“Infelizmente fomos avaliados pelos resultados”

Com o usual jeito mineirinho, cortês e paciente, o ex-técnico do Esportivo, Emerson Ávila, atendeu à reportagem do SERRANOSSA horas antes de ser oficialmente anunciada sua demissão. Não escondeu a frustração, mas ao mesmo tempo mostrou-se resignado: “É a cultura do futebol brasileiro”, disse o treinador, que volta a Belo Horizonte com boas lembranças da cidade, porém, com uma marca inédita na carreira: nunca havia sido demitido com apenas cinco jogos oficiais.

Como você recebeu a notícia da demissão?

Surpreso demais. Apesar de a gente esperar de tudo no futebol, eu tenho a plena convicção que aquilo que estava ao meu alcance foi feito. Fizemos um trabalho sério, com bons desempenhos dentro de campo, mas infelizmente fomos avaliados pelos resultados, por vencer ou perder. As pessoas, às vezes, acabam se precipitando ao tomar decisões, mas o clube sabe aquilo que é melhor e pior para ele, então, ao mesmo tempo em que fiquei surpreso, entendo a decisão, porque cada um sabe o que é melhor para seguir em frente.

Você acha que passou por quais fatores a decisão de demiti-lo?

O problema é que o dirigente de futebol, infelizmente, se apavora, olha o time lá embaixo, mal colocado, e já acha que está tudo errado, que tem que trocar. Isso é da cultura. O futebol brasileiro, principalmente, é permeado por vitórias ou derrotas. Na semana passada as pessoas entraram no vestiário falando que o time jogou muito bem, que foi uma pena não ter feito o gol, ter perdido o pênalti. No jogo seguinte a equipe não faz uma boa partida e perde, e muda-se de ideia muito rapidamente.

Até onde é possível chegar com o atual elenco?

Desde o começo eu fui bem claro com a direção, disse que o objetivo tinha que ser modesto. Quando ganhamos o primeiro jogo, eu falei: “Não vamos nos empolgar com uma vitória, tem muita coisa para acontecer”. Assim como, daqui para frente, ainda há muita coisa para acontecer. O Esportivo pode muito bem entrar no grupo dos quatro e passar à fase seguinte da competição, como também pode permanecer onde está, depende muito do que vai ocorrer, o que vão fazer em relação a treinador, jogador, se irão contratar. Depende de uma série de fatores, é difícil a gente prever o que vai acontecer daqui para frente.

Fez falta o atacante de área?

Olha, fez falta sim. Desde o começo a minha ideia era trabalhar no 4-2-3-1, que é um esquema que eu gosto, mas você precisa de alguém que jogue dentro da área, que tenha qualidade para sair. Não posso reclamar de maneira alguma dos nossos atacantes que foram contratados para essa posição, se esforçaram muito, mas são jogadores de características um pouco diferentes das que eu procurava. A gente optou por outra estrutura de jogo, as coisas se encaminharam bem, nosso time ficou com um ataque envolvente… mas cabe à diretoria fazer a análise dela, e a vocês, da imprensa, também.

Você sai de Bento decepcionado?

Não sei se decepcionado é a palavra certa, porque o tempo que passei aqui foi muito bom, gostei muito da cidade, de conhecer esse lado do Brasil, uma parte muito bonita, com lugares maravilhosos. Eu fico triste, aborrecido, porque sou o maior crítico do meu trabalho, quando eu sei que as coisas não estão caminhando bem, que eu estou trabalhando de uma maneira errada, eu mesmo procuro, sem que ninguém me faça nenhum tipo de crítica, tentar encontrar um caminho. Mas tenho a plena certeza que tudo foi muito bem planejado, a pré-temporada foi excelente, tivemos uma série de pequenos problemas estruturais, mas passamos por cima disso e seguimos em frente, abrimos o campeonato com um futebol de qualidade, diferentemente do que as pessoas estão acostumadas a ver no Rio Grande do Sul, um jogo de posse de bola, velocidade, envolvente, enfim, acho que ao mesmo tempo em que deixo alguma coisa aqui, também levo algumas coisas boas para Belo Horizonte.

Já havia sido demitido após tão pouco tempo no cargo?

Não, com cinco jogos não, foi a primeira vez. Mas só tenho a agradecer a oportunidade que foi me dada e a confiança que algumas pessoas tiveram no meu trabalho… vida que segue.

Cinco jogos parece muito pouco para uma avaliação mais criteriosa…

Isso é a cultura do futebol brasileiro e, para mudar, vai ter que acontecer muita coisa no caminho, é algo que já está incutido na cabeça do torcedor. Eu vi isso nitidamente no jogo de domingo, pessoas nervosas, gritando, desesperadas, que time é esse, que não sei o que, então assim: já é uma coisa que vem de berço. Você vai ao estádio hoje e vê um menino de cinco, seis anos, xingando o juiz, o jogador que perdeu o gol, o goleiro que falhou. É uma coisa muito cultural, as pessoas que comandam é que precisam ter mais tranquilidade, agir mais pela razão e não pela emoção. 

 

Reportagem: João Paulo Mileski

 

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