Inadimplência e invasões persistem no Novo Futuro

Meses depois de ser inaugurado, em novembro de 2011, o que era para ser um novo lar para 420 famílias, havia se transformado em dor de cabeça para muitos moradores. Com registro de brigas, gritarias, atos de vandalismo e muita sujeira, o Residencial Novo Futuro, no bairro Ouro Verde, estava sendo chamado de “Carandiru”, fazendo referência à Casa de Detenção de São Paulo, famosa penitenciária desativada em 2002. Quase três anos depois, o Novo Futuro tem vivido dias melhores. O SERRANOSSA, que abordou os problemas do residencial em diversas reportagens, retornou ao local nesta semana e conferiu o que mudou e o que ainda precisa ser melhorado na estrutura, nos hábitos e na convivência dos moradores. 

De acordo com o síndico do prédio, Luiz Carlos Jardim, que assumiu a função em setembro do ano passado, apenas um apartamento está desocupado atualmente. No entanto, 30 deles estão em situação irregular, pois foram invadidos – pelo menos cinco casos são de pessoas que não têm ligação nenhuma com os beneficiários. O restante foi provocado pela atitude dos próprios moradores, que fornecem o imóvel para familiares, vizinhos e amigos, o que é proibido perante a lei. “Quanto tu vê, eles já estão lá dentro. Chamamos a polícia, fizemos um BO [Boletim de Ocorrência], mas nem a polícia tira”, desabafa o síndico. 

Os apartamentos, que estão em nome do Fundo de Arrendamento Residentes (FAR), não podem ser vendidos, alugados ou repassados para outras pessoas até que sejam totalmente quitados, em dez anos. Por isso, o síndico do prédio espera que “o verdadeiro dono” solucione estes problemas de invasões. “Se o FAR ou a própria Caixa viessem a cada seis meses aqui conferir a situação de cada apartamento, tudo seria mais fácil. Os que estivessem irregulares teriam que sair. Eles têm força para isso. Nós, enquanto condomínio, não conseguimos”, aponta Luiz, afirmando que, em três anos, apenas em uma oportunidade um representante da Caixa esteve no residencial. 

Isso, aliado à grande inadimplência no pagamento das taxas de condomínio – o que inclui os gastos com água –, motivou a abertura de uma ação na Justiça contra a Caixa Econômica Federal para que a situação seja regularizada e que atitudes contra quem não paga sejam tomadas. “Afinal, o apartamento, até não ser pago, está em nome da FAR. Então, eles que devem buscar esse dinheiro e pagar o que devem ao condomínio”, afirma. De acordo com Luiz, há casos de moradores que nunca pagaram a taxa desde que se mudaram. 


Projetos para crianças e adultos

São diversas as atividades realizadas dentro do Novo Futuro através do Poder Público municipal. Além de serviços como vacinas, atendimento aos idosos e também projetos esportivos para crianças, o local deve receber, em breve, uma biblioteca. De acordo com a secretária municipal de Habitação e Assistência Social, Rosali Faccio Fornazier, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) foi contratada para desenvolver atividades de socialização pós-moradia através da prefeitura, com recursos da Caixa. O desenvolvimento dos projetos começou em novembro de 2013 e segue pelo período de um ano. “Constantemente somos chamados a colaborar e entendemos que é uma comunidade que precisa de práticas sociais voltadas para a pacificação de conflitos e situações sociais”, afirma.


Inadimplência

A falta de pagamento dos boletos de condomínio tem sido a principal dor de cabeça dos administradores. De acordo com o síndico, pelo menos 40% dos moradores não pagam em dia, e pelo menos cinco das famílias nunca pagaram. Hoje, as despesas do prédio giram em torno de R$ 30 mil e incluem água, serviço de portaria e guarda, iluminação das áreas comuns, entre outras despesas, como eventuais obras no local. Uma dívida de mais de R$ 100 mil com a Corsan teve que ser negociada, pois a arrecadação não supria todas as despesas. “Se todos pagassem em dia, conseguiríamos pagar tudo e ainda fazer investimentos nos prédios”, aponta o síndico. A administradora do condomínio, contratada pelo Novo Futuro, está há quatro meses sem receber pelo serviço prestado. Luiz destaca que os moradores inadimplentes estão sendo notificados pela Justiça, mas, mesmo assim, muitos não pagam. “Chegamos a um acordo diante do juiz, mas a maioria cumpre um ou dois meses, e depois não paga mais. Alegam que não tem de onde tirar”, afirma. 

Estrutura 

Problemas de alagamentos nos corredores e mofo na parte interna, apontados por moradores logo que se instalaram no local, foram solucionados pela construtora responsável pela obra. Algumas exceções ainda existem, principalmente nos apartamentos próximos à área verde. Mas, de forma geral, a situação é considerada boa. “A construtora passou tinta antimofo nas paredes, o que amenizou os problemas”, comenta Luiz. 

Gás

Reclamações de que empresas de distribuição de gás não estavam indo até o Residencial Novo Futuro também diminuíram. O condomínio fechou parceria com uma distribuidora que, inclusive, dá desconto aos moradores.

Limpeza nos corredores

Uma das principais reclamações dos moradores em 2012, o lixo deixado nos corredores, também não é mais motivo para queixas. A reportagem constatou que os corredores estão limpos e bem cuidados. “Conversei com os condôminos dizendo que o lixo que atrapalhava eles dentro de casa e também no corredor. Um trabalho de conscientização foi realizado e tem funcionado”, comenta o síndico. Além disso, os moradores chegaram a um acordo e, a cada dois dias, um dos moradores de cada apartamento é responsável pela limpeza do seu andar e das escadas que dão acesso a ele. Além disso, pisos doados pela prefeitura estão sendo instalados em todos os corredores.

Lixo

Em relação ao lixo, ainda persistem dois problemas: um é que, muitas vezes, moradores estão jogando os resíduos pela janela de seu apartamento, principalmente nas unidades próximas à área verde. O outro diz respeito à empresa responsável pelo recolhimento do lixo. De acordo com o síndico, os caminhões param de ré para recolher os lixos e acabam batendo nos contêineres. “A prefeitura trocou alguns, mas ainda temos um quebrado”, aponta. Um ponto positivo é que a maioria dos moradores tem separado o lixo orgânico e reciclável corretamente. 

Brigas e gritaria

Embora muitas vezes seja necessário chamar atenção quanto ao volume de uma música ou por barulho excessivo nos apartamentos, as brigas e a gritaria de antigamente praticamente acabaram, segundo os moradores. “Fizemos um trabalho de conscientização para que eles entendam que é importante conviver bem com o vizinho. E se acontece alguma coisa? Se pegar fogo ou alguém passar mal? É natural chamarmos a pessoa que mora do lado. E eles vão se ver todos os dias por muito tempo. Então, é muito melhor que se deem bem”, fala o síndico.

Área externa

Desde a inauguração, o Novo Futuro perdeu muitos dos seus atrativos devido à ação de vândalos no prédio. O playground foi desativado porque, frequentemente, os brinquedos apareciam quebrados. O chafariz, instalado em uma área de convivência do prédio, também foi desativado após denúncias de que moradores pegavam água no local para utilizar em suas casas. E a quadra de futebol, que faz divisa com uma casa ao lado do condomínio, também foi fechada, pois perturbava o sossego dos vizinhos. Além disso, a limpeza externa, que é feita pelo condomínio a cada 15 ou 20 dias, não é a ideal. Tocos de cigarro, garrafas de bebidas, frutas podres e até restos de lixo são encontrados entre os blocos. Embora o condomínio se esforce para manter limpo, infelizmente, a sujeira “aparece de um dia para outro”, confirma o síndico.

Ocorrências policiais

Denúncias de tráfico de drogas dentro do prédio e de dependentes químicos consumindo drogas em áreas comuns ainda são constantes. No início deste mês, duas pessoas foram presas por tráfico de drogas e outras cinco foram detidas por posse de entorpecentes em uma operação realizada pela Polícia Civil de Bento Gonçalves, dentro do residencial. Na ocasião foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão. A polícia ainda apreendeu uma arma, drogas e um veículo. O síndico do prédio evita falar sobre isso e afirma que em todas as localidades problemas desse tipo são comuns, principalmente em relação ao uso de drogas. “O que peço é que eles fumem em locais longe das crianças e das áreas de circulação”, relata.

Acessibilidade

Atualmente, quatro deficientes físicos residem no local. O que a reportagem percebeu é que a estrutura externa dificulta a locomoção deles. Pedras soltas e calçamento desnivelado são os principais empecilhos para sair dos prédios e do próprio condomínio.


Saiba mais

O Residencial Novo Futuro foi construído através do Programa Minha Casa Minha Vida, financiando pela Caixa Econômica Federal. A inauguração aconteceu no dia 6 de novembro de 2011. O residencial destina-se a famílias em diversas situações, priorizando as que possuem idosos, pessoas com deficiência, que são chefiadas por mulheres e que estavam em situação de risco. A seleção foi feita de acordo com a renda familiar. O empreendimento é composto por 20 prédios, que ocupam uma área de 2,2 hectares. Cada apartamento conta com 44m² de área e possui dois quartos, sala e cozinha, banheiro e área de serviço.

Reportagem: Raquel Konrad


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