Gaúcho da Serra é o novo destaque do ciclismo na Nova Zelândia

Há três anos, o gaúcho Gustavo Testa, natural de Farroupilha, decidiu se mudar para a Nova Zelândia para começar uma vida nova e viver uma cultura diferente. O que ele não imaginava era que, além de conseguir se estabilizar no país da Oceania, ainda conseguiria se destacar no esporte que sempre foi sua paixão no Brasil: o ciclismo. Competindo há 18 anos, o ciclismo era visto como um hobby para o gaúcho, mesmo conquistando títulos importantes no Brasil. Mas ao chegar à Nova Zelândia, ele percebeu que a prática poderia se tornar algo profissional. 

“Minha primeira corrida em NZ foi de enduro [modalidade de ciclismo], porque as corridas de downhill já tinham acabado e eu consegui uma bike de enduro emprestada. Queria ver como eram as competições por aqui e estava com saudade de escutar o ‘5, 4, 3, 2, 1’”, conta. Com o segundo lugar logo na primeira competição, o gaúcho percebeu que poderia investir no esporte também na Nova Zelândia. “Quando eu morava no Brasil eu não levava muito a sério, procurava sempre competir, mas era difícil de ser o mais rápido porque minha semana era pesada. E também era jovem, queria curtir a vida e sair com os amigos”, recorda. 


Foto: @theperfectline
 

Decidido a ter o ciclismo como um de seus focos, Testa passou a treinar todos os dias e pedalar aos fins de semana. E os resultados vieram rápido. Em 2019, ele foi campeão geral do NZDH, campeonato de downhill da ilha norte – título que voltou a conquistar em 2020. Nesse mesmo ano, também foi campeão do Crankworx Rotorua DH, competição internacional. Já em 2021, o gaúcho levou o primeiro lugar no MTBNZ, campeonato nacional de ciclismo. “Subir no lugar mais alto  do pódio foi uma sensação muito boa, de dever cumprido”, comenta Testa. 


No ano passado, o ciclista foi campeão do Crankworx Rotorua DH, competição internacional. Foto: arquivo pessoal

 

E os títulos não vieram sozinhos. Analisando os resultados satisfatórios do gaúcho, uma equipe de ciclismo da Nova Zelândia o convidou para integrar o time neste ano, como parte da categoria Master 1, por já ter 31 anos. “É uma equipe que tem patrocínios bem legais, então eu vou ganhar muita coisa. Vou pagar 1/3 do valor da bike, vou ganhar pneu, roupa, produtos para lavar a bike, suplementos… vou contar com mecânico no dia das corridas. Então é uma experiência que nunca tive. O pessoal é muito gente boa e me acolheu pelos meus resultados”, comenta o atleta. 

Incentivo e estrutura

Competindo há 18 anos, Testa vê uma série de diferenças no ciclismo do Brasil e da Nova Zelândia. Mas as principais delas dizem respeito ao incentivo e à estrutura dos dois países. “É muito fácil andar de bike aqui. Eu vou até os parques de bike e tem resgate de teleférico, bondinho ou ônibus, com reboque para as bicicletas. Também tem umas 60 trilhas para ti andar”, conta.  Conforme o atleta, é comum nesses parques encontrar crianças já treinando, professores oferecendo aulas, bikes disponíveis para aluguel e lugares para acampar. “Tem muita coisa legal”, comenta Testa.

Em relação ao incentivo, o gaúcho afirma que o país tem diversas marcas que acreditam nos atletas e dão suporte financeiro para que eles se tornem profissionais. Além disso, o próprio governo da Nova Zelândia valoriza o esporte. “No Brasil a gente tem muito piloto bom, como o campeão mundial de Cross-Country, que é o Avancini. Todo mundo conhece ele, menos os brasileiros, porque ninguém fala dele no Brasil”, lamenta. 

Testa acredita que o Brasil ainda investe muito no futebol e se esquece de outros esportes. “São poucos atletas assalariados que só andam de bike. E ainda assim não é um salário bom”, comenta. “Aqui em NZ não é caro, eu consigo sempre andar com uma bike boa e agora com a equipe vai ser mais fácil. No Brasil, tu tem que trabalhar muito ou ter muita grana para comprar uma bike mais ‘top’, que não sai por menos de R$ 70 mil”, complementa. 


Foto: @as_capture

Realização de um sonho

Mesmo trabalhando com marcenaria e carpintaria de segunda a sexta-feira na Nova Zelândia, Testa já consegue vislumbrar seu futuro no ciclismo neozelandês.  “Esse é o meu ‘lifestyle’. Depois de todo esse tempo competindo, posso dizer que é uma coisa que quero levar para o resto da minha vida, que me coloca disciplina, que me faz conhecer pessoas, me traz alguns ossos quebrados, mas também muita felicidade”, afirma. 

Para quem também pensa em competir, o atleta gaúcho deixa o recado: “Tu nunca vai saber se é isso que quer, se não for lá e tentar. Tem muito piloto bom que, na hora de competir, não desenvolve tão bem. Porque a competição envolve muita coisa. Tem que colocar trabalhar em conjunto a tua bike, a tua cabeça e o teu corpo. Tem que saber lidar com a pressão, e isso não é fácil”, reforça.

Analisando tudo que já conquistou até o momento, o gaúcho afirma que se mudar para a Nova Zelândia foi uma das melhores coisas que já fez em sua vida. “Poder viver algo diferente e competir aqui está sendo a realização de um sonho”, finaliza.