Gatos podem ser infectados mais facilmente do que cães, mas não transmitem Coronavírus

No dia 22/03, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) divulgou um diagnóstico positivo para Coronavírus em uma gata de dois anos de idade. O animal apresentava dificuldades respiratórias e os tutores haviam sido infectados pela SARS-COV-2 nas semanas anteriores. O resultado foi obtido no dia 05/03, por meio de teste PCR feito pelo Laboratório de Diagnóstico em Medicina Veterinária da UCS, e reafirmado em contraprova da Universidade Feevale. No mesmo dia da divulgação do resultado, os tutores informaram a morte da gatinha. 

O caso foi divulgado por diversos veículos de comunicação, levantando novos questionamentos e receios em relação à contaminação do vírus em animais. Conforme a veterinária de Bento Gonçalves Janice Kasdorf Thiessen, especialista em felinos, ocorrências de infecções em animais de estimação têm sido registradas pelo mundo todo desde o início da pandemia, principalmente na espécie felina. “O que se sabe até o momento é que os gatos e ferrets [espécie de roedor] possuem receptores (onde o vírus se multiplica) muito parecidos com os dos humanos. Enquanto os cães têm semelhança de 80%, os gatos e roedores têm semelhança de 100%. Mas a replicação viral neles é mais branda e os sintomas também. Ou seja, eles não desenvolvem a doença como os humanos”, revela a veterinária. 


Veterinária Janice Kasdorf Thiessen. Foto: Arquivo Pessoal

Apesar de apresentarem sintomas mais brandos ou até mesmo nenhum sintoma quando infectados pelo Coronavírus, Janice ressalta que os gatos têm tendência a desenvolverem doenças respiratórias. Dessa forma, antes de determinar que um felino está sendo acometido pela COVID-19, é preciso descartar outras possíveis patologias. A veterinária cita um trabalho desenvolvido na Alemanha para exemplificar: 82% dos gatos acompanhados que conviviam com pessoas positivadas apresentaram a presença do vírus no organismo. Entretanto, somente 6% a 16% manifestaram infecção. “O diagnóstico molecular utilizado é uma técnica muito sensível, capaz de detectar o mínimo de dez cópias de DNA/RNA viral em uma amostra. Ou seja, qualquer presença pode ser positiva, seja ela por infecção natural ou até contaminação do ambiente. Pode ser até um contaminante no pelo”, explica Janice. “Adicionalmente, esse material genético pode ou não ser de um vírus viável. Sabe-se que pessoas positivas quando falam podem espalhar partículas virais a uma distância de dois metros. Já tossindo, as partículas podem se espalhar por até sete metros. Como nossos pets vivem num contato muito próximo, é possível sim um teste positivar, por causa da alta carga viral que eles estão sendo expostos”, continua. 

Em relação ao caso da gata em Caxias do Sul, Janice pontua que não há a exclusão de outras patologias respiratórias como “Herpesvirus, Calicivirus, Bordetela, Peritonite infecciosa felina, Helmintos pulmonares, Pasteurella, Mycoplasma ou toxoplasmose, e nem sequer um laudo de necropsia, somente uma PCR que pode ter sido até um contaminante na pelagem do animal. Por isso não há como comprovar a morte do animal por SARCOV-19”, afirma. Dessa forma, a profissional ressalta que os gatos podem, sim, se infectar e apresentar sintomas respiratórios leves, durando cerca de quatro a cinco dias, mas eles não transmitem a doença aos seres humanos, por não se tratar de uma patologia felina. “Salientamos a importância dos cuidados com nossos pets, como limpeza das patas e escovação da pelagem após passeios. Evite que outras pessoas toquem em seus animais, pois pessoas contaminadas podem transmitir o vírus ao contato, podendo o animal ser um meio de transmissão acidental. Mantenha o calendário vacinal em dia para que outras doenças respiratórias comuns em felinos não sejam associadas à COVID-19”, aconselha.