Impasse no preço mínimo da uva

Uma reunião entre produtores e sindicatos rurais com indústrias e cooperativas, realizada no último dia 17, em Farroupilha, para discutir o preço mínimo pago pelo quilo da uva, acabou sem acordo. Isso porque, enquanto os produtores pedem R$ 0,76, de acordo com o cálculo de custos de produção, a indústria quer pagar R$ 0,67, valor calculado a partir da correção da inflação. No ano passado, o preço foi fixado em R$ 0,57. Para tentar chegar a um acordo, um novo encontro está agendado para o próximo dia 8 de outubro, também em Farroupilha.

De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Inês Fagherazzi, os sindicalistas baixaram a proposta de R$ 0,76 para R$ 0,73, mas, mesmo assim, a indústria não concordou com o valor. “Queremos que cada um ceda um pouco. Baixamos nosso valor e esperamos que eles aumentem o preço deles para que ambas as partes fiquem satisfeitas”, explica. As entidades e produtores tentam sensibilizar a indústria mostrando os altos custos de produção, que cresceram significativamente em um ano, e o elevado número de trabalhadores que estão abandonando o campo. “É preciso valorizar o trabalhador. Muitos estão vendendo suas terras e cortando as parreiras e, nos espaços onde eram plantadas uvas, hoje estão abrigando sítios e chácaras. Isso nos preocupa”, ressalta Inês.

Outra ideia do Sindicato é propor uma união entre indústria e produtores para sensibilizar o governo quanto aos impostos pagos pelas empresas. “Sabemos que mais que 50% do lucro das vinícolas são para pagar impostos. Entendemos que, juntos, podemos tentar diminuir esse número, reivindicando melhores condições tanto para os agricultores quanto para as indústrias”, aposta a presidente.

A Comissão Interestadual da Uva também vai propor que neste ano o aumento seja mais significativo, mas, nos próximos, o preço suba de acordo com a correção da inflação. “Não queremos todos os anos discutir a mesma coisa. É desgastante, pois, muitas vezes, acabamos até trocando ofensas entre os participantes das reuniões. Se chegarmos a um acordo que todos os anos o aumento seja de acordo com a inflação, ficaria bom para todo mundo e, inclusive, as partes podem se preparar antecipadamente com os valores”, sugere a presidente.

Caso o preço mínimo da uva não seja definido na reunião, cabe ao governo federal, através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab,) decidir o valor a ser pago.


Custo de Produção

O levantamento do custo de produção para o quilo da uva comum é feito anualmente pela Comissão Interestadual da Uva, juntamente com os sindicatos. Ele tem por objetivo estipular o custo da produção com base nos gastos para manter os parreirais de uvas comuns e, posteriormente, convertido para um hectare de parreira deste grupo, dividido pela respectiva produtividade. A metodologia inclui uma série de componentes que foram estabelecidos em um formulário de amostragem preenchido junto a 471 produtores de uva. Nesse levantamento há itens como preços de equipamentos e insumos; mão de obra especializada e comum; manutenção de máquinas e equipamentos; combustíveis, lubrificantes e eletricidade; insumos (fertilizantes, adubos e outros defensivos para tratamento do solo); e transporte. Na pesquisa, são inseridos também os custos de implantação do parreiral nos três primeiros anos. Além disso, contam as depreciações das máquinas, equipamentos e ferramentas. Isso resulta em custos fixos e variáveis. O relatório de cada município é encaminhado para a Dieese, que realiza a média entre todos os preços e estabelece o custo de produção.


Reportagem: Raquel Konrad


É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.