Familiares e amigos prestam homenagem àqueles que tiveram sua vida interrompida pela COVID-19

Bento Gonçalves ultrapassou na segunda-feira, 21/06, a marca de 300 mortes em decorrência da COVID-19. No total, 313 pessoas já perderam a luta contra o Coronavírus no município desde o início da pandemia. No começo do ano passado, quando ainda se tinha pouca informação sobre o vírus, Bento jamais pensou que atingiria esse número. 

Além de idosos e pessoas com comorbidades, grupos considerados de risco, a COVID-19 levou pessoas mais jovens e sem doenças pré-existentes, com filhos pequenos, com objetivos e com sonhos que não puderam ser concretizados. No mês de maio, o município registrou a menor média de idade desde o início da pandemia: 62 anos. 

Nesta edição, o SERRANOSSA conversou com familiares e amigos de pessoas especiais, que tiveram sua vida interrompida pelo vírus, mas que deixaram marcas eternas para aqueles que tiveram a chance de compartilhar sua vida com elas. É uma homenagem a todos os 313 moradores de Bento que partiram por uma doença que, há mais de um ano, tem feito milhares de vítimas diariamente no mundo.  

Genice venceu desafios e sonhava em ser professora

Natural do Maranhão, Genice Teixeira Sales Angheben, de 40 anos, tinha entre seus principais objetivos terminar a faculdade de Licenciatura em Pedagogia, no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus Bento. Mesmo sem o diploma em mãos, Genice já mostrava a todos que seria uma grande profissional.  “Era uma mulher batalhadora, lutando para conquistar seu espaço enquanto professora. Ria e se divertia com as colegas. Falava muito do filho, que ainda dependia muito dela, e almejava terminar a faculdade”, recorda a diretora da escola infantil Criança Feliz, Jamiele Flamia, onde Genice atuava desde março deste ano. 

E quem passava por sua vida, permanecia, a exemplo da ex-cunhada Tatiane Angheben Batista, com quem dividiu momentos especiais. “A Genice foi uma pessoa de alma linda, uma grande irmã que a vida me deu. Sempre disposta a ajudar. Guerreira! Passou por muitos desafios em sua vida, desde sua infância pobre e sofrida. Sempre muito alto astral, devota de sua religião à qual participava assiduamente. Uma mãezona, que fazia tudo o que fosse preciso pelo filho. Corajosa, pois sempre foi em busca de seus sonhos”, conta Tatiane. A ex-cunhada ainda recorda sobre o carinho que as crianças das escolas onde trabalhou durante sua vida sentiam por Genice. “Ela acolhia e tratava todas as crianças como seus próprios filhos. Sempre com muito carinho e cuidado”, diz. 

Genice morreu no dia 15/06. Além de familiares e amigos, comoveu a todo comunidade acadêmica do IFRS, o qual decretou luto por três dias, com suspensão das aulas. A estudante de Pedagogia deixou seu filho de 10 anos e o namorado, com quem vivia atualmente. “Ela deixa sua família no Maranhão e sua outra família aqui, que somos nós de Pinto Bandeira e Bento Gonçalves”, finaliza a ex-cunhada. 

Simone deixa legado de amor pela natureza e pelas pessoas


 

Simone Dalla Costa Lemos, de 51 anos, ficou conhecida pela dedicação e pelas iniciativas criadas em prol do meio-ambiente. A bióloga começou a atuar no município de Bento Gonçalves como professora, em 1990. Trabalhou como supervisora pedagógica da secretaria de Educação por 11 anos e, desde 2009, estava cedida para a Educação Ambiental, na secretaria do Meio Ambiente. Na pasta, a bióloga auxiliou na condução de projetos como agentes da natureza, florescendo para vida, educação ambiental sobre separação de resíduos, entre outras ações. E quem sempre esteve atuando e crescendo junto foi a amiga e colega Caroline Roberta Todeschini Lazzarotto. “Com ela os dias eram leves. Ela contagiava o ambiente com positividade. A Simone era uma inspiração em diversos aspectos: profissional, mãe, amiga. Mais que uma colega, era uma grande amiga. Era um privilégio compartilhar os dias com ela”, declara a amiga. 

Além de professora da rede municipal, Simone atuou na Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde contribuiu na formação de inúmeros profissionais que hoje atuam nas escolas de Bento Gonçalves e região. “Em 2008, tive a oportunidade iniciar com ela o Setor de Educação Ambiental, que atua no diálogo e relacionamento com a comunidade”, recorda Caroline. No setor, Simone elaborou e executou dezenas de projetos e ações em prol da comunidade. 

Juntas, Simone e Caroline escreveram o livro “O Encanto da Cascata”, em 2013, o qual deu origem a uma peça teatral que reuniu milhares de espectadores. “Ainda sem data de lançamento, também redigimos o Livro Bela Descoberta, que buscará educar e sensibilizar sobre a questão dos resíduos”, adianta a colega. 

Na opinião da amiga de décadas, Simone deixou o legado “do diálogo, do entendimento, das relações carismáticas. Do amor pela natureza e pelas pessoas. Além disso, diversas ações voltadas à comunidade nas questões ambientais”, afirma. Apesar de descrever a dor da perda como intensa e constante, Caroline se agarra à fala do filho de Simone, o Pedro, de apenas 11 anos: “Quando soube que a mãe tinha partido, ele falou à madrinha dele que todos nós temos um propósito nesse mundo, e se a mãe dele tinha partido, era porque tinha cumprido o propósito dela”.

Tatiane era apaixonada pelo mundo do vinho e pela vida


“O que temos iremos deixar… O que somos irá a qualquer lugar conosco”. Quem pesquisava Tatiane de Lima nas redes sociais encontrava essa frase, que descrevia com exatidão a forma como a bento-gonçalvense levava a vida. “A Tati era de um riso fácil, difícil alguém não virar amigo dela”, conta a amiga Paola Barreto Petroli. 

Aos 36 anos, completos no dia 11/05, Tatiane se mostrava uma verdadeira apaixonada pela vida, aproveitando cada momento intensamente. “Tinha dicas para tudo, pensava na sustentabilidade do planeta. Tinha as melhores receitas. Era aquela amiga que estava sempre disposta para qualquer convite! Era apaixonada pela vida, pelo mundo do vinho, por música, pelos amigos, e amava sushi”, recorda a amiga. 

A amizade das duas teve início por volta de 2007 e, desde então, vinham compartilhando momentos especiais. “Era uma amiga muito próxima. Eu sou casada com o primo dela, temos um filho de dois anos, o qual ela tratava com muito carinho, assim como todos nós”, conta. “Nossa amizade era leve, era aquele tipo de amiga que eu podia falar o que quisesse sem julgamento algum”, continua Paola.  
Apesar da pouca idade, da vida saudável que levava e da sede de viver, Tatiane foi mais uma das vítimas que vivenciaram a pior face do Coronavírus. “Ela baixou hospital no dia 11/06 e foi entubada no dia 18/06”, conta a amiga. “Não consigo explicar em palavras o que significa a perda dela. Está doendo muito, ainda mais por saber que ela era saudável, uma pessoa tão alegre e que amava tanto viver”, lamenta.

Apesar da perda, a amiga agradece por ter tido a oportunidade de conviver com ela. “A Tati era iluminada, uma pessoa bondosa, alegre, sem preconceitos, uma pessoa fácil de amar”, homenageia. 
 

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