Fabricação de bochas paralímpicas com mão de obra prisional une ressocialização e solidariedade no RS
Cerca de 50 kits estão sendo confeccionados por quatro apenados para doação a pessoas com deficiência
Com foco na promoção do trabalho como possibilidade de ressocialização de apenados e no incentivo à solidariedade, a Penitenciária Modulada Estadual de Ijuí (PMEI) deu início no começo de agosto à fabricação de bochas paralímpicas, que serão doadas a pessoas com deficiência no Estado. Os itens são produzidos artesanalmente, costurados a mão por quatro detentos do estabelecimento, que são beneficiados com a remição de um dia da pena a cada três trabalhados.
A ideia é que as bochas sejam utilizadas para treinos nas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) do Rio Grande do Sul, como meio de ampliar o acesso ao esporte entre essa parcela da população. Qualquer pessoa em cadeira de rodas com alguma deficiência grave que afete a função motora pode praticar a modalidade.
A diretora da PMEI, Darlen Bugs, destaca que a ação é fruto de uma série de esforços realizados por diversas pessoas na unidade e reforça a importância do trabalho prisional. “O projeto das bochas paralímpicas é construído por diversas mãos. No momento que fomos escolhidos aqui na penitenciária para desenvolvê-lo, passamos a estudar e a conhecer ainda mais o assunto. Para nós, é um sonho poder desenvolver essa iniciativa. O mais gratificante de tudo isso é poder unir o trabalho prisional, que já é por si só um dispositivo de reinserção social, junto de uma ação tão importante quanto essa”, afirma Bugs.
Há cerca de quatro anos, a partir da procura de entidades que lidam com pessoas com deficiência por parceiros para confeccionar as bochas, a PMEI passou a desenvolver estudos para produzir os itens com um valor mais acessível do que o encontrado no mercado. Esse processo, que durou um ano, envolveu testes com diversos materiais, para alcançar o tamanho e o peso ideais. Um kit de bochas paralímpicas custa, em média, R$ 1 mil, já no estabelecimento prisional, o preço é de R$ 100.
Para iniciar a confecção, a unidade conseguiu uma parceria com a empresa 3tentos para financiar o projeto, intermediada pela Apae do município, em 2024. Com o recurso de R$ 5 mil, foi possível comprar os materiais necessários para a fabricação de 50 kits, que são compostos por 13 bochas cada. Os apenados devem concluir todos os kits em cerca de dois meses.
O secretário de Sistemas Penal e Socioeducativo, Luiz Henrique Viana, considera que a utilização da mão de obra prisional vai além da atividade estritamente laboral. “Ao proporcionar aos apenados a oportunidade de participar diretamente da fabricação de equipamentos que promovem o esporte e a inclusão, estamos contribuindo para a reintegração desses indivíduos na sociedade”, destaca.
O papel da mão de obra prisional
As quatro pessoas privadas de liberdade que trabalham na confecção das bochas já possuíam experiência na costura desse tipo de material por terem atuado na fábrica de bolas de futebol que existe dentro da unidade prisional. A fabricação é toda artesanal e formada por algumas etapas.
Em um primeiro momento, são costurados os pedaços do tecido que forma a bocha. Depois, dois tipos de polietileno – um para dar volume e o outro para alcançar o peso específico – são pesados para preencher o item. Em seguida, é feito o fechamento de cada uma e, para finalizar, um soprador térmico é usado para tirar qualquer deformidade que tenha permanecido no decorrer da produção.
Para os detentos que atuam no projeto, a ação é uma oportunidade que vai além da remição da pena e promove benefícios para outra parcela da população, conforme explica Wagner Baumgratz, apenado que coordena o setor onde a iniciativa é desenvolvida.
“O projeto das bochas para as Apaes veio a somar no nosso dia a dia. É um trabalho voluntário muito importante para o nosso processo de ressocialização, porque envolve também a compaixão, mexe com o nosso lado solidário, que, muitas vezes, para nós, apenados aqui dentro do sistema, acaba sendo esquecido com o passar do tempo”, ressalta.
Referência em trabalho prisional na região, a PMEI oportuniza diferentes atividades laborais para os apenados, mas prioriza também a implementação de ações que possam sensibilizar as pessoas privadas de liberdade que as desenvolvem, com uma percepção mais humanizada dentro do sistema prisional.
Sobre o esporte
A bocha paralímpica é adaptada para pessoas com deficiência e, além de ampliar o acesso ao esporte, visa melhorar a capacidade física e as habilidades motoras dessa parcela da população. Para jogar, é necessário utilizar uma quadra retangular de piso liso e marcações específicas, seis bolas vermelhas, seis azuis e uma branca. O principal objetivo é jogar as bolas coloridas o mais perto possível da bola branca.
É permitido usar as mãos, os pés, instrumentos de auxílio e até ajudantes no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros. A bocha é um dos esportes em que homens e mulheres competem juntos e pode ser praticado de forma recreativa ou competitiva e como atividade física educativa. Além disso, desde 1984, é uma das modalidades dos Jogos Paralímpicos.