Filha que quase perdeu o pai para a COVID-19 comemora sua recuperação

As datas comemorativas são uma forma de mostrar respeito e carinho pelas pessoas especiais que cercam o nosso dia a dia. No próximo domingo, a engenheira civil Raíssa Aline Ceriotti Andreola terá um motivo a mais para celebrar o amor pelo seu pai Carlos Andreola, morador de Santa Tereza. O aposentado, de 69 anos, passou 55 dias internado no Hospital Tacchini, 43 em estado grave na UTI. Ele foi acometido pela COVID-19, mesmo sem apresentar qualquer doença pré-existente. “Ele foi para o hospital no dia 28/05 e precisou entubar no dia 30/05. Desde então seu quadro de saúde foi se agravando. Tiveram que virar ele muitas vezes na cama, para conseguir respirar melhor. Teve dias que ficou muito mal e a gente já estava se preparando para o pior”, recorda Raíssa. 

Segundo Raíssa, Carlos apresentava bastante fraqueza, dor muscular e também teve sintomas como diarreia, náuseas e febre. “Ele foi duas vezes no posto de saúde de Santa Tereza. Na segunda, como ele estava mal, foi encaminhado sozinho para o Hospital Tacchini, onde seguiu direto para a UTI. A equipe do postinho aconselhou minha mãe a ficar em casa”, conta. “Antes de entubarem, o pessoal do hospital fez uma chamada de vídeo para ele conseguir conversar com a minha mãe. Essa foi a última vez que ela falou com o meu pai”, continua. 

Raíssa mora e trabalha em Porto Alegre e tinha acabado de voltar para a casa quando seu pai precisou ser internado. “Mais tarde eu e minha mãe começamos a apresentar sintomas. Fizemos o teste e estávamos as duas com o vírus, então tivemos que ficar longe por 15 dias. Estava eu sozinha e isolada em Porto Alegre, minha mãe sozinha e isolada em Santa Tereza e, meu pai, na UTI. Não conseguimos prestar suporte um para o outro”, lamenta a engenheira. 

Raíssa conta que ela e sua mãe, Loiri, tiveram sintomas mais leves da doença, como dor de garganta, diarreia, perda do olfato e dores nas pernas. “Mas meu pai sofreu muito. O hospital fazia ligações de vídeo com a gente, para mostrar ele e falar sobre seu estado de saúde. Na maioria dos dias as notícias eram bem ruins. Ele precisou utilizar a capacidade máxima do respirador para sobreviver”, conta. “Mesmo assim, sempre nos agarramos àquele fiozinho de esperança. Minha mãe tentou ser forte na maior parte do tempo, mas sei que ela sofreu muito também. No ano passado ela teve um aneurisma e precisou operar. Então ela já estava com essa preocupação. Ela viu o que passamos no ano passado com medo de perdê-la e, agora, estávamos passando com o meu pai”, relata Raíssa.  


 

Depois dos 15 dias de isolamento, a engenheira voltou a Santa Tereza. O suporte de mãe e filha e o pensamento positivo foram fundamentais para vencer esse período. Além disso, mesmo de longe, as duas não deixaram Carlos esquecer do amor que sentiam por ele. “Pedimos para que a equipe do hospital colocasse fotos nossas em frente à sua cama, para que pudesse lembrar que estávamos presentes, mesmo de longe”, recorda com carinho. 

Andreola começou a melhorar dia após dia, depois de ter realizado uma traqueostomia. Foram mais 12 dias de recuperação no quarto, para que a alta fosse dada no dia 22/07, na última quarta-feira. “Ele ficou bastante confuso, porque não lembrava de nada. Chegou a ter alucinações e achava que tinha passado apenas uma semana no hospital. Também estava bastante magro e com dor no corpo. Mas agora ele está bem em casa”, afirma Raíssa.


 

Segundo a engenheira, antes de ser acometido pela COVID-19, seu pai acreditava que a doença não era coisa séria. Inclusive, não seguia à risca as medidas de prevenção. “Meu pai achava que era bobagem usar máscara, por exemplo, e sei que ele pode ter pego por conta desse descuido. As pessoas pensam que, pelo fato de não ter acontecido com alguém da família delas, não é algo real”, lamenta. “Eu vivi e sei o que acontece. A gente nunca sabe quem vai sofrer e quem não vai, e muitos não ligam para isso. Não cuidam de si e não cuidam dos outros”, analisa. 

Para este Dia dos Pais, Raíssa reflete sobre a importância de cuidarmos das pessoas queridas, principalmente em meio à situação vivida. “Com certeza vamos aproveitar ainda mais os dias ao lado dele, porque o medo de ele não estar aqui para o Dia dos Pais e para seu aniversário de 70 anos foi muito grande. Vamos viver cada dia como se fosse o último e levar o amor um pelo outro ainda mais a sério”, finaliza. 

Fotos: Arquivo Pessoal