O ano de 2020 foi marcado por dados desanimadores em quase todas as esferas sociais. Mas em Bento Gonçalves, há um índice que pode ser comemorado: a redução significativa no número de homicídios. Foram 25 mortes violentas registradas neste ano – 52% a menos daquelas registradas em 2019 e 2018. Nesses dois anos, foram 52 homicídios, o que colocou o município entre as cidades mais violentas do Rio Grande do Sul. “Assim que assumimos o comando do 3º BPAT, iniciamos um trabalho direcionado, principalmente, para reduzir os índices criminais, principalmente os crimes violentos letais intencionais. Focamos em inteligência policial, desenvolvendo estratégias de policiamento e gestão e ainda na integração com a Polícia Civil, PRF e Susepe”, revela o comandante do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º BPAT), Tenente-Coronel Paulo Cesar de Carvalho. “Também é preciso destacar a nova Penitenciária de Bento Gonçalves, que auxiliou muito no trabalho contra o crime organizado”, complementa.
O número de homicídios neste ano é o menor desde 2016, quando foram registradas 26 mortes violentas. Em 2017 foram 34. Fora a redução significativa, as características dos crimes se mantêm as mesmas. De acordo com o comandante, dos 25 assassinatos neste ano, 21 foram execuções, sendo que a maioria das vítimas possuíam ligação ou envolvimento com drogas ou com o tráfico de drogas. Os instrumentos mais utilizados foram armas de fogo, principalmente pistolas.
Outra característica que se repete diz respeito à idade das vítimas. De acordo com dados da Brigada Militar, 46% dos mortos tinham entre 18 e 30 anos, dado semelhante a 2019. De todas as vítimas, a média total é de 28 anos. “Na verdade, a idade segue um padrão nacional, em que vários estudos demonstram que pessoas jovens se envolvem com a criminalidade e são vítimas de homicídios”, explica o comandante. Apenas duas das 24 vítimas eram mulheres.
Comandante do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (BPAT), Tenente-Coronel Paulo Cesar de Carvalho. Foto: Brigada Militar/Divulgação
De acordo com dados apurados pelo SERRANOSSA, mais de 70% das mortes aconteceram em bairros ou locais de maior vulnerabilidade social de Bento Gonçalves. “Um dos pilares de uma boa gestão é trabalhar de forma estratégica, tendo como base a análise dos índices criminais de todos os bairros da cidade, dessa forma, direcionamos o policiamento e operações, tendo sido reforçado o policiamento naqueles locais”, afirma.
Questionado sobre as abordagens policiais, as quais foram criticadas neste ano após a divulgação de alguns vídeos polêmicos, o comandante afirma que toda denúncia contra policiais militares “é apurada de forma imparcial pelo setor de Corregedoria”. “É importante ressaltar que a abordagem policial é uma ferramenta fundamental na prevenção de delitos, que resulta na retirada de criminosos foragidos de circulação, apreensão de drogas, armas e objetos furtados. Deste modo é importante que todo cidadão reaja de forma natural a uma abordagem, pois é parte essencial do nosso trabalho”, complementa.
Resultado das investigações
De acordo com dados da 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) de Bento Gonçalves, responsável pela investigação da maioria dos casos de homicídios registrados neste ano no município, 12 pessoas já foram indiciadas – cinco em homicídios consumados e sete em tentados. O número leva em consideração 31 homicídios, entre tentados e consumados. Além disso, oito inquéritos policiais já foram remetidos ao Poder Judiciário e 23 seguem em andamento.
“A Brigada Militar atua 24 horas por dia, 365 dias por ano. Nosso trabalho não para, buscando de forma contínua que a população possa se sentir segura no lugar em que vive e reprimindo o crime organizado. Sabemos que a criminalidade diminui, mas não deixa de existir, por isso vamos continuar atuando de forma firme, estratégica e permanente contra a criminalidade, ressaltando a importância que a comunidade tem nessa missão, pois ela contribui muito para o trabalho da polícia, no momento que registra suas ocorrências e denuncia fatos e ações suspeitas”, finaliza o comandante do 3º BPAT.
Os casos já elucidados
Ezequiel Barreto Ribeiro
No dia 09/04 a Polícia Civil de Bento Gonçalves, por meio da 1ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves, remeteu ao Poder Judiciário o inquérito policial indiciando o autor do assassinato cometido em fevereiro, no bairro Zatt. Ezequiel Barreto Ribeiro, de 25 anos, foi morto a tiros na rua João Domingos Polli. Ele chegou a ser socorrido por familiares e encaminhado ao Hospital Tacchini, mas não resistiu aos ferimentos.
De acordo com a delegada Maria Isabel Zerman Machado, o autor dos disparos, de 20 anos, já possuía antecedentes policiais por homicídio, porte de arma e tráfico de drogas. Ele está sendo indiciado por homicídio qualificado, por utilizar recursos que dificultaram a defesa da vítima. Ainda segundo a delegada, ele teve a prisão preventiva decretada, mas foi revogada pelo Poder Judiciário recentemente. Atualmente, ele continua preso preventivamente em relação a outro processo.
Bruno Alves
O autor dos disparos que tiraram a vida do jovem Bruno Alves, de 20 anos, se apresentou à Polícia Civil um dia após o crime. O fato aconteceu na noite de 23/02, na rua João Fedrigo, bairro São João, após uma desavença entre vizinhos. De acordo com a delegada Maria Isabel, o responsável pelos disparos tem cerca de 50 anos e era vizinho da vítima. Além de Bruno, o pai dele, de 43 anos, também foi atingido pelos disparos. O autor dos disparos está respondendo em liberdade pelo crime, devido ao fato de não possuir antecedentes criminais, ter endereço fixo e trabalho.
Sérgio Szczepanik
Na noite de 01/04, Sérgio Szczepanik, de 51 anos, foi encontrado morto em uma residência no bairro Fátima, após policiais militares terem se deslocado até o endereço para atender a uma ocorrência de violência doméstica. Na ocasião, a companheira da vítima, de 53 anos, havia informado às autoridades que o homem teria se matado. Entretanto, segundo o delegado Álvaro Pacheco Becker, a informação foi contestada pelo médico legista do Instituto Médico Legal (IML) e o caso passou a ser investigado pela 2ª DP. A mulher foi indiciada por homicídio, mas está respondendo em liberdade.
Luís Fernando Zilli e Reni Alves da Silva
Dois homens acusados de tráfico de drogas foram mortos em um confronto com a Brigada Militar no dia 15/05, na localidade do KM2, linha Passo Velho, interior de Bento Gonçalves. De acordo com o 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º BPAT), durante patrulhamento de rotina, a guarnição da Força Tática deparou-se com os dois indivíduos, que estavam armados com uma pistola e um revólver e carregavam grande quantidade de drogas. Ainda segundo a BM, eles desobedeceram ao comando de abordagem e atiraram contra a guarnição. Os policiais reagiram e os dois homens foram mortos.
Eles foram identificados como Luís Fernando Zilli, 39 anos, e Reni Alves da Silva, de 40. Zilli tinha antecedentes por lesão corporal, furto, posse de drogas, tráfico e porte de arma. Já Reni era tido como um dos principais líderes da facção criminosa “Os Abertos”. Com diversos antecedentes graves, incluindo 4 homicídios. Ele havia sido preso em setembro do ano passado, junto com outras quatro pessoas em uma operação que apreendeu drogas, armas, munições, câmeras de videomonitoramento e dois veículos. Entretanto, acabou solto pela Justiça.
Vantoir Oliveira dos Santos
No dia 29/07, Vantoir Oliveira dos Santos, de 38 anos, foi morto a tiros em um mercado localizado na avenida São Roque. Seu irmão, Valdemir Oliveira dos Santos, de 34 anos, também foi baleado e precisou ser encaminhado por um familiar ao Hospital Tacchini. Ele é o proprietário do estabelecimento.
De acordo com a Polícia Civil, a 1ª DP está trabalhando com uma suspeita de autoria, mas o nome ainda não pode ser divulgado/confirmado. “Ao que tudo indica o fato é decorrência da disputa por território entre facções criminosas”, afirma o delegado Marcelo Ferrugem, que está respondendo pela delegacia.
Felipe Martins Garcia
Com apenas 6 anos, Felipe Martins Garcia foi morto a tiros no dia 02/03, depois que dois homens encapuzados invadiram o apartamento onde ele morava com os pais, no Residencial Novo Futuro, bairro Ouro Verde. A criança e o pai, de 28 anos de idade, ficaram feridas e foram encaminhadas para o Hospital Tacchini. Felipe não resistiu.
De acordo com a Polícia Civil, o inquérito que apurou o homicídio de Felipe foi encaminhado à Polícia Judiciária (PJ) em maio, indiciando três homens pelo crime. Entretanto, os nomes ainda não foram divulgados.