Família de idoso fala sobre vídeo que circula nas redes sociais mostrando atendimento na UPA
Desde sábado, 25/07, a família Tristacci tem vivido um drama em torno da saúde do patriarca Alberto Tristacci, de 81 anos. Um vídeo que viralizou nas redes sociais nesta segunda-feira, 27/07, denuncia a espera do idoso por um leito na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que durou por mais de 10 horas, além da precária estrutura na qual ele ficou instalado. Mas este foi apenas um dos problemas enfrentados pela família.
Em entrevista ao SERRANOSSA, o filho de Alberto, Carlos Tristacci, revela que tudo começou no sábado, quando a família buscou atendimento na unidade após o idoso ter uma queda, apresentando perda de força nas pernas, falta de ar e dificuldade ao falar, características semelhantes ao apresentado da última vez que foi acamado por conta de um acidente vascular sofrido em 2016. “O médico que nos atendeu solicitou alguns exames e, para nossa surpresa, disse que estava tudo normal, que não tinha sinais de fraqueza e chegou a dizer que os sintomas eram psicológicos, pedindo para procurar um posto de saúde ou médico particular para investigar”, revela o filho. O idoso foi liberado para ir para casa.
Durante o final de semana, Alberto apresentou piora no seu quadro de saúde. Na segunda-feira, ele já sentia bastante dificuldade ao falar e não caminhava, além de apresentar confusão mental. Às 13h30 a família novamente retornou à UPA e novos exames foram feitos. “Ele passou pela triagem, realizou o teste rápido de COVID, que deu resultado negativo, fizeram raio-X, exame de sangue e urina e ficamos esperando os resultados do exame naquela barraca instalada em frente à UPA”, detalha, Carlos.
Algumas horas depois, um médico apresentou o diagnóstico dizendo que seu pai estava com pneumonia e que iria necessitar de um leito. “Mudaram os médicos, trocaram os enfermeiros, e meu pai seguia sentado naquela cadeira, embaixo daquela barraca, no frio, sem qualquer previsão de leito. Por volta das 22h, ele começou a ficar muito indisposto e fui chamar um profissional e não encontrei ninguém na barraca. Gravei um vídeo e enviei para minha família para demonstrar a situação e eles publicaram nas redes sociais e mandaram para algumas autoridades”, comenta, dizendo que uma médica apareceu meia hora depois explicando que naquele momento os profissionais estavam em atendimento interno.
O leito só apareceu por volta das 23h30, quando a equipe da UPA comunicou que um dos pacientes internados havia falecido. “Meu pai só conseguiu um leito porque alguém morreu e isso é revoltante”. Sem poder acompanhar o pai na internação, os familiares voltaram para casa. No dia seguinte, terça-feira, 28/07, mais uma surpresa: Carlos recebeu uma ligação dizendo que o pai tinha saído do quarto semi-intensivo, que estava na sala de medicamentos e que seu diagnóstico tinha sido alterado. “Minha primeira preocupação era saber se ele estava em uma ala segura e se estava com máscara, mas ninguém sabia me dizer. Corri para a UPA e quando cheguei lá, ele estava em uma sala de medicação onde ocorre grande circulação de pessoas e sem máscara”, denuncia.
Em conversa com uma terceira médica ele descobriu que, na verdade, o seu pai não estava com pneumonia e que, como toda a família desconfiava, possivelmente tratava-se de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). “A doutora foi superatenciosa, disse que ia se responsabilizar pelo caso e solicitou mais exames. Mas nesta hora meu vai já estava hipoglicêmico e recebeu medicação. Agora ele está sendo bem atendimento, em uma sala adequada, mas as consequências pelo diagnóstico errado, pelo descaso no atendimento, podem ser permanentes: meu pai pode não andar e não falar mais. E sábado levei ele na UPA andando e falando!”, completa.
Exames feitos pelo paciente
“Nossa saúde pública não é modelo”
Mais tranquilo agora, Carlos se mostra preocupado com a estrutura do sistema público de saúde de Bento Gonçalves. Para ele, os médicos da cidade não são só heróis porque estão na linha de frente do combate a pandemia, mas por conta da “péssima estrutura” na qual atuam. “Eu vi médico conferir raio X na lâmpada da luz da barraca da UPA – que nem podemos chamar de barraca e sim de barraco, porque agora têm uma lona cobrindo os buracos da estrutura. O local é sujo, é frio, é úmido. Teve um momento, nestas 10 horas que meu pai ficou esperando leito, que tinha cachorro circulando no local e dormindo do lado da cadeira que ele estava. Como um animal circula livremente onde pessoas doentes são atendidas?”, questiona ele, que pensou, inclusive, em chamar a vigilância sanitária para o local.
Outro ponto reiterado por Carlos é o fato que muitos problemas de saúde acabam sendo descartados por conta de suspeita de coronavírus. “Pelo simples fato do meu pai estar com falta de ar, já encaminharam ele como um caso suspeito de COVID, sendo que ele tinha histórico de AVC e de problemas cardíacos. Entendo que é um momento complicado, mas nem tudo que acontece agora é o vírus e as alas devem ser melhor divididas para que pessoas como meu pai, que chegaram com um problema, não acabem sendo contaminadas também”, pontua ele. “Vi muitas pessoas e até o governo municipal falando que Bento é modelo de saúde e no combate, mas o que vimos neste dia é um exemplo do que não deve ser seguido em lugar nenhum”, pontua.
Caso o quadro de Alberto não se reverta e ele fique com sequelas, Carlos pretende processar o Poder Público pelos erros iniciais de diagnósticos e também pelo descaso no atendimento.
O que diz a Secretaria de Saúde:
“Sobre o caso citado no vídeo, a Secretaria da Saúde logo que recebeu a informação verificou o ocorrido com as equipes de coordenação da UPA e do atendimento fast track. E esclarece:
O ambulatório fast track não estava vazio. No horário das 22h, não havia mais pacientes para atendimento e o médico responsável estava na parte interna da UPA para reavaliar leito para o paciente, após reavaliação clínica e laboratorial.
A equipe de enfermagem estava no monitoramento dos pacientes. O senhor estava no local, pois realizou teste, e imediatamente iniciou terapia conforme a conduta médica e oxigênio no local. Foi mantido próximo, para reavaliação do médico que o atendeu para posteriormente ser encaminhado para leito hospitalar. A estrutura fast track é o local de referência para o primeiro atendimento de suspeita da COVID-19, e tem estrutura, aquecedores para o frio e visa manter os pacientes isolados para evitar a contaminação.
Desde o início do trabalho contra o coronavírus, a Secretaria da Saúde busca as melhores formas para manter o atendimento qualificado da população. Com respeito aos pacientes e familiares. Mantendo a manutenção da vida como fator primordial.
Toda forma de manifestação é válida e importante para o andamento do trabalho no Complexo de Saúde. A secretaria está em contato com os familiares, e nossas equipes estão à disposição para dúvidas e esclarecimentos.”