Hipocondria: será que eu tenho?

A palavra “hipocondria” vem dos radicais de origem grega “hipo”, que significa embaixo, e “condros”, costela. Originalmente, considerava-se que esta região do abdômen era origem de uma série de males, do mau funcionamento intestinal à melancolia. Posteriormente, hipocondria passou a definir aqueles quadros nos quais os pacientes apresentavam uma preocupação excessiva com a possibilidade de estar ou ficar doentes.

Tipos de hipocondria

Na quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Americana de Psiquiatria, foram definidos dois quadros distintos que caberiam no conceito de hipocondria: o Transtorno de Sintomas Somáticos e o Transtorno de Ansiedade de Doenças. O primeiro  refere-se a pessoas que apresentam um ou mais sintomas físicos que trazem sofrimento ou dificuldades significativas para o dia a dia do paciente. Ocorrem pensamentos desproporcionais sobre a gravidade dos sintomas, um alto nível de ansiedade acerca da saúde ou, ainda, a pessoa dispende tempo e energia excessivos aos sintomas ou às suas preocupações com a saúde.

Como exemplo, é possível citar alguém que tenha dores abdominais e que, apesar de lhe ter sido garantido que não há nenhum problema clinicamente grave como causa, se preocupa o tempo inteiro com a possibilidade. Não há uma negação do sofrimento da pessoa, que é real, mas o diagnóstico é feito a partir do excesso de preocupação com um risco que já foi descartado.

Outra possibilidade é de alguém que o tempo todo vá aos médicos por uma série de sintomas sem maior relevância, como pequenos e eventuais aumentos da frequência cardíaca, uma ligeira tontura quando está deitada e levanta-se rapidamente, uma leve falta de apetite etc. Uma das características exigidas para o diagnóstico é uma duração prolongada das queixas, por volta de, pelo menos, seis meses. Assim, o que caracteriza esses quadros não é a ausência de uma causa física – que pode, inclusive, estar presente –, mas, sim, a preocupação excessiva. Este tipo de hipocondria é responsável por cerca de 75% dos casos.

O segundo tipo, o Transtorno de Ansiedade de Doenças, é semelhante, com a diferença de que há um grande predomínio da preocupação, havendo ausência de sintomas somáticos ou, se houver, são apenas leves.

Incidência

Tais transtornos ocorrem em várias culturas e o excesso de preocupação com a saúde e sintomas de doenças é semelhante em todas. O que varia, entretanto, é a forma como se manifestam e são descritos. Em culturas onde as queixas mentais são menos valorizadas, as queixas físicas podem ser mais frequentes. Há descrições específicas mais presentes em alguns grupos, tais como queimação na cabeça ou sensação de peso no corpo. No Brasil, em algumas regiões, fala-se muito em “gastura”, que pode significar desde dores até a sensação de estômago empachado.

Não se sabe ao certo qual o número de pessoas com esse tipo de problema. As estatísticas variam em torno de 5% a 7% para o Transtorno de Sintomas Somáticos e de 1,3% a 13% para o Transtorno de Ansiedade de Doenças. Eles são vistos com mais frequência em prontos-socorros e ambulatórios clínicos do que nos psiquiátricos, porque os pacientes e, muitas vezes, os próprios médicos, não se dão conta da natureza da queixa.

Por outro lado, o fato de, com frequência, não se encontrar uma causa física ou de a queixa ser desproporcional à causa gera a tendência de os médicos se comportarem de forma preconceituosa, o que é errado, pois o sofrimento é real e deve ser foco de tratamento – feito por psiquiatras e psicólogos, preferencialmente.

Tratamento

Não existem tratamentos específicos para as hipocondrias, porém, são usados antidepressivos, medicações ansiolíticas (tranquilizantes), estabilizadores de humor e medicações para dores crônicas. Um componente muito importante são as psicoterapias, que podem conduzidas de forma individual ou em grupo. Também se considera que, se as condições ocorrerem exclusivamente no contexto de depressões ou quadros ansiosos graves, podem ser consequência destes e desaparecem com seu tratamento.

Na psicoterapia cognitivo-comportamental, por exemplo, ao mesmo tempo em que se pesquisam as circunstâncias de aparecimento, de piora e de melhora dos sintomas, procura-se ajudar a pessoa a prevenir e a enfrentar tais circunstâncias, lidando com elas de modo que sua vida não seja tão prejudicada. Além disso, é essencial modificar os pensamentos, de modo que o excesso de preocupação diminua.

Reportagem: Ivan Mario Braun 
Portal Minha Vida


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