Falta mão de obra no campo
Os filhos dos agricultores já não estão mais optando pela vida no campo, os produtores rurais estão envelhecendo e há uma latente preocupação em relação ao futuro da uva em Bento Gonçalves. Além disso, muitas vinícolas têm optado pela produção própria em diferentes locais do Estado e do Brasil, abrindo mão do trabalho de centenas de pessoas que há décadas se dedicam ao cultivo do fruto símbolo do município. Se não bastassem estes prognósticos, o preço mínimo ainda não foi definido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), já que não houve acordo entre os sindicatos e indústria.
Para a próxima safra, que deve ser maior que a do ano passado, já há uma preocupação imediata em relação à colheita. Além da escassez de pessoal para trabalhar, o custo para o agricultor chega a representar 42,9% do total de despesas da produção. Segundo levantamento da Comissão Interestadual da Uva, hoje, o produtor tem um custo de, aproximadamente, R$ 20.940,45 para um hectare de área plantada de uva comum. Deste valor, pelo menos R$ 8.814 são destinados à mão de obra. Em relação a 2013, os gastos com pessoal estão 13,80% mais altos.
De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçaves, Inês Fragherazi, a desmotivação dos agricultores é nítida. “Existem propriedades rurais que estão sendo vendidas e transformadas em sítio. Além disso, o jovem está indo embora e no campo estão, basicamente, as pessoas de mais idade. As indústrias que não possuem produção própria podem ser penalizadas dentro de alguns anos por causa disso”, comenta. Segundo ela, já no período de poda, o agricultor tem bancado em média R$ 110 por dia para cada trabalhador, fornecendo ainda moradia, alimentação, transporte e roupa lavada. “Para a safra, o valor médio pago é de R$ 120”, afirma.
O presidente do Sindicato Rural da Serra Gaúcha, Elson Scheneider, afirma que a falta de mão de obra é “enorme” no campo, principalmente em termos de qualificação. Para ele, a solução seria fazer uma ficha cadastral de profissionais que, anualmente, chegam à Serra Gaúcha para trabalhar na safra, e, dentro da legislação, encaminhá-los para oportunidades no campo. “Nós, enquanto sindicato, estamos nos propondo a fazer este trabalho. Fazer um cadastro destes profissionais, fornecer um contrato de trabalho e todos os anos destiná-los aos produtores. Mas não depende só de nós. É necessária uma união de entidades para que isso ocorra”, explica. “Hoje, existe muita informalidade. Não há segurança para o agricultor. Há casos de violência, como furtos e roubos, agressão aos produtores e, inclusive, polícia prendendo foragidos embaixo dos parreirais. Através de um cadastro, temos a origem do trabalhador e o agricultor pode contratar e encerrar o vínculo trabalhista dentro da lei”, conclui.
De Nonoai a Bento há dez anos
Fernando Cobalchini, 51 anos, sente na pele a dificuldade em cada safra. Com produção em São Valentim, o agricultor necessita de, pelo menos, 15 pessoas para ajudar na colheita de cerca de 600 toneladas de uva. Os filhos mais velhos, de 20 e 23 anos, já não ajudam mais no campo. Escolheram estudar e trabalhar na cidade. “O pessoal de Bento não tem muita vontade de trabalhar na safra. Então, anualmente, preciso encontrar profissionais de outros lugares”, conta o agricultor, que gasta, em média, R$ 20 mil em mão de obra durante a safra.
Produtor de soja na cidade de Nonoai, Vanderlei Granzotto, 34 anos, vem há pelo menos dez anos ajudar Fernando. Ele chegou no final de outubro em Bento Gonçalves para trabalhar na poda verde das parreiras da uva de mesa e também já está auxiliando na busca de pessoas para trabalhar na safra. “Tenho muitos conhecidos da minha região que convido para vir trabalhar aqui durante o período”, afirma Granzotto, que, como os outros profissionais, ganha alimentação, moradia e roupa lavada durante o período.
Produção deve ser maior que a do ano passado
De acordo com o técnico agrícola da Emater, Neiton Bittencourt Perufo, as expectativas para a safra 2014/2015 são boas em relação ao ano passado. “Acreditamos que seja de 20% a 30% maior”, comenta. Os resultados positivos se darão, especialmente, se o tempo colaborar. “Caso não ocorra nenhum temporal, com granizos, por exemplo, que danifiquem os parreirais, podemos ter um bom volume”, estima.
Perufo afirma que, embora os últimos temporais tenham prejudicado alguns pontos específicos na cidade, com quebra de galhos, não foi o suficiente para atrapalhar a brotação. “Estamos agora no período de enchimento de bagas e tudo está ocorrendo dentro da normalidade”, garante.
Em relação à mão de obra, o técnico, que convive diariamente com os agricultores, também sente a defasagem de pessoal para trabalhar no campo. “Tem muitos filhos que migraram para a cidade e, no campo, ficam basicamente as pessoas mais velhas. Por causa disso, a necessidade de contratação é grande”, complementa.
Perufo afirma que já para o Natal e Ano Novo as safras precoces irão abastecer os supermercados.
Reportagem: Raquel Konrad
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