A funcionária que atrasou o sepultamento de uma adolescente nesta semana, em função da falta de pagamento do aluguel de uma gaveta, foi afastada das funções junto à Divisão de Cemitérios, subordinada à secretaria municipal de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana de Bento Gonçalves. A família acusa a colaboradora de ter sido grosseira e irredutível durante a negociação, que atrasou em duas horas o sepultamento de Débora de Dutra, de 17 anos. Depois que um vizinho emprestou pouco mais de R$ 200 para que a família desse de entrada na dívida, que totaliza R$ 480, o enterro foi realizado.
O caso ganhou repercussão no município. A jovem era autista e faleceu após passar cinco dias internada no hospital. Débora havia sido submetida a uma cirurgia no dia 18, para retirada de uma hérnia no estômago, mas, devido a complicações provocadas por uma broncopneumonia, faleceu no dia 23. A cunhada da garota, Virgínia Ester de Dutra, conta que a família somente ficou sabendo da dívida no momento do sepultamento. “Minha sogra havia ido até o departamento para regularizar a situação, mas não tinha nenhum cadastro referente à gaveta e ela não foi comunicada sobre a dívida”, conta.
O que mais chocou os familiares foi a maneira como foram tratados pela responsável. “Estávamos num momento de fragilidade, não tínhamos cabeça para pensar. Acabamos trocando algumas ofensas e nos sentimos muito mal com tudo isso. Se ela tivesse falado de outra forma, nada teria acontecido”, relata o irmão de Débora, Vandeir de Dutra.
Segundo a família, ao serem informados sobre a pendência, se dispuseram a quitá-la, mas disseram que não teriam como conseguir todo o valor naquele momento. “Perguntamos se ela poderia, ao menos, parcelar o valor, porque não tínhamos todo o dinheiro para pagar naquela hora. Ela só dizia que não, que o problema era nosso e que o sepultamento somente seria realizado após o pagamento”, conta.
O enterro, que deveria ter sido realizado às 15h de sexta-feira, dia 24, aconteceu somente às 17h. “Insistimos muito para que parcelasse o restante do valor, mas ela não nos deu escolha. Foi emitido um boleto no valor de R$ 263,95, com vencimento para o dia 29 de fevereiro. Questionamos isso, pois ninguém na nossa família recebe nesse dia e não teríamos o valor disponível na data. De forma grosseira, ela falou que o problema era nosso e que se pagássemos depois do vencimento, haveria juros”, descreve Virgínia.
Afastamento
Após ficar sabendo do acontecido, o secretário de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana, Heber Moacir dos Santos, optou por realizar o afastamento da antiga responsável pelo departamento. “Conversei com ela, que relatou que o pagamento da gaveta estava atrasado desde 2003. Sobre os procedimentos administrativos realizados, até onde apurei, foram corretos, mas a forma como o atendimento foi prestado, não. A família já estava fragilizada e não deveria ter passado por isso”, conta Heber.
Os familiares de Débora se reuniram com o secretário na quarta-feira, dia 29, para esclarecer o episódio e discutir sobre o pagamento do restante da dívida. “O que aconteceu foi um fato lamentável. Todo cidadão merece ser tratado com respeito, mesmo quando ele está sendo punido”, diz o secretário. Durante a reunião foi negociado o parcelamento do restante da dívida. “Não queríamos que chegasse ao ponto do afastamento da responsável, mas questionamos a falta de respeito com a qual fomos tratados. O secretário nos recebeu muito bem, pediu desculpas pelo acontecido e ainda irá parcelar o restante da dívida”, finaliza Vandeir.
A Divisão de Cemitérios passa a ser controlada pelo funcionário da secretaria de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana, Diogo da Fonseca Rodrigues. Até então ele trabalhava no lançamento de infrações do Detran.
Katiane Cardoso
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