Infectologista informa que variante Delta é pelo menos 40% mais contagiosa

No último domingo, 27/06, o Ministério da Saúde confirmou a primeira morte decorrente da variante Delta do Coronavírus no Brasil. A vítima foi uma mulher grávida, de 42 anos. Ela veio de uma viagem do Japão para o município de Apuracana, no Norte do Paraná, onde morreu no dia 15/04.
Segundo o ministério, a gestante teve resultado negativo para a COVID-19 no teste de RT-PCR antes de embarcar para o Brasil. No entanto, a vítima começou a apresentar problemas respiratórios no dia 07/04, dois dias depois de chegar ao país. Dessa forma, a paciente refez o teste, com resultado positivo.

Oito dias após a confirmação do diagnóstico, no dia 15/04, a gestante foi internada. Em seguida, passou por uma cesariana de emergência, no dia 18/04. Entretanto, não resistiu às complicações em seu estado de saúde. Nascido com 28 semanas de gestação, o bebê fez o teste para a doença, com resultado negativo.

A paciente morta está na origem do primeiro caso de transmissão comunitária no Paraná da variante delta. Uma idosa de 71 anos foi infectada pela filha, que era amiga da gestante e tinha ido visitá-la.
A idosa já teve alta. Como a filha, que teve contato com a gestante, só fez o teste de antígeno, não foi possível traçar o sequenciamento genético do vírus.

Variantes que preocupam

Conforme a infectologista do Hospital Tacchini Nicole Golin, atualmente no mundo há mais de mil variantes do Coronavírus. Dessas, quase 100 já circulam pelo Brasil. “Muitas dessas linhagens do início da pandemia tinham poucas diferenças entre si. O que mais preocupa agora é a circulação das linhagens de preocupação e a formação de novas mutações”, comenta. Pelo fato de as mutações serem comuns entre os vírus, a Organização Mundial da Saúde monitora mais de perto apenas aquelas consideradas de “preocupação”. Essas se caracterizam por estarem presentes em diversos países e apresentarem aumento da taxa de transmissão, mudança ou aumento da virulência dos sintomas clínicos da doença ou redução da efetividade de medidas de saúde pública. 

A primeira variante de preocupação, conforme a infectologista, foi identificada em setembro do ano passado no Reino Unido. Denominada “alfa”, ela recebeu essa classificação de alerta no dia 18 de dezembro. Estudos evidenciam que essa linhagem apresenta uma taxa de transmissão 30% a 50% maior do que variantes anteriores. 

Entretanto, a infectologista pontua que, no momento, a mutação mais transmissível é a chamada Delta (B.1.617.2), detectada pela primeira vez em outubro de 2020, na Índia. “Estudos estimam que ela é, pelo menos, 40% mais contagiosa do que a variante Alfa (B.1.1.7), que foi identificada no Reino Unido”, informa a infectologista. “A Delta tem se disseminado pelo mundo e já foi encontrada em 74 países, incluindo o Brasil. No Reino Unido, por exemplo, ela é responsável por 90% dos novos casos de COVID-19”, continua. 

A profissional explica que as mutações acontecem por conta de falhas na replicação do material genético do vírus. A maioria não apresenta mudanças significativas em suas características. “No entanto, como essas modificações são aleatórias, algumas cepas podem apresentar taxas de transmissão maiores ou reagirem de forma diferente a medicamentos e imunizantes”, ressalta. 


Foto: Hospital Tacchini
 

Novas cepas em Bento

Em abril, o Hospital Tacchini divulgou a informação de que haviam sido identificadas três linhagens diferentes do Coronavírus entre os pacientes do hospital. Ao todo, quatro casos foram identificados como sendo da linhagem P.1, três como variante P.2 e outros dois como B 1.1.28. 

A última variante, B.1.1.28, identificada inicialmente no Amazonas, teria sido uma das responsáveis pelo agravamento da pandemia neste ano no Brasil. Foi ela que, após mutações, originou a variante P.1, encontrada também no Amazonas, e a P2, descrita pela primeira vez no Rio de Janeiro. Ambas são consideradas “variantes de preocupação”.

“Decidimos enviar as amostras por conta própria, porque passamos a identificar um comportamento diferente na evolução da doença entre os pacientes que procuravam atendimento na instituição. Além de chegarem em maior número, eles também mostraram uma piora muito rápida do quadro de saúde. Isso chamou a atenção e decidimos buscar a identificação dessas cepas para entender melhor como lidar com a doença”, relata a infectologista Nicole Golin. 

Desde então, o hospital afirma que nenhuma nova amostra foi enviada para análise. “Certamente, se enxergarmos a necessidade de recorrer novamente a esse recurso como forma de ajudar nossas equipes a oferecer o melhor tratamento para a comunidade, vamos fazê-lo”, afirma. 

Conforme a secretária de Saúde de Bento, Tatiante Fiorio, o município não envia nenhuma amostra para análise. “Nós encaminhamos nossas amostras para o laboratório central do Estado, o Lacen. É o Estado que define se vai precisar fazer algum rastreamento genético ou algum estudo das amostras de determinada região”, explica. Em fevereiro, por exemplo, foi identificado o primeiro caso da variante P.1, de Manaus, em Gramado. “Naquela situação o Estado entendeu que não precisaria fazer a análise das amostras da região da Serra porque, como já havia sido confirmado um caso aqui, já poderia ter a transmissão na região”, relata. 

Alerta para a população

A infectologista Nicole Golin reforça que as mutações são aleatórias, podendo tornar o vírus mais fraco ou mais resistente. “Por isso, quanto maior a transmissão e o contato, maiores as chances da criação de uma variante mais letal ou imune às vacinas já desenvolvidas, por exemplo. Isso reforça a importância das regras de prevenção contra a COVID-19, sobretudo enquanto não tivermos pelo menos 80% da população vacinada”, pontua.