Fisiculturismo: muito foco, treino e dieta

As marmitas já fazem parte da rotina, assim como as várias horas na academia. Mais do que alimentação e treinos rigorosos, para ter sucesso no fisiculturismo é preciso muito foco para abdicar dos prazeres momentâneos em nome do tão sonhado shape de competição. Letícia Bernardi, de 26 anos, e Felipe Ticiani, de 22, sabem bem o que é isso. Os dois representaram Bento Gonçalves no 1º Campeonato Estreantes IFBB Pro League Rio Grande do Sul, disputado no dia 19 de maio, em Novo Hamburgo. Foi a primeira competição de ambos e o resultado, melhor do que o esperado: troféu Top1 em suas categorias.

Há diferença entre malhar e treinar. O foco é muito maior do que quem deseja apenas ter um corpo mais definido ou busca saúde e qualidade de vida. A meta é sempre a sua melhor versão. Os sacrifícios para chegar ao topo são muitos, mas para quem ama o que faz, ficam em segundo plano. “Não me imagino mais sem treinar”, garante Ticiani, que há dois anos e meio decidiu ser atleta de fisiculturismo incentivado pelos colegas de academia, que elogiavam sua composição corporal. 

O apoio de um treinador é fundamental na preparação. Ticiani conta com suporte de Felipe Baron Bolzzoni, o Bozoh, de Caxias do Sul, e Letícia com a consultoria de Carlos Ortiz, de Porto Alegre. São eles que montam planilhas de treino e dieta que variam conforme o atleta e os objetivos dele. Nas fases mais rigorosas, às vésperas de competições, até a quantidade de água é controlada e o sal vetado das preparações para evitar a retenção de líquidos. Em intervalos regulares – geralmente a cada 15 ou 21 dias – é permitida uma exceção na dieta: Letícia aproveita para matar a saudade da comida japonesa e Ticiani aposta em lanches como xis ou pizzas. Entretanto, há épocas em que o sacrifício é ainda maior. Ticiani já ficou três meses sem um único furo na alimentação. A dieta é complicada apenas no começo, segundo ele. Com o tempo, carregar marmitas se incorpora à rotina e o atleta aprende a soltar a criatividade para variar a forma de preparo dos alimentos – já que a lista de permitidos é bem menor do que a de proibidos. 

O preconceito com a modalidade ainda existe, especialmente por não ser tão difundida na região. No caso das mulheres, destaca Letícia, é ainda maior, especialmente pela ideia de que os músculos masculinizam a aparência. Entretanto, ela explica que na categoria Wellness, na qual ela compete na faixa acima de 1,68m, a feminilidade é um dos aspectos que não pode ser deixado de lado, sendo inclusive usada na avalição pelos jurados. Letícia malha desde os 18 anos, mas apenas há dois ser atleta virou uma meta. O ambiente da academia faz parte do dia a dia dela, que dá aulas de ginástica e musculação. Sua rotina ainda tem espaço para frequentar as aulas do curso de Educação Física em Caxias do Sul e cuidar da casa e da família – ela é casada e tem uma filha de seis anos. A conquista desse primeiro troféu teve um gostinho de superação para Letícia, que chegou a ficar duas semanas sem treinar por conta de uma lesão lombar.  O próximo desafio será o Campeonato Miss e Mister, em setembro. 

As dificuldades também fizeram parte da preparação de Ticiani. Faltando 15 dias para a competição, uma contratura muscular na coxa esquerda quase o deixou de fora do palco. O apoio do treinador, segundo ele, foi fundamental para que o percalço não interferisse no aspecto psicológico. Algumas sessões de fisioterapia e ele conseguiu dar a volta por cima, voltando para casa com dois troféus: nas categorias Bodybuilder Júnior acima de 75kg e na Sênior até 80kg. Seu próximo desafio é o Campeonato Gaúcho, que será disputado no dia 16 de junho, em Novo Hamburgo. 

Ticiani está concluindo a faculdade de Processos Gerenciais e trabalha no supermercado da família. “O bom é treinar. Quando estou dentro da academia me sinto bem”, assegura.  

A rotina de Letícia e Felipe pode ser acompanhada no Instagram: @leticia.bernardi.1 e @ticianibodybuilder