Fenavinho começa a rever rumos

Oficialmente, a 16ª edição da Festa Nacional do Vinho (Fenavinho), que deveria ter sido realizada em 2013, ainda não tem data marcada, formato definido e sequer a divulgação de projetos e patrocinadores. Nos bastidores, contudo, está em andamento uma mobilização que pode traçar os novos rumos do evento: a revisão da condição de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), instituída em maio de 2011. Além de não ter alcançado o principal objetivo, que seria facilitar o acesso a recursos para financiar a última edição, ela também seria a principal responsável pelo distanciamento do Poder Público da “festa-mãe” de Bento Gonçalves.

Contra a atual diretoria, ainda pesam a dívida de mais de R$ 1 milhão deixada há dois anos – que foi alvo de investigação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara de Vereadores – e a consequente dificuldade para negociações em busca de novos apoiadores. No caso da Oscip, o problema a superar seriam os entraves burocráticos que impedem a prefeitura de atuar de forma mais participativa na realização e nos investimentos.  

Na última semana, o prefeito Guilherme Pasin convocou uma reunião para discutir o assunto com a Comissão e garantiu que o Poder Público pretende ampliar seu envolvimento, na tentativa de retomar o caráter popular da festa, que só deve voltar a acontecer em 2015. Mesmo assim, a prefeitura ainda aguarda uma mudança estatutária e o aval da diretoria. “A Fenavinho é muito maior do que qualquer gestão, ela é patrimônio de Bento e precisamos fazer com que volte a nos dar orgulho. Não podemos abandonar essa bandeira. Se eles entenderem que o Poder Público deve voltar para o seio da organização da festa, teremos que rediscutir tudo. Mas já deixei claro que não quero me envolver no sentido de pautar o que deve ou não ser feito”, ressalta o prefeito.

Por enquanto, Pasin garante que pretende ouvir o máximo possível de ex-presidentes e outras instituições ligadas à Fenavinho desde o seu lançamento, em 1967. “A minha visão é de que não podemos falar no futuro sem ouvir todos aqueles que fizeram parte da construção dela. Apesar de a gente querer dormir hoje e acordar amanhã com uma bela festa, não é assim que acontece. A Fenavinho não pode mais nascer para morrer. Ela tem que ter data para reiniciar e não deve mais parar, por isso não pode ser um retorno forçado”, conclui.

Começar de novo

Presidente de três edições consecutivas da festa, entre 1990 e 1992, o atual secretário de Cultura, Jovino Nolasco, também acredita que há uma necessidade urgente de se retomar o caráter popular do evento. “O papel da Fenavinho é integrar a comunidade, valorizar a história, promover o orgulho das pessoas daqui pelos seus talentos. Acho que é o momento de zerar, começar de novo, e transformá-la no que sempre foi. É um processo demorado, mas é muito mais fácil conseguir apoio para algo que está próximo da comunidade, e não distante, como ela ficou”, avalia.


Raízes

À frente da Fenavinho em 1980, Nelton Callegari recorda que, naquela época, a participação dos produtores rurais era um diferencial que dava um clima mais comunitário ao evento. “Nós fomos buscar as raízes, trouxemos os agricultores para dentro do parque. Acho que isso acabou sendo esquecido ao longo do tempo. E é isso, na minha opinião, que nós temos que mostrar para o pessoal de fora”, afirma.

Callegari reconhece que as pendências financeiras podem estar dificultando a reestruturação, mas acredita que não seja necessário pensar em uma nova composição para a presidência, hoje encabeçada por João Strapazzon. “É claro que fica difícil tocar a coisa com débitos, mas o problema maior é a estrutura, e não o presidente”, acrescenta.


Continuidade

Para Jaime Milan, presidente em 2000 – ano em que a Fenavinho foi realizada em conjunto com a ExpoBento –, o mais importante agora é definir até que ponto a prefeitura estará disposta a interferir no processo, considerando que “o prefeito abre portas que o presidente não consegue”. “Se a prefeitura der esse primeiro passo, acho que a continuidade será muito mais fácil. O que houve anteriormente, infelizmente, não dá o respaldo que essa diretoria precisa para prosseguir sozinha. Nós sentimos isso, mas, convenhamos, a Fenavinho sempre teve essas dificuldades. Eu mesmo demorei um bom tempo para deixar tudo em dia”, pondera.

Uma nova reunião deve ser agendada em breve entre prefeito e a Comissão de Membros Natos e, conforme Pasin, deve ser “mais objetiva”. Na ocasião, um dos temas a serem debatidos deve ser a data em que a 16ª edição ocorrerá. “Temos que estabelecer uma sequência para a festa, saber definitivamente quando ela vai ser realizada e fazer com que isso seja mantido sob responsabilidade da prefeitura e da diretoria”, finaliza Milan.

Oscip ainda é dúvida

Apesar de divulgada em 2011 pela própria organização da festa, a mudança da Fenavinho para a condição de Oscip ainda gera dúvidas em muitos integrantes da Comissão de Membros Natos. Na reunião convocada pelo prefeito, inclusive, foi levantada a possibilidade de que a alteração nem tenha sido completamente efetivada, o que manteria a Fenavinho como uma associação.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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