Farrapos: antes e depois de Baldassari

Ainda que por modéstia Carlos Andres Baldassari não se sinta à vontade para dimensionar o tamanho da contribuição que deu ao Farrapos, a meteórica ascensão do clube iniciou subsequentemente à chegada do uruguaio, em julho de 2009, e não é coincidência. Além de modesto, Baldassari é um especialista da bola oval que trouxe a expertise uruguaia, a experiência de uma Copa do Mundo e cravou um marco de antes e depois no rugby bento-gonçalvense.

O que eu agreguei ao clube? Acho que consegui trazer a bandeira do rugby, a filosofia, os valores do esporte. O que eu faço é tentar fazer com que os jogadores entendam mais o rugby. Mas não tenho a solução para tudo, sempre estou aprendendo”, relata Baldassari. Se por um lado não cansa de aprender, por outro também é verdade que o uruguaio tem muito a ensinar. Antes de Baldassari, o Farrapos era uma equipe coadjuvante no Rio Grande do Sul. A partir da chegada do treinador, conquistou quatro vezes o Campeonato Gaúcho, venceu uma Copa do Brasil e ascendeu à primeira divisão nacional, ocupando, hoje, o posto de quinto melhor time do país, tanto no XV como no sevens (modalidade olímpica).

Daqui a 50 anos o uruguaio será lembrado como o líder da geração que colocou o clube no mapa nacional, ainda que o futuro pareça não interessar ao técnico, e nas entrelinhas percebe-se que esse é um dos segredos para as façanhas que acumula à frente do time. Ele não faz projeções de longo prazo. Prefere concentrar-se nos pequenos desafios que se apresentam diariamente, e foi assim, com a filosofia do “grão em grão”, que construiu uma história indubitável no clube sem jamais ter almejado chegar a tanto. “Quando cheguei aqui não imaginava que um dia daria uma entrevista para o jornal fazendo um balanço de quatro anos no clube, pensava, sim, em fazer um bom trabalho, tentar aproveitar o máximo possível e aprender. Costumo dizer que quando cheguei a Bento tive que ensinar para os jogadores o que ensinava para os meus alunos de 10 anos no Uruguai”, conta.

Aos 34 anos, Baldassari tem na bagagem 28 primaveras no esporte. Começou a jogar aos seis anos, no Salto Rugby Club, onde permaneceu até os 18, quando mudou-se para Montevidéu. Foi no Champagnat, da capital federal, que se destacou e acabou chamado para a Seleção Uruguaia que disputou a Copa de 2003.  

Mesmo que deixe Bento futuramente, a cidade já fixou laços permanentes na história do uruguaio. Em março deste ano, nasceu Clara, sua primeira filha, bento-gonçalvense. E tudo indica, a pequena Clara vai crescer na cidade. Mesmo que não faça projeções de longo prazo e já tenha conduzido o clube a um patamar até então inimaginável, o incansável uruguaio enfatiza: ainda é possível ir muito além. “Eu sempre disse para os jogadores e para o presidente: enquanto eu tiver algo a aportar para o clube, vou continuar trabalhando. Agora, no momento em que eu sentir que já não há mais nada que possa fazer para contribuir, procurarei novos desafios e vou seguir minha vida. Hoje, o que posso dizer é que todos os dias eu tenho um novo desafio para superar no clube, seja dentro ou fora de campo”, conclui.

A metodologia do uruguaio

Carlos Baldassari vem de uma escola infinitamente mais graduada que a brasileira na matéria rugby. Los Teros, como é chamada a Seleção Uruguaia, já disputaram duas vezes a Copa do Mundo (1999 e 2003) e são, hoje, a segunda força da modalidade na América do Sul. Enquanto no Brasil os jogadores normalmente começam a praticar o esporte já adultos, no Uruguai há escolinhas para crianças a partir dos seis anos em todos os medianos e grandes clubes.

Quando chegou a Bento, então, a metodologia de Baldassari foi lapidar os jogadores individualmente para só depois pensar no coletivo, realidade totalmente oposta à uruguaia, quando os atletas já chegam à idade adulta dominando os fundamentos da posição. “O que temos hoje no Brasil são jogadores que vêm com uma carência técnica muito grande. Tem que se trabalhar muito, aprender a segurar a bola, correr com ela. Fazer o básico. Você tem que primeiro formar individualmente a parte técnica do jogador para que ele possa, na sequência, somar ao coletivo. Se o individual não funciona, fica muito difícil”, ressalta.

 

Reportagem: João Paulo Mileski


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