Filhos de imigrantes têm boa adaptação na Educação e facilitam integração de famílias

Ao deixar o país de origem em busca de uma vida melhor, as barreiras linguísticas e culturais podem atrapalhar o processo de adaptação. As dificuldades encontradas pelos adultos na comunicação e na inserção no mercado de trabalho, contudo, não são uma realidade para os pequenos. “Eles têm facilidade de aprender o idioma e são muito carinhosos. Adaptam-se rapidamente e gostam da escola”, afirma a secretária municipal de Educação, Iraci Luchese Vasques. Segundo dados da Smed, 28 crianças haitianas e senegalesas estão matriculadas na rede municipal.

Na Escola Municipal Infantil (EMI) Feliz da Vida, no Borgo, quatro crianças haitianas estão nas turmas de Jardim e Berçário. Elas nasceram no Haiti e vieram para o Brasil com as mães após os pais já estarem instalados em Bento Gonçalves. Para o próximo ano, outro filho de  imigrantes haitianos está matriculado no berçário – a diferença é que essa criança tem nacionalidade brasileira. “Nesta semana, atendemos os pais para fazer a matrícula e a mãe disse se sentir alegre com o lugar onde deixará o filho”, destaca a vice-diretora Zelinda Gentilini.

Por estarem há menos tempo no país, as mães geralmente têm mais dificuldade na comunicação do que os pais. “Misturando um pouco de inglês e com alguns gestos, a gente consegue se entender”, acrescenta.

Em alguns casos, entretanto, é preciso recorrer a um intérprete. Foi ao encontrar dificuldades para comunicar a Marie Armelle André Joseph que o filho, Ralpharmens, de 4 anos, estava com um chiado no peito que a escola teve a ideia de pedir auxílio para uma conterrânea. Marie veio para o Brasil em setembro e ainda não entende o idioma, embora seu marido, há um ano na cidade, já tenha mais familiaridade com o português. Ralph, como é chamado na escola, já compreende a professora e ensaia algumas palavras.

Quem ajuda na comunicação entre a escola e os pais de Ralph é Lamercie Osalvo, mãe de Abigaine,4, e Klaola, 5, há um ano no município. O marido deixou o Haiti há três anos e começou a ensinar à mulher o idioma. Agora, são as filhas que fazem as vezes de professora da mãe. “Elas me ensinam um pouco de português em casa”, conta. No dia a dia, eles procuram manter os costumes trazidos da terra natal e, entre si, falam francês – o hábito é, inclusive, incentivado pelas educadoras. De palavra em palavra, as meninas foram construindo o vocabulário e já reconhecem as letras e os números. “Elas têm uma facilidade para aprender que surpreende”, elogia a vice-diretora.

As crianças costumam imitar os hábitos dos adultos. “Um dia, os pais do Ralph se atrasaram e ele precisou almoçar aqui na escola. Ele ia comendo os mesmos alimentos que eu e, se descansava os talheres, ele fazia o mesmo”, lembra. A educação e os bons modos das meninas também surpreendem a todos. “Elas sempre dão ‘bom-dia’ ao chegar e nos procuram para dar ‘tchau’ na saída, mesmo que a gente não esteja na porta. Aqui, não temos esse costume”, exemplifica.

Com exceção das barreiras impostas pelo idioma na comunicação com os pais, no restante, a adaptação é tranquila. A professora do jardim A, Áurea Seben, que leciona para Klaola e Ralph, diz que, desde o primeiro dia, as crianças foram bem recebidas pelos colegas, que os pegavam pela mão e alcançavam-lhe os brinquedos. “Mesmo sem ter feito um trabalho para isso, a escola está preparada para acolher esses imigrantes. Toda a equipe está em sintonia”, conclui Áurea.

“Precisamos acabar com o preconceito desde cedo”

Com um número cada vez maior de imigrantes que escolhem o município para viver, é importante, desde cedo, proporcionar o convívio com as diferenças étnico-culturais. “O entrosamento com os colegas é muito bacana em todas as escolas que vou. As crianças são bem quistas”, aponta a secretária de Educação, Iraci Luchese Vasques.

A convivência também é uma forma de combater a discriminação. “Precisamos acabar com o preconceito desde cedo. As diferenças estão presentes em todo o Brasil, não apenas em Bento Gonçalves”, argumenta. Segundo Iraci, as dificuldades são sentidas apenas no primeiro contato das crianças imigrantes com a escola. Algumas, cujos pais já estão no município há mais tempo, já iniciam as aulas com um bom vocabulário e se comunicam bem. “Elas têm mais facilidade que as outras crianças, aprendem o idioma muito rápido. Também são boas na área de exatas”, conta.

Para a diretora da Escola Municipal Infantil (EMI) Feliz da Vida, no Borgo, Cristina Buaszczyk, onde quatro filhos de imigrantes haitianos estão matriculados, o convívio com outra cultura tem reflexos positivos para as demais crianças. “Elas aprendem desde cedo a lidar com as diferenças. Para eles, é algo natural”, avalia. 

Marie (E) e o filho Ralph vieram em setembro para Bento e contam com a ajuda de Lamercie, mãe de Abigaine (C) e Klaola (D), para se comunicar com a escola

Fotos: Carina Furlanetto