Governo Lula avalia criar sistema próprio de GPS para o Brasil
Governo brasileiro vai estudar um sistema nacional para reduzir a dependência do GPS dos EUA

O governo brasileiro formou um grupo técnico para avaliar se o país deve desenvolver seu próprio sistema de geolocalização por satélite. A medida busca reduzir a dependência tecnológica de sistemas estrangeiros, como o GPS norte-americano, e fortalecer a soberania em áreas estratégicas.
A Resolução nº 33, assinada pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), Marcos Antonio Amaro, criou o grupo em julho. Em até 180 dias, os especialistas devem apresentar um relatório com diagnóstico, viabilidade e propostas. O grupo reúne órgãos federais, Força Aérea, a Agência Espacial Brasileira (AEB) e representantes da indústria aeroespacial.
Segundo Rodrigo Leonardi, da AEB, o grupo vai mapear custos, gargalos e benefícios de um sistema próprio — seja ele regional ou global. Ele admite a alta complexidade e o custo elevado, mas destaca a importância estratégica de o país ter autonomia em posicionamento, navegação e tempo.
O debate ganhou força após rumores nas redes sociais sobre a possibilidade de os EUA cortarem o sinal do GPS em caso de tensões comerciais. Leonardi nega relação entre esses boatos e a criação do grupo. Apesar das especulações, especialistas consideram essa hipótese altamente improvável, já que a restrição do sinal prejudicaria empresas norte-americanas que operam no Brasil, afetaria países vizinhos e poderia gerar impactos negativos para a aviação civil e nas relações comerciais internacionais. Além disso, há alternativas globais ao GPS, como o Glonass (Rússia), o Galileo (União Europeia) e o BeiDou (China).
Esses sistemas fazem parte do chamado GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite), um conjunto de constelações de satélites utilizados em todo o mundo para fornecer posicionamento, navegação e temporização com precisão. O GPS, operado pelos Estados Unidos, é apenas uma dessas constelações disponíveis atualmente.
O professor Geovany Borges, da Universidade de Brasília (UnB), lembra que celulares e sistemas modernos já usam múltiplas constelações. Ou seja, mesmo sem o GPS, muitos serviços funcionariam normalmente. Ainda assim, ele defende o investimento em tecnologia própria. A geolocalização, segundo ele, é um campo estratégico que impacta defesa, indústria, agricultura e até medicina. Segundo Borges, o Brasil tem mão de obra qualificada, mas esbarra na falta de recursos e na dependência de componentes importados. Ele destaca que o projeto só terá sucesso se for tratado como política de Estado, com investimento em microeletrônica e educação básica.