Haitiano cria projeto para ajudar imigrantes
Quando o haitiano Widmayer Napoleon chegou a Bento Gonçalves, há dois anos e meio, as dificuldades foram imensas: ele não falava português, não tinha dinheiro, não conseguia emprego, tampouco moradia. Mas não eram somente as necessidades básicas de sobrevivência que atormentavam sua vida: as informações em relação à burocracia para alugar uma casa, as leis locais, a troca de dinheiro no câmbio e as inclusões nos projetos sociais e educacionais não chegavam até ele e nem aos inúmeros conterrâneos dele que desembarcaram na Capital Brasileira da Uva e do Vinho.
Hoje estabilizado, com emprego fixo, moradia garantida e formação como Técnico em Administração, o jovem, de apenas 24 anos, tenta dar suporte aos imigrantes que chegam à cidade todos os meses. Através da disciplina Estratégias e Projetos, do curso Técnico em Administração da Faculdade de Tecnologia (Ftec), do qual é aluno, Widmayer desenvolveu o projeto “Casa Misturada – Serviços de Comunicação, Assessoria e Educação”, que visa prestar serviços e melhorar o atendimento aos imigrantes, principalmente haitianos e africanos.
A educação é a base do projeto. O haitiano quer proporcionar cursos de Língua Portuguesa, Cultura Brasileira e Relações Interpessoais, além de prestar assessoria na questão de documentações, câmbio e serviço de comunicação via Skype e ajudar na busca de emprego e moradia para os imigrantes.
Embora não haja um número oficial, Widmayer estima que pelo menos 1.500 imigrantes estejam instalados hoje em Bento Gonçalves. A maioria deles ainda não tem ocupação e busca ajuda com conterrâneos já estabilizados na cidade. Culturalmente, os haitianos têm por hábito ajudar-se entre si. “Muitos são oriundos de famílias pobres e buscam uma oportunidade de vida melhor na Serra Gaúcha. Então, procuramos recebê-los e ajudá-los”, explica.
Embora esteja bem encaminhado, o projeto de Widmayer depende de recursos. Primeiramente, ele está à procura de um local para servir como sede e também precisa de, no mínimo, R$ 10 mil para investimentos em computadores e impressoras, material de escritório e também para o pagamento de despesas fixas, como luz, água e aluguel, pelo menos nos primeiros três meses de funcionamento. “Precisaria de apoiadores e patrocinadores para que sejamos uma referência em atendimento aos imigrantes”, esclarece. Na última segunda-feira, dia 21, o estudante foi recebido na prefeitura, onde recebeu a promessa de que o assunto seria encaminhado para discussão.
De acordo com Widmayer, são diversas as dúvidas e problemas enfrentados por haitianos e africanos. Um exemplo é uma agressão que a irmã dele sofreu recentemente, feita por um conterrâneo. O agressor não sabia que poderia ser preso e enquadrado na Lei Maria da Penha, pois no seu país de origem não existem leis específicas que protegem as mulheres. “Fizemos o registro na delegacia e estamos aguardando o que acontecerá com ele”, conta.
Outra iniciativa de Widmayer foi a criação de um “Guia do Trabalhador para Imigrantes”. No material, escrito em português e francês, há explicações sobre todas as leis trabalhistas e os direitos do empregado, como licença-maternidade, seguro-desemprego, vale-refeição, FGTS, salário mínimo, entre outros. “Buscamos mostrar os direitos de cada um para que ninguém seja explorado. Afinal, muitos não conhecem a moeda do Brasil e não sabem quanto devem ganhar em determinado trabalho”, explica. Segundo o estudante, a maioria dos imigrantes empregados atua em frigoríficos e indústrias de móveis.
De acordo com Widmayer, embora muitos imigrantes não possuam documentação necessária para estar no Brasil, todos merecem amparo. “Os haitianos e africanos chegam até aqui em busca de dignidade e uma vida melhor. Sonham em ajudar suas famílias que vivem em situação precária no país de origem. E não queremos deixar ninguém desamparado”, esclarece. O próprio estudante economiza boa parte do seu salário – hoje ele trabalha no Senai/Cetemo – e envia para seus pais e para os cinco irmãos.
Audiência pública
A Justiça Federal de Bento Gonçalves promove no próximo dia 2 uma audiência pública voltada a imigrantes haitianos, ganeses e senegaleses. Com o apoio de tradutores, os estrangeiros poderão expor suas demandas e receber orientações. O evento acontece às 10h, na sede do órgão (rua 13 de Maio, 310, Centro). Interessados podem participar pessoalmente ou pelo e-mail rsbgocejus@jfrs.gov.br. Serão recebidas correspondências também em francês. Informações pelo telefone (54) 3455 3602, de segunda a sexta-feira, das 13h às 18h.
Reportagem: Raquel Konrad
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