Imama fecha as portas em Bento Gonçalves

No mês em que o Instituto da Mama (Imama) completaria 11 anos em Bento Gonçalves, a entidade anuncia o encerramento das atividades no município. O comunicado, divulgado no último dia 6, revoltou grande parte da comunidade, sobretudo as centenas de mulheres em tratamento contra o câncer de mama que usufruíam dos serviços do instituto. O motivo do fechamento seria a dificuldade encontrada em formalizar parcerias financeiras para manter o funcionamento da entidade. Confira entrevista exclusiva com a coordenadora do Imama em Bento Gonçalves, Andressa Ben.

 
SERRANOSSA – Por que o Imama vai encerrar as atividades em Bento?

Andressa Ben – Há pouco mais de dois anos, nós estamos passamos por uma situação financeira difícil. Trabalhávamos com projetos na busca de recursos, através do Poder Público e do empresariado. Mesmo prestando um serviço em prol da população de Bento, nós não recebíamos auxílio financeiro da prefeitura, que havia apenas cedido uma funcionária. A unidade central do Imama de Porto Alegre, à qual somos vinculados, deixava de investir em projetos lá para investir aqui. Algumas pessoas falavam, inclusive, que nós estávamos devendo, o que não é verdade. Sempre tivemos o Imama bancando as nossas despesas. Então, chegou um momento em que a central de Porto Alegre achou por bem encerrar as atividades no município, principalmente por não haver uma contrapartida do Poder Público. Oferecemos serviços para a comunidade, mas não recebemos para continuar trabalhando.

 
SERRANOSSA – Que serviços eram oferecidos pelo Imama?

Andressa – Trabalhávamos com educação e reabilitação. Na educação, promovíamos palestras e sensibilizações ao autocuidado em toda a Serra Gaúcha. Já a reabilitação ocorria quando a paciente já havia sido diagnosticada e oferecíamos apoio durante e após a doença. Tínhamos tratamento psicológico para pacientes e familiares, grupos terapêuticos que eram conduzidos por duas profissionais, além do grupo de autoajuda, direcionado principalmente a mulheres que perderam todo o cabelo, parte ou toda a mama. Oferecíamos fisioterapia em consultórios parceiros, nutricionista e serviços como empréstimo de perucas, lenços e chapéus, além de uma biblioteca com cerca de 150 volumes e parceria com médicos que encaminhavam exames com descontos especiais.

 
SERRRANOSSA – Quantas mulheres vocês auxiliaram em Bento?

Andressa – Não tenho como precisar quantas foram atendidas em 11 anos de história. Mas, desde que assumi a supervisão desta unidade, há quatro anos, uma média de 35 a 40 mulheres por mês recebiam tratamento. Em relação à educação, esse número é maior e depende da quantidade de palestras e visitações sensibilização que foram feitas, mas, por ano, isso resulta em uma média de 14 mil pessoas atingidas.

 
SERRANOSSA – E o Imama já encerrou definitivamente as atividades?

Andressa – Estamos encerrando. Chamamos as orientadoras de grupos e as pacientes para explicar e comunicar. Tudo será encerrado até o final deste mês.

 
SERRANOSSA – As pacientes do Imama estão sendo encaminhadas para outras entidades?

Andressa – Não, pois não temos conhecimento da existência de outra entidade que trabalhe da mesma forma que o Imama.

 
SERRANOSSA – Vocês receberam recursos financeiros da prefeitura?

Andressa – Nos primeiros anos da entidade em Bento, havia auxílio público. Na verdade, paramos de receber assim que ocorreram as denúncias no final da gestão do ex-prefeito Lunelli. Depois, nunca mais. A atual gestão alegou que a pasta da saúde não libera para outras entidades os recursos que são próprios para hospital e postos de saúde, por exemplo.

 
SERRANOSSA – Depois disso,as despesas foram mantidas apenas com dinheiro do Imama de Porto Alegre?

Andressa – Tínhamos projetos aqui em Bento Gonçalves com algumas empresas, como Todeschini, Cinex, Fetransul, Bertolini, entre outras, mas os valores não chegavam a cobrir nem 50% das despesas da entidade.

 
SERRANOSSA – De quanto o Imama precisaria para manter as portas abertas na cidade?

Andressa – A manutenção administrativa básica por ano é de R$ 60 mil, cerca de R$ 5 mil por mês. Isso sem colocar na soma as diversas iniciativas que gostaríamos de desenvolver na cidade, como os projetos Vitoriosas e Navegantes, que são maravilhosos e que nunca conseguimos implantar aqui. Mas com recursos para se manter, é mais fácil arrecadar dinheiro para um projeto específico.

 
SERRANOSSA – Depois que vocês anunciaram o fim das atividades, alguém procurou a entidade para oferecer ajuda?

Andressa – Não. Isso é bem triste e nem gosto de falar sobre o assunto. Mas é a pura verdade. Fomos procurados somente por pessoas da comunidade. A gente entrou em contato com a prefeitura, para comunicar o fechamento e também buscar uma solução. Conversei com o secretário de Governo, Enio de Paris, que ficou de nos dar uma posição, mas ainda não obtivemos um retorno. O prefeito não pôde nos receber devido aos problemas em relação ao presídio.

 
SERRANOSSA – De alguma forma, você tem esperança que o Imama continue em Bento?

Andressa – Eu acho que esperança não seria a palavra certa. O que eu desejo é que os serviços prestados possam continuar. Porque manter o Imama aberto não é uma decisão minha e sim do conselho administrativo geral da entidade. Por isso, gostaria que os atendimentos continuassem. Inúmeras mulheres irão ficar desamparadas. O Imama era um espaço onde elas podiam trocar ideias, informações sobre diagnóstico, sobre tratamentos, sentimentos, enfim. Essa instituição vai fazer muita falta, principalmente para essas mulheres.

 
SERRANOSSA – Como você se sente, como pessoa e supervisora da entidade, em relação a isso?

Andressa – É muito difícil. Quando recebi a notícia do fechamento, fiquei uma semana de “luto”. Não conseguia reagir. Fiquei pensando nas mulheres que são atendidas. Foi muito triste.

 
SERRANOSSA – E como as pacientes reagiram?

Andressa – Foi um misto de indignação e tristeza. Foi isso que sentimos. Claro que contamos com apoio de profissionais na área de psicologia para ajudar na comunicação, mas mesmo assim não foi fácil. Algumas com raiva, outras muito tristes, pois dependiam desse apoio e amparo para suas vidas. Só tenho a lamentar e torcer para que ocorra algo bom para todas elas.

 
O SERRANOSSA entrou em contato com o secretário de Governo, que afirmou que o município está em tratativas para reverter a situação através de verbas da secretaria de Habitação e Assistência Social. O pronunciamento da prefeitura, segundo ele, deve ocorrer em breve.


É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.