“Fui demitido por ser honesto demais”, diz Rigotto

Afastado do cargo de chefe de gabinete da secretaria municipal de Meio Ambiente (Smmam) após denúncia de que sua ex-mulher recebia, desde 2012, repasse do Bolsa Família, o ativista Gilnei Rigotto tem uma outra versão para justificar a sua recente exoneração do Cargo em Comissão (CC) que ocupava na administração municipal. Segundo ele, a demissão tem caráter político e veio após pressão de entidades que não tiveram verbas liberadas pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema), do qual é presidente até o final do ano, e críticas que fez à própria gestão.

Os projetos não autorizados pelo Conselho a receber repasse de dinheiro público e que seriam o estopim para a polêmica que veio à tona na semana passada somam mais de R$ 700 mil – uma das propostas que tiveram aprovação negada é de R$ 382 mil. Em meio a esse contexto, Rigotto se diz “injustiçado” e tratado como “bode expiatório”. Ele afirma que em nenhum momento teve possibilidade de se defender. “O que eu esperava do prefeito Guilherme Pasin, que me surpreendeu muito, era que ele chamasse as partes para conversar. Ele chamou a secretária de Habitação e Assistência Social, que é responsável pelo Bolsa Família, e o secretário de Meio Ambiente, que era o meu superior, mas não a mim”, reclama.

Rigotto afirma que a ex-companheira nunca solicitou a inclusão no programa de transferência de renda, do qual ganhava cerca de R$ 100 por mês. O cadastro da família teria sido feito por meio de um dos Centros de Atendimento à Criança e ao Adolescente (Ceacri), ainda no governo anterior. “Meu filho frequentava o Ceacri, que fazia o cadastro para pessoas que tinham uma renda pequena. Nesse cadastro veio o cartão, sem ela pedir”, relata. Durante a entrevista, com contracheques na mão, ele exibe a remuneração mensal que tinha, desde abril, como membro do segundo escalão da prefeitura: com os descontos em folha, pouco mais de R$ 1,6 mil. A ex-companheira, que já recebia o Bolsa Família antes da separação, conforme relato dele, segue desempregada.

Em sua mesa na Associação Ativista Ecológica (Aaeco), em meio às pastas com os projetos rechaçados pelo Conselho, Rigotto falou com a reportagem do SERRANOSSA e garantiu que não pretende se manter à frente do colegiado após o encerramento do atual mandato, em dezembro. Enquanto isso, ele espera ser recebido por Pasin, a quem já remeteu ofício, para conversar pessoalmente sobre o afastamento. “Alguém vai ter que dizer quem errou. E quem errou vai ter que pagar. Eu quero o final dessa história. Isso não vai ficar assim, sou uma pessoa correta e saio de cabeça erguida. Nos bastidores, a informação é de que não estavam satisfeitos com a minha postura”, conclui. Confira a entrevista:

Jornal SERRANOSSA – Qual é, na sua opinião, o real motivo da sua exoneração?

Gilnei Rigotto – Como presidente do Conselho, posso provar que foram negados mais de R$ 700 mil para diversas instituições, inclusive para a própria secretaria. Desde o governo anterior, eu já mantinha minha posição apartidária e nessa administração não seria diferente apenas porque me deram um cargo de confiança. Saí do governo por cumprir a lei e o regimento interno na ponta do lápis. Ou seja, eu fui demitido por ser honesto demais. Essa negação de valores mexeu com algumas “eminências pardas” de nossa sociedade. Não temo a oposição do senhor denunciante Moacir Camerini [vereador petista que levou o caso ao plenário da Câmara de Vereadores], temo essas eminências que devem ligar para o prefeito e secretários fazendo pressão. Não vão me usar como “testa de ferro”.


SERRANOSSA
– A postura da oposição tinha outro objetivo?

Rigotto – Pergunto: por que a oposição, com o Camerini, batia tanto nessa tecla? Se você está fazendo um mau trabalho, a oposição não se preocupa, porque é ponto positivo para eles. E eu estava fazendo, modéstia à parte, um ótimo trabalho. O que me magoa não é a oposição de um falastrão. O que me preocupa é a situação que não defende uma pessoa como eu e prova, com a minha saída, que eu quis fazer a coisa correta. Mas uma coisa é certa, o tempo já está dizendo porque não me defenderam. E, ao contrário do que dizem alguns ecologistinhas de última hora, eu não me calei porque estava lá dentro. Eu estava fazendo o meu trabalho. Se eu tivesse ficado tão quietinho, ainda estaria lá.

SERRANOSSA – O caso do Bolsa Família não teria, assim, nenhum peso nessa decisão?

Rigotto – Eu não sou mais cônjuge dela, mas ainda sou responsável pelo meu filho. Nós não estamos mais juntos, apenas não desfizemos a união estável no papel. Quem deve cuidar dos trâmites burocráticos é a secretaria de Habitação e Assistência Social. É ela que tem que estar atenta ao cruzamento de dados. A entrevista do recadastro foi no mês passado, no dia 1º de outubro, mas ninguém falou nada. Até hoje minha ex-esposa está desempregada e vive, inclusive, com o dinheiro que pago de pensão.

SERRANOSSA – Você não temia justamente esse conflito, sendo CC, presidente do Conselho e ativista?

Rigotto – Eu aceitei por experiência e para pagar para ver. Tem que fazer e estar no meio para ver como é a batalha. Mas se me deram o cargo, sabiam de premissa como eu agia. Eu fiz denúncias sobre arborização, por exemplo. Fiz críticas duríssimas, não só à secretaria, mas também para a comissão do Meio Ambiente da Câmara de Vereadores. Mas eu estava assoberbado, cuidando principalmente das reciclagens, e não podia focar nessa questão da arborização. A única coisa que assinei foi o laudo das praças. Esse é um documento que deve ser respeitado, levado à risca. Mas também teve outra coisa – e essa é uma denúncia que também me fez cair: que o secretário [Luiz Augusto Signor] usava um laudo técnico de um lado, para do outro fazer o que queria, o que mandavam os seus asseclas.

SERRANOSSA – Em algum momento, alguém do Executivo falou com você sobre o afastamento?

Rigotto – O prefeito só me ligou na sexta-feira (dia 15), depois da minha exoneração, que foi na quinta. E aí, as colocações dele, no sentido de uma possível volta minha, foram respondidas da seguinte maneira: “só volto quando o senhor fizer uma coletiva de imprensa ou emitir uma nota oficial dizendo que eu sou inocente, como sou nessa história toda. E ainda assim vou pensar”. Eu defendo a minha inocência, mas ele tem que sentar comigo e conversar. Ele disse, por telefone, que foi para me proteger. Eu disse que quem iria protegê-lo seria eu, com meu trabalho honesto. O governo foi amador com o caso, não sei se propositalmente ou por ingenuidade.

SERRANOSSA – Que avaliação o senhor faz das ações da Smmam em 2013?

Rigotto – O secretário [Signor] é um bom gestor burocrático, isso é inegável. Tenho certeza que ele recebeu uma secretaria com uma esculhambação generalizada. Eu fiquei sete meses e demorei cinco para achar um projeto, que é do pavilhão único para as recicladoras. Nas praças, está sendo feito um excelente trabalho. No caso do transbordo velho, eu também faria a mesma coisa, retirando todo aquele lixo de lá. Porém, na arborização, tirando a questão das praças, o secretário merece nota zero. Acho que foi um grande desastre. E nem cabe aqui dizer tudo que eu tentei internamente. Só posso dizer que isso está manchando a administração atual.

SERRANOSSA – Sua intenção é permanecer à frente do Condema em 2014?

Rigotto – Não quero continuar como presidente do Conselho, mesmo com todos os pedidos de várias pessoas lá dentro. Primeiro, eu entrei também por causa da experiência e, segundo, porque tinha um colegiado novo de 48 pessoas e eu sabia que, se entrasse alguém que não tivesse conhecimento da área, eu teria que falar mais do que o presidente. Eu dei um norte para o Conselho, mas não tenho pretensões de ficar, até para provar para muitos que não é poder que eu almejo. E garanto que também não me tornarei, aqui na Aaeco, um ferrenho opositor do governo apenas por vingança.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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