O cachê pago ao cantor, compositor e escritor Gabriel O Pensador, que será patrono da 27ª Feira do Livro de Bento Gonçalves, vem ganhando repercussão estadual. No último final de semana, dois acontecimentos endossaram a polêmica: o comunicado emitido pela Associação Gaúcha de Escritores (AGES) e a desistência do escritor Fabrício Carpinejar de participar do evento. Conforme já havia sido noticiado na última semana, a escolha do artista teve o dedo do prefeito Roberto Lunelli, que justifica a contratação dizendo que quer uma feira com contornos nacionais. Procurado pelo SERRANOSSA, o coordenador da 27ª Feira do Livro, Pedro Júnior da Fontoura, disse estar proibido de falar sobre o assunto. Segundo ele, só quem poderia se manifestar seria Lunelli, que não foi encontrado para comentar a repercussão negativa que a escolha do patrono vem gerando à cidade.
O evento foi lançado oficialmente na última quarta-feira, dia 18, e está marcado para acontecer de 9 a 20 de maio, na praça Centenário. O valor de R$ 169,4 mil, pagos a Gabriel O Pensador, inclui a compra de dois mil livros e a realização de duas palestras e um show no encerramento da feira.
Associação Gaúcha de Escritores se manifesta
No sábado, dia 21, a Associação Gaúcha de Escritores (AGES) emitiu um comunicado sobre a polêmica. “Aquilo que poderia ser visto como a valorização de um escritor apenas aponta para algo que já vem ocorrendo há muito tempo nas feiras de livro que povoam nosso estado: patronos midiáticos concedem maior possibilidade de que os meios de comunicação voltem seus holofotes para tais eventos. Gabriel é, portanto, apenas mais um”, diz a nota. A entidade afirma ainda que cada um cobra o que quer pelo seu trabalho. “O problema maior é quem paga uma exorbitância, a fim de que seu município possa ficar sob os holofotes”, continua o texto. O comunicado encerra dizendo que uma feira de livro se faz tratando seus contratados com igualdade.
Carpinejar cancela participação
No mesmo dia em que a AGES emitiu a nota, o escritor Fabrício Carpinejar encaminhou uma carta aberta à coordenação do evento cancelando sua participação. O fato foi divulgado em diversos jornais do Grupo RBS, tanto do Rio Grande do Sul como de Santa Catarina. “O anúncio de pagamento ao músico é uma afronta às vésperas de pleito eleitoral. Literatura não deve ser feita para atrair público, e sim para formar público”, escreveu. O escritor também comenta que em conversa com a produção da feira acertou um valor de R$ 1 mil, devido à alegação de que haveria limitação no orçamento. Ele encerra a carta dizendo que “a ilusão custa mais caro do que o sonho”.
Leia na íntegra o comunidade emitido pela AGES.
Reportagem: Carina Furlanetto
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