Feira do Livro: polêmica volta à mídia nacional

Gabriel O Pensador foi o convidado do programa “Agora é tarde”, exibido pela Band na noite da última quarta-feira, dia 31. Ao apresentador Danilo Gentili, ele falou sobre o lançamento do novo disco, que tem como um dos principais hits a música “Linhas Tortas”. A canção foi inspirada na polêmica envolvendo a contratação dele como patrono da 27ª edição da Feira do Livro de Bento Gonçalves, realizada em maio deste ano.
“A música nasceu por causa de uma polêmica… Eu ia fazer um trabalho grande com a prefeitura de Bento Gonçalves, uma venda grande e um trabalho ao longo do ano, um show e eu seria o patrono. Esse pacote foi anunciado durante a feira do livro e previa um pagamento simbólico a outros escritores… Quando foi publicado nosso projeto, um escritor reclamou em uma carta aberta e a oposição se aproveitou disso… Eu preferi ir de graça, não fiz o show nem vendi os livros, mas fiquei muito mordido como tudo aconteceu”, disse o artista. Confira aqui o vídeo da entrevista na íntegra. 

Relembre o caso
Gabriel O Pensador foi escolhido para ser patrono da Feira do Livro e foi contratado pelo município para realização de um show e duas palestras, além da compra de dois mil livros a R$ 35 cada. A mídia negativa para o município ganhou contornos nacionais após o escritor Fabrício Carpinejar enviar carta aberta à organização da feira cancelando sua participação como forma de protesto. Ao mesmo tempo, a Associação Gaúcha de Escritores (AGES) emitiu comunicado repudiando a atitude da prefeitura de Bento Gonçalves ao firmar contrato com o artista.
As principais críticas direcionadas à contratação do Pensador recaem sobre a administração municipal ao querer transformar uma feira do livro em uma plataforma popular com shows musicais e apresentações midiáticas. Com a repercussão negativa, Gabriel O Pensador veio à cidade, visivelmente chateado, especialmente para comunicar sua decisão de cancelar a venda de dois mil livros e a realização do show, agendado para o dia 20 de maio. Logo após o pronunciamento do artista, o prefeito Roberto Lunelli também pronunciou-se em coletiva à imprensa, dizendo que a polêmica foi motivada por informações distorcidas. “O valor pago ao artista não era um cachê por ser patrono”, justificou. Entretanto, na época Lunelli não soube explicar o porquê de a prefeitura ter demorado tanto para se manifestar oficialmente e esclarecer as supostas mentiras sobre o fato. A escolha de Gabriel O Pensador para ocupar o posto de patrono partiu do próprio Lunelli com o objetivo de trazer visibilidade nacional para o evento.

Música inspirada em Bento
Para tentar reverter a imagem negativa criada em torno de sua contratação, o Pensador lançou o videoclipe “Linhas Tortas”. A primeira exibição oficial aconteceu logo após a abertura da Feira do Livro. A música foi feita no Rio de Janeiro, em parceria com o compositor e produtor gaúcho André Gomes (letra integral de Gabriel o Pensador), com a participação do músico também gaúcho Antônio Villeroy. A direção do clipe ficou por conta de Thiago Ferreira e Tchello DRC, baixista do Detonautas, e a edição a cargo de Thiago Ferreira, que também é músico, com a colaboração do próprio Gabriel, que cedeu imagens de arquivo.

Linhas Tortas (Gabriel O Pensador/André Gomes)

Alguns às vezes me tiram o sono, mas não me tiram o sonho
Por isso eu amo e declamo, por isso eu canto e componho
Não sou o dono do mundo, mas sou um filho do dono
Do verdadeiro Patrão, do verdadeiro Patrono
– E aí, Gabriel, desistiu do cachê?
– Cancelei um trabalho aí pra não me aborrecer.
– Explica isso melhor, o que foi que você fez?
– Tá tudo bem, eu explico pra vocês:
Tudo começou na aula de português
Eu tinha uns cinco anos, ou talvez uns seis
Comecei a escrever, aprendi a ortografia
Depois as redações, para a nossa alegria
Professora dava tema-livre, eu demorava
Pra escolher um tema, mas depois eu viajava
E nessas viagens, os personagens surgiam
Pensavam, sentiam, choravam, sorriam
Aí a minha tia-avó, veja só você
Me deu de aniversário uma máquina de escrever
Eu me senti um baita jornalista, tchê
Que nem a minha mãe, que trabalhava na TV
Depois, já aos quinze, mas com muita timidez
Fiquei muito sem graça com o que a professora fez
Ela pegou meu texto e leu pra turma inteira ouvir
Até fiquei feliz mas com vontade de fugir
Então eu descobri que já nasci com esse problema
Eu gosto de escrever, eu gosto de escrever, crer ver
Ver, crer, eu gosto de escrever e escrevo até até poema
Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão
– Ih, pensador, isso é grave, hein!
É, vovó dizia que eu já escrevia bem
Tentei me controlar, me ocupar com um esporte
Surf, futebol, mas não era o meu forte
Um dia eu fiz uns raps e achei que tava bom
Me batizei de Pensador e quis fazer um som
Ficar famoso e rico nunca foi minha meta
Minha mãe já era isso, eu só queria ser poeta
Meu pai, um homem sério, um gaúcho de POA
Formado em medicina, não podia acreditar
Ao ver o seu garoto Gabriel
Com um fone nos ouvidos viajando com a caneta no papel
– O que você tá fazendo? Vai dormir, moleque!
– Ah, pai, peraí, eu só tô fazendo um rap!
Ninguém sabia bem o que era, mas eu tava viciado naquilo
E viciei uma galera!
Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão
Não tô vendendo crack, não tô vendendo pó
Não tô vendendo fumo, não tô vendendo cola
Mas muitos me disseram que o que eu faço é viciante
E vicia os estudantes quando eu entro nas escolas
Até os professores às vezes se contaminam
Copiam minhas letras e textos e disseminam
Sementes do que eu faço, já não sei se é bom ou mau
Mas sei que muito aluno começa a fazer igual
Escrevendo poemas, escrevendo redações
Fazendo até uns raps e umas apresentações
Me lembro dos meus filhos e a saudade é cruel
Solidão me acompanha de hotel em hotel
Casamento acabou, eu perdi na estrada
O amor que ainda tenho é o amor da palavra
É falar e cantar, despertar consciências
Dediquei a vida a isso e maior recompensa
É servir de referência pra quem pensa parecido
Pra quem tenta se expressar e nunca é ouvido
É olhar pra minha frente e enxergar um mar de gente
E mergulhar no fundo dos seus corações e mentes
É esse o meu mergulho, não é o do Tio Patinhas
É esse o meu orgulho, escrever as minhas linhas
Eu escrevo em linhas tortas, inspirado por alguém
Que me deu uma missão que eu tento cumprir bem
Escuto os corações, como um cardiologista
Traduzo o que eles dizem como faz qualquer artista
Que ganha o seu cachê, que é fruto do trabalho
De cigarra e de formiga, e eu não sei o quanto eu valho
Mas eu sei que quando eu ganho, divido e multiplico
E quanto mais eu vou dividindo, mais fico rico
Rico da riqueza verdadeira que é de graça
Como um só sorriso que ilumina toda a praça
Sorriso emocionado de um senhor experiente
Em pé há duas horas debaixo do sol quente
Ouvindo os meus poemas em total sintonia
Eu sou ele amanhã, e hoje é só poesia.

 

Reportagem: Greice Scotton

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