Idosos e imunossuprimidos vacinados há mais tempo apresentaram maior risco de internação e óbitos em Bento

Foto: Júlia Milani/SERRANOSSA

Alerta é feito pela infectologista Nicole Golin para reforçar a importância da terceira dose nesse público, que tem registrado baixa procura nos postos de saúde

A secretaria de Saúde de Bento Gonçalves iniciou a aplicação da dose reforço da vacina contra a COVID-19 no dia 15/09 e, desde então, 3.712 pessoas foram imunizadas com essa terceira dose – 2.051 idosos, 1.568 profissionais da saúde e 93 pessoas imunossuprimidas, que são os grupos passíveis de recebimento da dose reforço, conforme indicação do Ministério da Saúde. A atualização foi repassada na segunda-feira, 18/10, pela secretaria municipal de Saúde.

Apesar da pasta avaliar essa nova fase com bons olhos, afirmando estar havendo uma boa adesão do público-alvo, os números representam um percentual pequeno em relação ao total de vacinados com as duas doses que já poderiam receber a dose reforço em Bento. Conforme o painel de monitoramento da vacinação de Bento, cerca de 40 mil idosos já estão vacinados no município (o número reúne aquelas com a primeira dose, dose única e segunda dose). Já os profissionais da saúde somam 4.198 com o esquema vacinal completo. Em relação aos imunossuprimidos, a secretaria não possui um levantamento específico de quantos já estariam vacinados com as duas doses ou dose única, mas as pessoas com comorbidades – o que inclui algumas pessoas imunossuprimidas – somam 3.950 com o esquema vacinal completo.

“Infelizmente, muitas pessoas acreditam em fake news e nos movimentos antivacina. Nesses momentos, em que a proteção coletiva é fundamental, percebemos o desserviço desse tipo de discurso para a sociedade”, cita a infectologista do Hospital Tacchini, Nicole Golin, como uma das explicações para a baixa procura registrada em todo o país. “Além disso, alguns podem achar que já têm uma proteção suficiente com uma dose (o que não é verdade), ou que como todos da família estão vacinados, não seria necessário vacinar-se também, o que também não é real”, complementa.

Outro fato que tem levado as pessoas a hesitarem sobre a terceira dose seriam as reações registradas após a vacinação, as quais a infectologista lembra que são “todas leves e autolimitadas”. “É muito importante que as pessoas percam o medo de alguma possível reação pela vacina e realizem a sua imunização como forma de proteção individual e coletiva, o que será primordial para o controle definitivo da pandemia”, ressalta.

Importância da terceira dose

Além do Brasil, a aplicação de uma dose reforço tem sido adotada em diferentes países do mundo, como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Chile e Uruguai. Apesar de alguns especialistas e entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) entenderem que ainda não é hora de aplicar uma dose reforço devido à baixa cobertura vacinal registrada em alguns países, a infectologista Nicole Golin ressalta três fatores que tornam a terceira dose importante no momento atual da pandemia: a disseminação da variante delta; a queda de anticorpos neutralizantes após alguns meses e a fragilidade do sistema imunológico em grupos específicos. “Idosos que foram vacinados há mais tempo começaram a apresentar maior risco de internação e óbito nos últimos meses. Isso mostrou que a imunidade, principalmente para esse grupo, é temporária. Por isso, estudos apontaram a necessidade de uma dose de reforço”, explica. O alerta também é direcionado às pessoas imunossuprimidas: “elas estão até mais suscetíveis que idosos: o nível de anticorpos neutralizantes delas cai muito. Por isso o Ministério da Saúde orienta que elas recebam a terceira dose 28 dias depois da segunda. Para os idosos a orientação é aguardar seis meses”, informa.

Escolha da Pfizer

No país, a única marca aprovada para aplicação da terceira dose é a Pfizer, independentemente da vacina recebida anteriormente. Quanto à escolha do Ministério da Saúde, a infectologista exalta os resultados promissores de estudos que comprovaram os benefícios da “vacinação heteróloga”, ou seja, a combinação de duas vacinas diferentes. “A maioria das vacinas contra a COVID-19 requer duas doses (com exceção da Janssen, feita pela Johnson & Johnson, e da Sputnik Light, da Rússia, que são de apenas uma dose). E, exceto pela Sputnik V, que usa dois componentes diferentes, as demais têm duas doses iguais, o que levou várias nações a pesquisar possíveis combinações”, explica Nicole Golin. “Pesquisas realizadas até agora com algumas vacinas contra a COVID-19 mostraram que trocá-las não somente é possível, como recomendado em muitos casos”, revela.

Terceira dose para outros públicos

Com a comprovação de que a vacina contra a COVID-19 perde a eficácia em pessoas com baixa imunidade ao longo dos meses, estudos vêm analisando a resistência dos anticorpos também nos demais grupos – não considerados de alto risco. “Os cientistas estão buscando determinar qual o nível de anticorpos neutralizantes ou outro marcador imunológico está mais intimamente associado à eficácia das vacinas contra a COVID, bem como o tempo que dura a proteção oferecida pela vacina”, comenta a infectologista.

Mesmo assim, até o momento, ainda não há evidências claras que comprovem a perda da eficácia na população em geral. Dessa forma, Nicole entende que ainda não é momento de mudar o foco da imunização em todo o mundo, que é o de imunizar o maior número possível de pessoas. “É fundamental garantir as duas doses ou a dose única da Janssen em pelo menos 80% da população brasileira, incluindo jovens e adolescentes, ampliando ao máximo a cobertura vacinal, para depois aplicar uma dose adicional a quem está com o esquema vacinal completo”, conclui.