Incertezas no futuro do 6° BCom
“Não há motivos para desespero”. Com essa frase o comandante do 6° Batalhão de Comunicações de Bento Gonçalves (6º BCom), tenente-coronel Alexander Eduardo Vicente Ferreira, iniciou a reunião convocada pelos prefeitos da região na última quarta-feira, dia 28. A pauta principal era o decreto publicado no Diário Oficial no último dia 15, que desativa a 6ª Divisão do Exército (DE), localizada em Porto Alegre, à qual o batalhão de Bento é subordinado. A decisão, assinada pela presidente da República Dilma Rousseff, deve mudar o cenário nos próximos dez anos, incluindo uma perda significativa de efetivo, materiais e estrutura do 6° BCom.
Preocupados, os prefeitos da região pretendem buscar nos próximos dias uma reunião em Brasília para tentar revogar a decisão e mostrar a importância do batalhão para a região, tanto para a segurança quanto para a economia, especialmente em Bento Gonçalves.
De acordo com o comandante, que esteve em Brasília para buscar recursos para a cidade e aproveitou para obter maiores explicações sobre o futuro da corporação, não há absolutamente nada definido, embora alguns passos já estejam sendo planejados. “O comando militar do Sul passará a ser comando pela 5ª DE de Curitiba e, com isso, o que pode acontecer é que Bento Gonçalves pode ficar com apenas uma companhia, em vez das três existentes atualmente”, explicou.De acordo com o tenente-coronel, pode acontecer a mudança de uma companhia de comunicações de Bento, a de Montaria, para Cascavel (PR). Com isso, em um curto espaço de tempo – um ano –, cerca de 150 homens seriam transferidos. “Reiterando que isso ainda não está decidido”, pondera. Outra fase, que pode ocorrer em um período de um a cinco anos, é que uma companhia fique em Bento para apoiar uma Brigada em Pelotas (RS). Outra possibilidade é que o comando do batalhão, junto com outra companhia, poderia ser transferido para a 5ª DE, em Curitiba. Essa fase pode demorar até dez anos. “Se esse cenário se confirmar, dentro de dez anos nós teremos em Bento uma subunidade, ou seja, 150 pessoas, incorporando apenas 30 homens por ano, diferente dos 170 que entram hoje anualmente para o 6° Bcom”, explica o comandante. Assim como o 1° Batalhão Ferroviário saiu de Bento em 28 de fevereiro de 1971, quando foi transferido para Lages (SC), o 6° BCom poderia ir para Curitiba.
Embora seja uma restruturação natural do Exército Brasileiro, o fato de o Rio Grande do Sul ter três batalhões – diferente de outros Estados do país – e o grande número de pedidos de dispensa em Bento pode ter influenciado na decisão. “O Exército sabe que em Bento há o maior pedido de dispensas do país, o que denota o desinteresse dos jovens da região pela carreira militar”, disse o comandante, ponderando que esse não foi o motivo principal das mudanças. Em 2014, já existem 90 pedidos de dispensa em Bento, enquanto no país, a média é de 50.
Apesar das dúvidas acerca do futuro do batalhão, o comandante garante que o Exército não sairá de Bento. “O que pode ocorrer é uma diminuição do efetivo até a apenas uma companhia, em vez de um batalhão”, destaca.
O prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, que mobilizou os prefeitos da região para a reunião com o comandante, afirmou que não medirá esforços para que Bento não perca o 6º BCom. e tentará reverter a situação. “Vamos pedir de forma muito sincera, apresentar as consequências que essa decisão do Exército pode ocasionar na região e pedir a revogação desse decreto presidencial”, afirmou Pasin, que pretende buscar forças junto aos ex-combatentes, empresários e líderes da cidade. “Os caminhos foram traçados, não podemos admitir essa trajetória. Vamos pleitear a manutenção da 6ª Divisão sem pensar nas consequências negativas que isso pode ter”, afirmou.
Além de Bento Gonçalves, a área de responsabilidade do Batalhão abrange mais 20 municípios da região. Participaram do encontro os prefeitos de Cotiporã, José Carlos Breda; de Monte Belo, Lirio Turri; de Santa Tereza, Diogo Siqueira; de Carlos Barbosa, Fernando Xavier; de Garibaldi, Antônio Cettolin; de Veranópolis, Carlos Alberto Spanhol; e o vice-prefeito de Vila Flores, Rudimar Peruzzo.
Possíveis consequências
Redução de efetivo militar
Redução de profissionais na cidade (militares, esposas e filhos) e de médicos e dentistas (de 2 passaria para 1)
Impacto na economia local (hoje o 6°BCom paga R$ 2,5 milhões em salários)
Menos segurança
Redução do efetivo de recrutas (de 170 jovens, de 19 municípios, para 30 jovens incorporados por ano)Redução de importância estratégica
Manobra patrimonial
Reportagem: Raquel Konrad
É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.
Siga o SERRANOSSA!
Twitter: @SERRANOSSA
Facebook: Grupo SERRANOSSA
O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.