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Impacto da instalação de grandes empreendimentos no Vale dos Vinhedos preocupa empresas e moradores

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Enquanto o Poder Público celebra desenvolvimento da maior rota de vinhos do Brasil, com a chegada de resorts e parque de entretenimento, moradores, entidades e pequenas empresas familiares buscam solução para evitar descaracterização da região e melhorar infraestrutura para receber obras e o aumento do número
de turistas.


Quanto custa o desenvolvimento de uma região? Para os moradores do Vale dos Vinhedos, rota turística reconhecida por ser a primeira do país com indicação geográfica e com selo de Denominação de Origem para produção de vinhos, o preço é incerto. Nos últimos meses, grandes empreendimentos anunciaram sua instalação na região, como os resorts BeWine e Castelos do Vale, e outros estão prestes a serem lançados, como o Gramado Park, um parque que será gerenciado pela mesma empresa que comanda Snowland, em Gramado, e o Rio Star, roda-gigante no Rio de Janeiro.
Se por um lado os investimentos bilionários animam setores da economia e o Poder Público, especialmente com a possibilidade de maior arrecadação para o município e geração de empregos, por outro há um temor de moradores, empreendedores, entidades e ambientalistas com o impacto que grandes corporações podem trazer para uma região conhecida pelo vinho, gastronomia e turismo.

Dois resorts devem ser construídos em meio às videiras do Vale dos Vinhedos e, para o ano que vem, está previsto o lançamento do Gramado Park, parque gerenciado pela mesma empresa que comanda Snowland, em Gramado.

Sandro Valduga, presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), destaca que o Vale é conhecido por seus empreendimentos gerenciados por pessoas ou famílias da rota e que a própria Aprovale, criada em 1996 por cinco produtores donos de vinícolas, sempre teve o objetivo de promover o enoturismo vitivinícola. O fomento do Vale, para Valduga, foi fruto do “trabalho incansável dos moradores, principalmente locais, que fizeram com que as famílias aumentassem suas rendas e, consequentemente, melhorassem sua qualidade de vida”, destaca.
No entanto, o aumento significativo de turistas nos últimos anos começou atrair os olhares de investidores gigantescos com o objetivo de se instalar dentro da área vitivinícola. “Aí vem a preocupação, pois, em um primeiro momento, o Vale dos Vinhedos não teria infraestrutura adequada para suportar esses megaempreendimentos, principalmente em relação a rodovias, sem contar que o número de visitantes poderá triplicar em poucos anos, podendo afetar a qualidade vida de seus moradores, tão almejada durante todos esses anos”, ressalva.
Para ele, o turista que vem para o Vale dos Vinhedos tem como principal objetivo conhecer os vinhos das vinícolas com seus respectivos vinhedos e a região não pode perder esta característica. “Temos certeza de que os órgãos responsáveis pelas aprovações dos projetos de um modo geral têm consciência disso e junto com a comunidade vão fazer a melhor escolha para que o Vale dos Vinhedos não perca sua essência vitivinícola”, pondera.
Dentro da entidade, inclusive, já existe uma mobilização para criar um plano diretor específico do Vale dos Vinhedos. Isso porque, a rota pertence a três municípios diferentes – Bento, Garibaldi e Monte Belo do Sul – e cada um tem sua própria legislação. “O que não queremos é perder espaço de produção de vinhos para condomínios”, reitera.

PODER PÚBLICO
Para o secretário de Turismo de Bento Gonçalves, Rodrigo Parisotto, a chegada de novos empreendimentos ao município é “sempre positiva”, pois rende empregos, renda e oportunidades. “Nos próximos cinco anos, estamos estimando que haja um crescimento de pelo menos 85% na oferta de leitos, e em consequência aumentará o número de turistas. Mas talvez o mais importante não seja apenas o número e sim o aumento nas taxas de permanência, já que os hotéis que estão chegando têm uma proposta de hóspedes fixos. Isso muda também bastante, pois garante um fluxo permanente também durante a semana na cidade”, comemora.
O secretário pontua que o avanço e desenvolvimento da cidade sempre são discutidos. “O plano municipal de turismo é baseado nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da agenda 2030 da ONU e o plano diretor também possui inúmeras regras para a construção e ampliação dos empreendimentos. Bento recém conseguiu a municipalização da ERS-444, principal via do Vale dos Vinhedos, e isso permitirá novos investimentos, manutenções frequentes e novos regramentos para uso próximo à via. Além disso, já há pavimentações que estão sendo planejadas que impactarão as rotas turísticas”, afirma. “O crescimento de Bento Gonçalves tem sido intenso e a prefeitura trabalha para, acima de tudo, garantir o seu desenvolvimento, mas garantir também sua preservação”, assegura.

foto: Marcelo Cedeño

MEIO-AMBIENTE
No entanto, para especialistas, além do impacto visual e cultural que esses megaempreendimentos trazem para o roteiro, as consequências ambientais também serão sentidas. A bióloga Bárbara Zanatta pontua que a remoção da vegetação nativa existente no trajeto do arruamento, atingindo espécies nativas, entre elas exemplar de espécie ameaçada de extinção (Pinheiro-brasileiro), remoção parcial de refúgios naturais de fauna, destruição eventual de ninhos e tocas de animais existentes, além de geração de poeiras e ruídos durante as obras, intensificação de processos erosivos e aumento da superfície impermeável (ruas, acessos) são alguns dos impactos. “Conforme a localização e todos os parâmetros a serem avaliados do Diagnóstico Ambiental, o impacto na área natural é maior ou mais pontual”, avalia.
Segundo ela, uma das principais preocupações é com a fauna. “Já acompanhamos diversos casos de animais silvestres, que chegaram muito antes que nós, sendo resgatados em grandes centros. Isso acontece porque, em prol deste desenvolvimento, eles perdem seus espaços e áreas de refúgios”, explica. Ela também destaca que o aumento de fluxo de pessoas, de veículos, circulação de combustível aliada à alteração natural traz um movimento que, se não cuidado e ponderado, pode afetar toda a comunidade.
Os novos empreendimentos do Vale dos Vinhedos, embora anunciados, prestigiados e comemorados por autoridades municipais ainda estão em processo de avaliação e aprovação. Enquanto isso, o futuro da principal rota do vinho no Brasil seguirá sendo motivo de comemoração em torno das novas oportunidades econômicas e de empregos e também de preocupação para quem passará a ter vizinhos milionários e repletos de visitantes.

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