Globalização: progresso ou retrocesso pós-coronavírus? 


 

Nas últimas três décadas, a globalização intensificou-se através da integração e interdependência entre os países. Muito antes da pandemia, o mundo dos negócios internacionais já seguia o “Efeito Borboleta”, parte da Teoria do Caos, de Edward Lorenz (1963), segundo a qual o “bater de asas de uma borboleta pode desencadear um tufão do outro lado do mundo”. 

O surgimento e propagação global do Coronavírus é incomparável a um simples bater de asas, pois é sério, grave e preocupante demais, desencadeando dois medos genuínos nas pessoas: temor quanto à vida e quanto à miséria. Encontrar ações e decisões rápidas e assertivas nesse contexto caótico não é tarefa fácil. 

Nós, cidadãos, empresas, governos e países, estamos enfrentando profundas transformações. O uso de videoconferências, trabalho home office, aumento do e-commerce e dos serviços de delivery são apenas alguns exemplos. De forma mais lenta, porém inevitável, vislumbram-se mudanças profundas e estruturais na dinâmica da globalização e do comércio internacional.

Neste momento, a pandemia expõe a dependência global em relação à China e, com o Brasil, isso não é diferente. Conforme o MDIC, em 2019, a China comprou 28,1% do total exportado pelo Brasil (U$ 63,4 bilhões) e ela foi a origem de 19,9% de nossas importações (U$ 35,3 bilhões). A China não é apenas a ‘fábrica’ do mundo, mas, no nosso caso e de muitos outros países, é o principal comprador. Praticamente um a cada três dólares que vêm para o Brasil, de suas exportações, é chinês; e a dependência de insumos chineses contribuiu para a desaceleração fabril aqui. Segundo dados do MDIC, no primeiro quadrimestre deste ano, as importações provenientes da China caíram 7,3% em comparação ao mesmo período de 2019, enquanto que nossas exportações para lá tiveram um expressivo crescimento (10,9%), puxado pela alta nas exportações de soja. Tal resultado é um alento às contas externas, ainda mais porque nossas vendas para os EUA – segundo maior parceiro – caíram 24,1% de janeiro a abril.


 

Pela importância econômica e comercial, não é cabível sentimentos e ações ‘anti-China’, as quais têm se proliferado ao redor do mundo e que, a nosso ver, seria um retrocesso para a globalização. Por outro lado, fica evidente que a dependência em relação ao comércio exterior chinês não é saudável para o mundo. E, num cenário futuro, vislumbramse grandes oportunidades para realinhamento e progresso da globalização, na medida em que as nações estreitem relacionamento e integração com outros países. Nesse contexto, cabe ao Brasil assumir seu protagonismo na América do Sul, inserir-se na cadeia de produção das Américas, voltado ao mercado dos EUA, e expandir as negociações com a União Europeia via Mercosul.

Em meio ao caos, fica apenas a certeza de que o mundo vai ser diferente, e nele o sucesso pessoal e corporativo dependerá de planejamento, organização e, acima de tudo, da busca pelo conhecimento. 

Simone Fonseca de Andrade Klein é Mestre em Administração pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), possui MBA em Comércio e Relações Internacionais pela UCS (2007), graduação em Comunicação Social Jornalismo pela UCS (2006) e graduação em Administração de Empresas – Comércio Exterior pela UCS (2009). Atualmente, é professora nos cursos de Graduação em Administração de Empresas e de Comércio Internacional, respondendo pela coordenação deste último junto ao CARVI/UCS. Tem experiência nas áreas de Comunicação, Administração e Comércio Exterior, com ênfase em Câmbio.

Rosimeri Machado possui Bacharelado em Administração pela Universidade de Caxias do Sul – UCS (2002), MBA Internacional pela FGV e Ohio University (2005/2006) e mestrado em Administração pela UCS (2012). Atualmente, é Professora da UCS e Consultora de empresas na área de Negócios Internacionais. Tem experiência na área de Administração e Comércio Internacional, com ênfase em Importação e Exportação.