Prefeitura intensifica ações para tentar diminuir número de faltas em consultas

É provável que você já tenha ouvido a história de alguém precisou amargar uma longa espera até conseguir atendimento médico pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na área da oftalmologia, por exemplo, cinco mil pessoas esperam por um agendamento em Bento Gonçalves. Com base nesses dados, você pode supor que ser chamado para a consulta deve ser uma boa notícia. Qual seria então o motivo para que mais de 20% dos pacientes faltem ao horário marcado sem justificativa? “Nos locais de demanda reprimida é onde se verifica a maior ausência”, avalia o secretário de Saúde, Diogo Segabinazzi Siqueira, fazendo um alerta para uma das possíveis causas do aumento da fila. 

Nos primeiros sete meses deste ano, dos 48.478 pacientes com consultas agendadas em diversas especialidades, 7.292 – ou seja, 15% – não compareceram. Em algumas especialidades, como Psicologia e Nefrologia, o índice é baixo, beirando os 5%. Em outras, entretanto, como é o caso da oftalmologia, ultrapassam os 20% – Neurologia, Odontologia, Ginecologia, Infectologia e Clínica-geral registram números parecidos. 

Os motivos, segundo o secretário, são difíceis de precisar. Embora nos últimos anos os índices tenham diminuído – em 2015 a média de faltas era 21,5% – a intenção da prefeitura é reduzir ainda mais. “A população já está se conscientizando. Já houve uma melhora gradual”, pondera o secretário. Em setembro, como projeto-piloto, a secretaria irá realizar uma busca ativa para os pacientes das unidades Central e Zona Sul, lembrando dos agendamentos com dois dias de antecedência. “Queremos descobrir se é uma falha interna de comunicação ou do próprio paciente”, analisa. Atualmente, o contato telefônico é feito apenas para exames mais caros e cirurgias (onde o índice de ausências é muito baixo). Embora alguns pacientes avisem que não poderão comparecer, o secretário alerta para a importância de que a comunicação ocorra com no mínimo dois dias de antecedência, dando tempo hábil para encaixar o próximo da fila.

Prejuízo financeiro

Com relação aos exames médicos, do valor empenhado de R$ 1.371.840, 10,37% não compareceram, gerando um prejuízo de R$ 142.348,37. Entretanto, é difícil de precisar o gasto total ocasionado pela falta de comparecimento às consultas. No caso de atendimentos feitos por credenciamento de profissionais – como é o caso da Oftalmologia – não há desperdício de recursos em si, já que o pagamento é feito somente se há o atendimento. Entretanto, as ausências contribuem para o aumento da fila. 

Para consultas com profissionais do quadro de médicos do município – efetivos ou terceirizados –, que recebem um salário mensal independente dos atendimentos realizados, há perda indireta de recursos. “O município conta hoje com 150 médicos e uma folha de pagamento de R$ 40 a R$ 50 milhões. Com as faltas, seria como se 15% deste valor estivesse sendo desperdiçado”, compara. Segundo ele, a solução para melhorar o serviço não passa necessariamente por contratar mais profissionais, mas consiste em melhorar o sistema – incluindo a contrapartida do paciente. “O grande problema do Brasil é acreditar que o SUS é gratuito quando na verdade tem um custo alto. Ele é direito do cidadão, mas também é um dever. Não é só a prefeitura que tem prejuízo, é um dinheiro de todos nós”, comenta.