. A entrega de donativos passa por um controle constante que visa verificar a situação de cada família e se ela ainda necessita da ajuda. “Se em uma casa o pai e a mãe ficarem desempregados, o rancho é dado até que a situação se estabilize, ou seja, um dos dois consiga um trabalho. Tão logo isso acontece, o donativo é direcionado a outra família, que esteja mais necessitada naquele momento”, detalha. “O acompanhamento também inclui perguntas sobre o porquê da demora em conseguir emprego, em alguns casos que se estendem por mais tempo e, quando possível, encaminhamento”, diz. O eletricista conta que já houve casos de famílias que deixaram de receber o benefício por estarem fazendo mau uso. “Um rapaz vendia os vidros de azeite que doávamos para a avó dele para comprar drogas. Quando descobrimos, a família parou de receber o rancho”, relembra.
Sopão
O sopão é servido aos sábados pela manhã. Os legumes e ingredientes como massa ou arroz são levados por voluntários do Centro Espírita Nossa Casa, enquanto os ossos que ajudam a dar sabor ao caldo são doados pelo minimercado Magrão, um estabelecimento do bairro. “A receita varia conforme os alimentos que chegam, mas nunca deixamos de fazer”, comemora Edes, que atende atualmente 14 famílias. Na cozinha de Zé Paraná são preparadas sopas suficientes para beneficiar, em média, 15 famílias a cada final de semana.
Reportagens geram repercussão positiva
A série especial feita pelo SERRANOSSA tem gerado bons resultados. Na última semana, após a publicação da primeira parte da reportagem “Uma Bento Gonçalves que poucos conhecem”, seis pessoas entraram em contato em busca de informações sobre como ajudar.
Na semana anterior, uma ação concreta conseguiu arrecadar 260kg de alimentos não perecíveis. A ideia surgiu após a publicação da reportagem “Para ajudar ainda mais”. O material, veiculado na edição do dia 21 de setembro, contou a história do pastor Alfeu Ferreira, que serve sopão e entrega donativos a famílias carentes do bairro Zatt. Funcionários da Rinaldi ficaram sensibilizados e decidiram criar uma campanha interna para arrecadar donativos. A empresa comprometeu-se a dobrar a quantidade doada. Em poucos dias, um total de 260kg de alimentos (130kg arrecadados entre os colaboradores e outros 130kg adquiridos pela empresa) foram entregues ao Centro Espírita Nossa Casa. “Gostamos muito do resultado. É claro que poderia ter sido melhor, mas para uma primeira campanha foi ótimo”, comemora Laura Piccin Pandini, uma das organizadoras da mobilização, que atua como coordenadora do Sistema de Gestão da Qualidade na Rinaldi. Ela conta que, para motivar os funcionários, encaminhou o link da reportagem extraído do portal SERRANOSSA para todos os e-mails da empresa. A arrecadação aconteceu durante a Semana Interna de Prevenção a Acidentes de Trabalho (Sipat), realizada entre os dias 24 e 28 de setembro. A entrega foi no último dia 17, na sede do Nossa Casa, no bairro São Bento.
Reportagem: Greice Scotton
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