Feira do Livro: MP segue investigando prefeitura

A investigação sobre o pagamento de R$ 169,4 mil a Gabriel O Pensador, referentes à venda de dois mil livros e a uma apresentação na 27ª Feira do Livro, seguirá sendo feita pela Promotoria de Justiça Cível de Bento Gonçalves mesmo após o anúncio do cancelamento de parte das atividades. O inquérito civil público foi instalado no final da última semana. “O inquérito não termina por causa de uma nota oficial”, explica o promotor Alécio Silveira Nogueira.

O objetivo é investigar se houve irregularidade na contratação do artista. Nogueira havia dado prazo até a terça-feira, dia 24, para que a prefeitura prestasse esclarecimentos, porém não obteve resposta. Coincidentemente, no mesmo dia em que deveria se explicar ao MP, a prefeitura convocou coletiva, minutos após o patrono da feira ter falado com a imprensa.

Diante da falta de respostas, novo prazo será dado ao município, desta vez para apresentar os documentos referentes ao cancelamento da compra de livros e contratação do show. “Não pode ter sido apenas um acordo verbal. É preciso a prova de que não há mais vínculos e de que se algum valor já havia sido pago que o mesmo tenha sido devolvido”, alerta.  Caso o município não responda novamente, a Promotoria pode ingressar com ação judicial.

Cancelamentos

Em entrevista coletiva no final da tarde de terça, Gabriel O Pensador anunciou o cancelamento do show que faria no dia 20 de maio e a venda de dois mil livros de sua autoria (mil exemplares de “Um garoto chamado Rorbeto” e mil de “Diário Noturno”). Apesar disso, ele segue sendo o patrono, mas abriu mão de qualquer cachê e anunciou que devolverá o valor  recebido pela primeira parcela do contrato. O artista estará em Bento nos dias 9 e 10 de maio, para abertura do evento e uma palestra.

Na entrevista, ele disse ter demorado a entender o motivo da polêmica. “Não gostaria de estar aqui fazendo isso, mas é preciso ter humildade para entender o ponto de vista de quem está do outro lado. Não quero que ninguém se sinta desprestigiado”, declarou, visivelmente chateado, mas afirmando que os valores estavam dentro da realidade. Ele disse ainda ter se sentido injustiçado e que o acerto para a venda de livros e o show foi feito antes mesmo de ter sido escolhido patrono. A decisão de juntar a apresentação com o evento foi do prefeito Roberto Lunelli, responsável também pelo convite para o posto de patrono. “Não estava cobrando nada pelo posto”, informou.   

Para Gabriel, os questionamentos são válidos, embora acredite que a repercussão negativa tenha sido motivada por questões eleitoreiras. O artista afirmou não ter relação com nenhum partido político e também manifestou a vontade de voltar a Bento para realização de show, desvinculado do poder público. “Desta vez, com bilheteria”, garantiu.


Valores detalhados

* Passagens, hospedagem, translado, deslocamentos e alimentação para os dias 18 de abril, 9, 10, 11 e 19 de maio de 2012: R$ 21,36 mil;

* Duas palestras com distribuição de dois mil livros para as bibliotecas das escolas da rede municipal: R$ 70 mil;

* Show de encerramento (20 de maio), com equipe de 12 pessoas da banda: R$ 78,07 mil (sendo R$ 60 mil de cachê mais impostos tributáveis).

Fonte: Prefeitura/BG

Prefeito fala em mentiras

O prefeito Roberto Lunelli (PT) pronunciou-se oficialmente à imprensa na noite de terça-feira, dia 24, após a entrevista do artista. Para o prefeito, a polêmica foi causada por mentiras. “A informação foi distorcida. O valor pago ao artista não era um cachê por ser patrono”, justifica. Entretanto, Lunelli não soube explicar o porquê de a prefeitura ter demorado tanto para se manifestar e esclarecer as supostas mentiras que teriam sido divulgadas sobre o fato. Em vários momentos da entrevista, o prefeito fugiu do foco das perguntas.

Saiba mais

O prefeito Roberto Lunelli justificou a contratação do artista como forma de dar visibilidade nacional para o evento. Entretanto, o tiro saiu pela culatra e a única repercussão conseguida foi negativa. A polêmica começou há 15 dias. No último final de semana, o escritor Fabrício Carpinejar cancelou sua participação na edição deste ano como forma de protesto. Ao mesmo tempo, a Associação Gaúcha de Escritores (AGES) emitiu comunicado repudiando a atitude da prefeitura. As principais críticas recaem sobre a administração municipal querer transformar uma feira do livro em uma plataforma popular com shows musicais e apresentações midiáticas. O fato foi parar nos principais sites de notícia do país e foi repercutido por jornais e emissoras de rádio e televisão.

 

Reportagem: Carina Furlanetto

 

Siga o SerraNossa!

Twitter: http://www.twitter.com/serranossa

Facebook: Grupo SerraNossa