Iniciativa da rede municipal de Bento busca reverter os impactos da pandemia na Educação

De acordo com a secretária de Educação, a administração tem investido pesado na recuperação das crianças que atrasaram a aprendizagem devido à COVID-19

Foto: Rodrigo De Marco

Em 2021, a secretaria municipal de Educação (SMED) de Bento Gonçalves implementou o Centro de Apoio Educacional Especializado, o CMAEE. O espaço é destinado a dar uma atenção especial para os estudantes do município que, por algum motivo, apresentam atraso na aprendizagem. Para ampliar as possibilidades de apoio e os atendimentos, desde o último mês de agosto, o Centro passou a atender em nova sede, na avenida Osvaldo Aranha, bairro Cidade Alta.

Segundo a secretária de Educação de Bento, Adriane Zorzi, embora o serviço de apoio educacional e recuperação de aprendizagem tenha iniciado ainda em 2021, o novo espaço possibilita que todos os objetivos do CMAEE sejam atingidos de forma mais completa, além de aumentar o número de estudantes atendidos.

“O CMAEE segue com os mesmos objetivos de suprir necessidades educacionais específicas, desenvolver as habilidades preditoras da alfabetização, letramento, criatividade e raciocínio lógico, atuando na ampliação das possibilidades de aquisição das competências educacionais esperadas para a faixa etária. A grande diferença é que, com o novo espaço, poderá ser atendido um número maior de escolas e estudantes, ampliando o atendimento também para outras especialidades, em parceria com a secretaria da Saúde, ligadas ao desenvolvimento da aprendizagem, como psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, além das professoras e psicopedagogas”, detalha.

É fato que a pandemia da COVID-19 deixou graves consequências na aprendizagem de crianças e adolescentes. Dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) revelam que a crise sanitária impactou os estudos de mais de 1,5 bilhão de estudantes em 188 países. Em Bento, isso não foi diferente. Mesmo com a implantação de plataformas on-line para evitar a interrupção das aulas, nem todos os estudantes puderam contar com equipamentos adequados ou acesso à internet com qualidade. 

Conforme a secretária Adriane, a atuação do CMAEE é um dos exemplos de iniciativas que buscam a recuperação do tempo perdido pelos estudantes da rede municipal. “As atividades desenvolvidas no CMAEE fazem parte de uma série de ações promovidas pela secretaria de Educação para recuperar a defasagem deixada pela pandemia. Essas iniciativas passam pela aquisição do Sistema de Ensino SET Brasil, pela formação continuada dos professores e pela presença de professor de recuperação da aprendizagem em todas as escolas municipais”, pontua.

Identificação

Para identificar e atender os estudantes que realmente precisam de auxílio, é necessário que professores, auxiliares, escolas e secretaria estejam atentos. Adriane explica que, em 2022, a SMED instalou um monitoramento dos alunos de 1º a 5º ano para verificar o nível de alfabetização de cada um. “Com a parceria das equipes diretivas das escolas municipais, os professores titulares das turmas realizam sondagens e alimentam os dados em uma planilha, que é acompanhada mensalmente pela equipe pedagógica da secretaria. Dessa forma, é possível mensurar a quantidade e a porcentagem de estudantes que se encontram aquém do nível esperado. Esse levantamento serve de instrumento para que as escolas e crianças sejam priorizadas no encaminhamento para o CMAEE”, explica.

Foto: Rodrigo De Marco

Segundo ela, o Centro atende uma parcela muito específica do público e, por isso, é destinado um olhar diferenciado para aqueles estudantes que apresentam as dificuldades, mas não se enquadram no público-alvo de inclusão. “Através de oficinas psicopedagógicas, de matemática e de alfabetização, conseguimos abordar as habilidades fundamentais de uma forma diferente e mais lúdica da que é realizada usualmente nas escolas”, explica.

Integral

Um dos principais debates em nível estadual e nacional e que tem ganhado força durante a campanha eleitoral deste ano são as escolas de tempo integral. Muitos dos candidatos aos cargos do Executivo têm utilizado como tema de campanha a intenção de usar essas instituições para reverter a situação deixada pela pandemia.

Em Bento, atualmente, está em funcionamento apenas uma instituição em tempo integral. É a Escola Municipal em Tempo Integral Professora Nilza Côvolo Kratz, localizada no bairro São Roque. Na época de matrículas, é comum ver uma grande demanda de pais que desejam ter seus filhos estudando no local.

Questionada sobre a ampliação das escolas integrais como alternativa para acelerar o processo de recuperação da aprendizagem, a secretária admite a importância dessas instituições, mas destaca que, se comparados ao que se propõe o CMAEE, os objetivos não são os mesmos. “O município está trabalhando para, em 2023, ampliar a quantidade de turmas que serão atendidas em turno integral nas escolas já existentes no município. A educação de tempo integral é importante para as famílias, embora o CMAEE tenha objetivos diferentes”, ressalta.

Para melhor

Para o prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, a educação da cidade já pode ser vista como de referência. Nessa conquista, ele destaca o papel fundamental dos professores e reconhece a responsabilidade da gestão pública de dar condições que permitam aprimorar o trabalho dos profissionais, como a oferta de qualificação e a ampliação dos espaços. Siqueira também ressaltou que 2022 deve ser visto como uma nova etapa para a educação. “Este é um ano de virada de chave, após um período difícil com a pandemia. Estamos desenvolvendo um trabalho inovador com o material padronizado para os alunos, acompanhamento de dados, centro para apoio educacional e inovação”, afirma.

A secretária também pontua que Bento é um bom exemplo, com bons índices em avaliações, sendo referência estadual nas iniciativas desenvolvidas para a recuperação da aprendizagem e busca ativa. “É possível crescer sempre, pois temos como objetivo melhorar a aprendizagem o desempenho dos alunos nas avaliações externas, como o IDEB [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], além de elevar o tempo de permanência na escola, ampliar o número de vagas e inovar com iniciativas como a implantação de salas maker e projetos de iniciação científica”, conclui.